
No último mês, tive o privilégio de acompanhar um grupo de alunos em um programa pedagógico na Space Center University – o centro de treinamento da Nasa, em Houston. Sempre me fascinou o senso de exploração de novas fronteiras que caracteriza a nossa espécie.
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A Nasa, agência americana fundada em 1958 e responsável pela pesquisa e desenvolvimento de tecnologias e programas de exploração espacial, é um dos maiores símbolos dessa natureza humana.
Cada aluno e cada educador na missão era um universo a ser descoberto. Dediquei grande parte do meu tempo a aprender com os jovens: o que eles absorviam e o que nos ensinavam.
Visita à Nasa: coragem para enfrentar o desconhecido
Explorar fronteiras inóspitas como o espaço revela a coragem intrínseca ao ser humano. Nosso grupo, composto por vinte alunos entre 11 e 15 anos, representava esse espírito.
Imagine a coragem de uma criança viajando sem os pais pela primeira vez – e a dos próprios pais ao permitir isso. Aprender é, também, um ato de coragem: enfrentar o desconhecido, seja no primeiro dia de aula, na primeira viagem sem a família ou no primeiro passo na Lua.
Observar como cada jovem lida com essas situações é um privilégio para qualquer educador. A coragem deles nos inspira a enfrentar com mais determinação os desafios da educação humanizada e contemporânea.
Inovação que transforma
Ao decidir que levaria o homem à Lua até o final da década de 1960 – não por ser fácil, mas justamente por ser difícil –, John F. Kennedy combinou resolutividade com inovação.
Em um ambiente tão estimulante, nossos alunos foram desafiados a encontrar os códigos certos para mover um módulo lunar ou criar habitats fora da Terra.
Como educador, pude mais uma vez constatar a eficácia das metodologias ativas tanto na aquisição do conhecimento técnico (hard skills) quanto no desenvolvimento das habilidades socioemocionais e colaborativas (soft skills), essenciais para a inovação contínua.
Somos inovadores por natureza; cabe à escola e à família criar ambientes que fomentem essa potência.
Colaboração em tempos de interdependência
A construção da Estação Espacial Internacional marca a transição de uma era de competição para uma de colaboração.
Fundada em 1958, em plena Guerra Fria, a Nasa viu a montagem da ISS começar em 1998, uma década após a queda do Muro de Berlim, e concluir-se em 2011. Estava em órbita um símbolo de uma era mais colaborativa, interconectada e interdependente.
Em Houston, nossos alunos formaram equipes multiculturais, gerenciando projetos que exigiam orçamento, divisão de tarefas, gestão de tempo e apresentação de resultados.
Esse trabalho em equipe fomentou conflitos saudáveis, resolvidos por meio de debate, planejamento, negociação e resolução de problemas.
Assistir aos jovens superando diferenças e entregando projetos nos lembra que nós, adultos, também podemos colaborar mais — e melhor — para realizar nossos sonhos.
Alegria e cuidado com a qualidade de vida
Ao planejar missões de longa duração no espaço, o ser humano precisou se preocupar com a qualidade de vida mesmo em gravidade zero. Diversão e atividades físicas tornaram-se parte do cotidiano espacial — e também do nosso programa.
Caminhadas em parques, visitas ao Space Center e até mesmo um churrasco no início de uma noite planejado pelos alunos foram momentos de integração e aprendizagem.
Cada detalhe foi pensado por eles: orçamento, cardápio, divisão de responsabilidades. O resultado? Trabalho em equipe, liderança (nosso “churrasqueiro” parecia um masterchef) e promoção da saúde física e mental.
Sensibilidade e saúde emocional
Em relação à saúde mental, vivi momentos que ficarão para sempre comigo.
Em um dia particularmente cansativo, me questionei em voz alta no hotel: “Descanso ou vou para a academia?” Um aluno ouviu e disse, com naturalidade: “Vai descansar, professor.”
Ele me lembrava que era preciso ouvir os sinais do corpo. Um lembrete singelo, mas poderoso, da sabedoria que a juventude pode carregar.
Em outra ocasião, um dos mais jovens chorou na van porque queria visitar uma loja em vez de jantar no shopping, como planejado. Disse-lhe que conversaríamos quando ele se acalmasse.
Minutos depois, ele retornou, regulado emocionalmente, e me explicou com lógica o seu plano. Terminou dizendo: “Às vezes é preciso chorar.” E estava certo.
Fomos ao shopping, ele jantou rapidamente e conseguiu comprar seu brinquedo – em um exemplo de como emoções e razão podem caminhar juntas.
A importância das conexões humanas
Até os deslocamentos renderam aprendizagens. Estávamos em duas vans. Em um desses dias, o motorista da van em que eu estava, nos contou que ele e o motorista da outra van se conheciam desde o ensino fundamental.
Foram para a universidade juntos. Foram companheiros de quarto. Jogaram no mesmo time de futebol americano. E hoje são vizinhos e as famílias moram lado a lado.
No dia seguinte, ao presenciar uma situação conflituosa, recitou um poema que havia escrito aos quatorze anos, em um dia triste de sua vida.
Ao nos deixar na Nasa, disse a cada aluno enquanto eles desciam da van: “Don’t be good, be great!” (“Não seja apenas bom, seja excelente!”).
A conquista da Lua não foi uma missão de excelência de apenas três homens, mas de uma equipe imensa, diversa e dedicada. Assim também são nossas vitórias diárias.
A volta
No último café da manhã em Houston, Alan, o motorista, me presenteou com seu poema manuscrito, hoje emoldurado na minha sala. Mas, mais do que isso, trago emolduradas na mente todas as histórias, lembranças e aprendizagens desta experiência.
Sobretudo como o que os jovens nos ensinaram sobre coragem, inovação, colaboração e sensibilidade. Uma missão como essa é, para todos nós – alunos e educadores –, um verdadeiro “gigante passo” para a nossa humanidade.