Indicado de Tarcísio ao TCE-SP esteve em reunião com Bolsonaro sobre urnas eletrônicas em 2022

A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) vai sabatinar, nesta terça-feira (2), Wagner de Campos Rosário, indicado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao Tribunal de Contas do Estado (TCE-SP). Com a maioria dos deputados na base do governo, Rosário ocupará o posto após o conselheiro Antônio Roque Citadini antecipar sua aposentadoria.

Rosário, então ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), foi uma das autoridades presentes na reunião de 5 de julho de 2022 com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros nomes do primeiro escalão do governo. Na ocasião, foi discutido um relatório da CGU que assegurou a confiabilidade das urnas eletrônicas.

No encontro, que foi gravado em vídeo, Rosário disse que o documento estava “horrível”. “Presidente, um ponto importante. Eu recebi o relatório da última fiscalização da CGU, e eu não tive coragem de olhar. Estava horrível, uma merda, não falava nada com nada. Por que que esse relatório não fala nada com nada? Não entendi nada”, afirmou. 

“Eu não entendi nada do relatório. A forma como foi montado não permite uma fiscalização propriamente dita. Vou dar um exemplo: o sistema que faz a segurança da urna está numa linguagem que, na CGU, não tenho nenhum especialista. Mesmo que eu queira auditar, eu não vou conseguir. Ele tem 20 milhões de linhas de programação. São 20 milhões de linhas. Então imagina aí o tempo que a gente necessitaria para auditar isso. Talvez no meio dessas linhas tenha algum tipo de problema”, disse Rosário durante o encontro. 

A despeito das críticas do ex-CGU ao relatório, um trecho do documento informa que não foram encontradas “inconsistências no sistema eletrônico de votação entre as situações previstas e as verificadas pelas equipes” e atesta a segurança das urnas.

A quantidade de 20 milhões de linhas de códigos também foi classificada como comum à linguagem de programação. “Os referidos sistemas são desenvolvidos em diversas linguagens de programação, incluindo linguagens em nível de máquina, totalizando quase 20 milhões de linhas de código”, diz outro trecho do relatório que foi concluído em dezembro de 2022. A existência do parecer, no entanto, só foi descoberta em 2023, já na administração do ministro Vinicius de Carvalho, no governo Lula (PT). 

O vídeo da reunião, na qual se questionou a confiabilidade das urnas, foi utilizado nas investigações da Polícia Federal (PF) sobre a tentativa de golpe de Estado, que desembocou no julgamento de Bolsonaro e outros sete réus no Supremo Tribunal Federal (STF). 

Apoio a Mauro Cid

Além de participar da reunião, Wagner Rosário colaborou com o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, nas investigações sobre as joias sauditas. Segundo apurações, Cid auxiliou o ex-presidente na apropriação indevida dos presentes oferecidos por autoridades da Arábia Saudita, que, pelo alto valor, deveriam integrar o patrimônio da União.

Em mensagens a Mauro Cid, Wagner Rosário solicitou um arquivo com o termo de retenção enviado por Julio Cesar Vieira Gomes, ex-chefe da Receita Federal, que tentou liberar as joias apreendidas no aeroporto de Guarulhos, segundo relatório da PF. Em 7 de março de 2023, Rosário escreveu para Cid: “Cid, bom dia. Me manda aquele arquivo zipado que o Julio mandou!!! O meu apagou”. 

Três semanas depois, Mauro Cid pediu ajuda para responder a um processo na Comissão de Ética da Presidência. “Me mandaram isso do Conselho de Ética. Para ver se estão boas as respostas”, escreveu Cid. Rosário respondeu: “Lendo aqui” e, em seguida, fez duas ligações para Cid.

O Brasil de Fato solicitou posicionamento a Wagner de Campos Rosário sobre os temas abordados na reportagem, mas não houve retorno até a publicação. O espaço segue aberto para manifestações.

Biografia

Wagner Rosário, de 49 anos, é ex-colega de Tarcísio na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), onde cursou Ciências Militares. Também esteve ao lado do governador de São Paulo na Esplanada, onde atuaram, respectivamente, na Infraestrutura e na Controladoria-Geral da União (CGU), durante o governo Bolsonaro.

Natural de Juiz de Fora, em Minas Gerais, Wagner Rosário prestou serviço militar entre 1992 e 2009 e alcançou a patente de capitão. No último ano, ingressou na Controladoria-Geral da União (CGU), na qual foi servidor de carreira do órgão até maio de 2017, quando assumiu a pasta, no governo de Michel Temer. Em fevereiro de 2023, foi nomeado para a Controladoria-Geral do Estado (CGE) por Tarcísio.

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