Importação de lixo é ‘grande retrocesso’ diante do desperdício de materiais no Brasil, critica professor

O Brasil recicla apenas 8% de todos os resíduos sólidos que gera. Apesar disso, o governo federal voltou a permitir a entrada de lixo reciclável estrangeiro em território nacional, uma medida que desagradou catadores e especialistas da área ambiental. Em entrevista ao Conexão BdF, do Brasil de Fato, o geógrafo e professor da USP Wagner Ribeiro afirmou que não faz sentido o país importar resíduos como plástico, vidro e papel, considerando o grande volume desses materiais já disponíveis no país.

“É um retrocesso muito grande porque se trata de permitir o ingresso de materiais que são amplamente encontrados no território brasileiro, que hoje estão sendo desperdiçados. Na verdade, precisamos fortalecer a coleta seletiva, organizar melhor os catadores. Isso é uma forma de gerar riqueza, renda, atividade produtiva e, ao mesmo tempo, melhorar as condições socioambientais”, afirmou o professor.

Ribeiro alertou ainda para os riscos ambientais e sanitários da importação de resíduos, que exigem análises químicas, controle de transporte e cuidados específicos. Para ele, o foco deve estar na industrialização interna e em políticas públicas que incentivem o reaproveitamento de materiais, além do investimento em educação ambiental e estrutura adequada para o descarte correto. “Temos que avançar muito ainda na consciência, isso tem que passar pela educação formal.”

O professor destacou ainda a urgência de rever hábitos de consumo e a necessidade de uma política mais eficaz de descarte. “Separar material significa economizar recursos naturais, economizar energia. Dar um destino adequado ao seu lixo, em casa, contribui também para diminuir o aquecimento global”, ressaltou, citando que países como Alemanha e Japão já adotam sistemas de coleta altamente organizados, com cores específicas para cada tipo de resíduo.

Tragédias climáticas não têm aviso prévio e Brasil precisa se prepararTV Brasil De Fato

Durante a entrevista, Ribeiro também comentou o cenário de tragédias ambientais, como as chuvas extremas que atingiram o Rio Grande do Sul há um ano. Para ele, faltam preparo e investimentos para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas.

“Não estamos preparados para um novo evento extremo. Ainda não conseguimos modelar com precisão quando e com que intensidade esses eventos vão ocorrer. E em todas as cidades brasileiras já existe uma população expressiva em situação de vulnerabilidade; muitas vezes, o evento extremo leva essas pessoas diretamente a situações de risco e isso resulta em perdas materiais significativas ou até mesmo de vidas.”

Na visão do professor, “estamos perdendo tempo”. Ele avalia como urgente que os governos pautem o tema das catástrofes climáticas e, a partir disso, pensem em um novo modelo de urbanização. “Um modelo que alguns já chamam de urbanização climática, ou seja, uma urbanização com justiça socioambiental”, explicou.

Para ouvir e assistir

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.