Lideranças da agroecologia se reuniram com deputados estaduais da oposição para debater alterações na pesquisa do Centro de Referência em Agroecologia (CPRA) promovidas pelo Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar-Emater (IDR-PR). Eles questionam o desmonte do setor que envolve a produção de leite, a agroecologia e a oferta de alimentos orgânicos para a merenda escolar. Diante da situação, os deputados estaduais Luciana Rafagnin (PT) e Professor Lemos (PT) planejam marcar uma reunião com o secretário da Agricultura do Paraná, Márcio Nunes.
Presente na reunião, a engenheira agrônoma e superintendente do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) no Paraná, Leila Klenk, disse que este é um momento de grande preocupação, especialmente em relação à pesquisa em agroecologia. Para ela, a mudança altera o formato da pesquisa, voltando-a para a obtenção de produtos.
“A agroecologia é muito diferente disso. O foco é levar qualidade para o setor. É um momento terrível para a agroecologia. É um momento de desmonte dentro do IDR-PR, principalmente a base da agroecologia”, afirmou.
Uma nota de repúdio e indignação ao desmonte do CPRA, publicada na semana passada, já conta com mais de 1,2 mil assinaturas. O documento aponta os impactos da reestruturação no setor.
“Desmantelar a Estação de Pesquisa em Agroecologia (CPRA-PR) significa comprometer irremediavelmente o futuro da agricultura sustentável no Paraná, promover a descontinuidade de ações estruturantes, como as que promovem a certificação orgânica e o fortalecimento da agricultura de base familiar e agroecológica”, diz a nota.
O texto também alerta que a mudança ignora “significativos avanços já alcançados na promoção da agroecologia em nosso estado e o atendimento de metas públicas como a alimentação orgânica nas escolas estaduais, além de prejudicar milhares de agricultores familiares que dependem diretamente do apoio técnico e da expertise singular do CPRA-PR”.
Prejuízos para o futuro
O Paraná é o estado com mais produtores agroecológicos, maior volume de produção e o maior número de feiras orgânicas do país. Esse cenário, na avaliação do engenheiro agrônomo Marcos Andersen, está ameaçado pela proposta de reestruturação.
“A grande diferença no CPRA é a metodologia empregada. Nela, os agricultores participam ativamente da pesquisa, trazendo problemas e sugerindo soluções. É um processo mais benéfico. Essa alteração, contudo, encerra completamente esse método que beneficia a agroecologia. É extremamente danosa essa proposta do IDR-PR para a pesquisa”, afirma.

Representantes da Câmara de Agroecologia também criticam a mudança no formato de pesquisa, especialmente pela perda de uma abordagem holística. “Tem alimentação orgânica para as escolas e muitas outras modalidades que estão em risco com a mudança”, afirma um representante.
Outro especialista defende a criação de uma Secretaria Especial de Agroecologia no estado. “Como garantir a alimentação 100% orgânica com o desmonte da agroecologia? Temos visto um movimento para esticar isso para 2050”, disse, lembrando que o prazo para universalização da alimentação orgânica nas escolas estaduais é 2030.
IDR-PR nega desmonte da pesquisa em agroecologia

O IDR-PR divulgou uma carta pública negando o desmonte da pesquisa em agroecologia. Segundo o Instituto, as atividades de difusão na Estação, especialmente o projeto Casa da Agroecologia, continuam normalmente, dentro do previsto.
“Desde a criação do IDR-Paraná, em 2019, a missão desta Estação passou a ser a pesquisa ampla em agroecologia, com foco na solução de problemas ou gargalos tecnológicos que impossibilitem um maior crescimento deste sistema de produção”, afirma a carta.
O diretor-presidente do IDR-PR, Natalino Avance de Souza, reforça que o Instituto busca “a valorização da ciência, em parceria com as instituições de pesquisa, universidades e instituições de fomento, com o objetivo de que a agricultura de base agroecológica e a alimentação saudável continuem sendo prioridade”. Segundo ele, o IDR está “aberto ao diálogo e comprometido com ações concretas que façam a diferença na vida de quem produz em harmonia com o meio ambiente”.
Reunião com o Secretário de Agricultura

Diante do impasse, os parlamentares da oposição decidiram buscar uma reunião com o secretário da Agricultura, Márcio Nunes. O encontro será convocado pelo Bloco da Agricultura Familiar e pela Frente Parlamentar da Agricultura Familiar e Segurança Alimentar. A expectativa é também envolver o líder do governo na Assembleia Legislativa, Hussein Bakri (PSD).