9 anos depois, festa do 1º de Maio no ABC reúne multidão com shows e pedidos para o fim da escala 6×1

O clima de celebração tomou conta da festa do Dia do Trabalhador em São Bernardo do Campo, cidade do ABC Paulista, um dos berços do sindicalismo brasileiro.

Após nove anos de ausência, a tradicional festa do 1º de Maio, organizada pelos sindicatos da região, reuniu milhares de pessoas para os shows de Tiee, MC Hariel, Pixote e Belo, mas também para se manifestar contra a escala 6×1, a pauta mais citada nas manifestações do Dia do Trabalhador.

A enfermeira Adiana Donato aproveitou o dia de folga ao lado da filha Milena, de 11 anos. Para ela. a festa é importante para valorizar os trabalhadores. “É união, satisfação e melhorias”, disse, desejando “trabalhar menos, ganhar mais”. “É bom ter tempo para poder aproveitar esses dias com a família, esse momento aqui é um deles”, disse.

A reivindicação mais importante da classe, disse, é a da carga horária. “Eu estou até hoje, 20 anos na área da saúde, aguardando a diminuição das horas. Já estou quase aposentando”, diz ela, que trabalha em escala de 12 horas de trabalho por 36 de descanso. Depois de tanto tempo, ela afirma sentir no corpo o peso dos anos cumprindo essa jornada. “A saúde, a coluna… Gasto agora com medicação até umas horas”, lamentou, no momento em que foi interrompida pela filha. “Ela quase não me via”, disse Milena.

A garota aguardava a apresentação de Mc Hariel, que entrou no palco sob os gritos das crianças e adolescentes que lotaram o espaço e se emocionaram com a apresentação.

Já os adultos foram contemplados com clássicos do pagode anos 90, embalados pelo grupo Pixote e pela apresentação do cantor Belo, que encerrou a festividade. Para ver o ex-vocalista do Soweto, a autônoma Bruna Alves viajou de São Vicente, na Baixada Santista, até São Bernardo.

“É a minha paixão desde pequena”, disse Alves, que considera o tema da redução da jornada de trabalho o mais relevante dentre as discussões do 1º de maio. “Em prol dos trabalhadores que dão o sangue para trabalhar”, destacou.

Érika Pego também aguardava pelo show do Belo. Funcionária do setor de logística, ela celebrou a volta da festa, que já frequentava em outros anos. “É o único dia que a gente tem para se divertir, numa folga boa, a gente pode curtir os artistas grátis e o momento com toda família aqui também”, afirmou.

‘Nos ajudem no fim da escala 6 por 1’

“Desde o século 19 essa pauta tem sido perseguida”, disse vice-presidente do Sindicato dos Bancários do ABC, Gheorge Vitti, sobre a redução da jornada de trabalho. No palco, ele lembrou que a origem do Dia dos Trabalhadores remonta a uma greve em Chicago, no Estados Unidos, que demandava também a redução das horas trabalhadas. “A data nasce em 1886, no século 19, numa greve organizada por trabalhadores em Chicago. Pessoas que foram mortas e a pauta era o quê? Redução de jornada de trabalho”, afirmou. Vitti ressaltou que os bancários já têm jornada menor que outras categorias, e que justamente por isso apoiam que o mesmo aconteça em todos os setores.

“Nós como bancários, conquistamos em 1962 uma jornada de 6 horas, mas a gente quer estar junto com vocês, porque não adianta o bancário estar bacana se as outras categorias também não estiverem”.

Para José Evandro Alves da Silva, presidente do Sindicato dos Químicos do ABC, a redução da jornada de trabalho é fundamental para o país e para o bem-estar da classe trabalhadora. “Os trabalhadores merecem trabalhar menos, os trabalhadores merecem poder estudar mais, ter cultura e ter lazer”, disse.

O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) Nacional, Sérgio Nobre, lembrou que neste ano a celebração do 1º de Maio no Brasil completa 100 anos. Ele pediu o engajamento político dos trabalhadores para o fim da escala 6×1. “Nos ajudem no fim da escala 6 por 1, que é uma jornada injusta. Liguem para os seus deputados, para os seus senadores, para que eles nos ajudem no Congresso Nacional a acabar com essa jornada que é extenuante, é como se fosse uma escravidão”, pediu para a multidão.

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