Federação MDB-Republicanos: solução nacional, turbulência capixaba

Ricardo Ferraço e Lorenzo Pazolini

Após o anúncio da federação entre União Brasil e PP e da fusão entre PSDB e Podemos, os olhos do mercado político se voltam para as tratativas entre o MDB e o Republicanos, que avançam para também fechar uma federação, válida já para as eleições do ano que vem.

Na última terça-feira (06), o presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira, publicou em seu perfil do Instagram o segundo encontro que teve com o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, sobre o tema.

“Voltei a me reunir com o colega Baleia Rossi, presidente nacional do MDB, para dar continuidade às conversas sobre uma possível federação entre o Republicanos e o partido que ele lidera. Este é o nosso segundo encontro, não por acaso, mas porque compartilhamos propostas importantes para o Brasil e uma visão comum de compromisso com a boa política”, escreveu Pereira.

Ainda não tem nada fechado e nem previsão para que uma decisão seja anunciada, mas com a cláusula de barreira pressionando os partidos e grandes bancadas sendo formadas – a federação entre União e PP, a “União Progressista”, terá o maior número de deputados federais: 109 –, a única saída para que partidos de médio porte tenham influência no jogo político é se juntando a outros, seja por meio da fusão ou da federação.

MDB é um partido de centro e o Republicanos, de direita. MDB é mais liberal e o Republicanos, conservador. Porém, as diferenças ideológicas não devem impedir um possível casamento entre eles. A decisão será pragmática.

Com a federação, MDB e Republicanos vão somar 88 deputados federais – hoje, cada um tem 44. Isso significa uma fatia maior no bolo dos recursos partidários e no tempo de TV durante as campanhas.

Nacionalmente, a federação é um bom negócio. Mas, nos estados, especialmente no Espírito Santo, ela pode gerar turbulência.

Mesmo projeto, mas em lados opostos

No Espírito Santo, MDB e Republicanos têm o mesmo projeto: querem eleger o próximo governador do Estado. Porém, os dois partidos estão em lados opostos. São adversários.

Se em 2022, o principal opositor ao grupo do governador Renato Casagrande (PSB) foi o PL, hoje, esse espaço é ocupado pelo Republicanos, mais precisamente pelo prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini.

Principal aposta do Republicanos para 2026, Pazolini já é tratado como pré-candidato da legenda ao Palácio Anchieta. Já tem executado uma agenda de incursões ao interior e articulações com outros partidos.

No último final de semana mesmo, Pazolini esteve – ao lado de Erick Musso, presidente estadual do Republicanos – em Santa Teresa, João Neiva, Guarapari e Santa Maria de Jetibá.

Já o MDB faz parte da base aliada e é o partido que abriga o nome do governo para a sucessão de Casagrande. O vice-governador Ricardo Ferraço é o “plano A” na corrida eleitoral rumo ao Palácio Anchieta e é também o presidente estadual do MDB.

Embora seja o partido com o maior número de filiados no Estado (36.112, segundo o TRE-ES), o MDB enfrentou um processo de enfraquecimento e esvaziamento nos últimos anos, causado em boa parte por disputas internas e estratégias equivocadas em sua gestão. O partido já contou com sete deputados estaduais, hoje não tem nenhum.

Em 2022, sob o comando da então senadora Rose de Freitas, o partido não lançou chapa para a Câmara Federal e nem candidatura própria ao governo. O ex-prefeito Guerino Zanon chegou a brigar internamente para ter o apoio da legenda e ser candidato ao Palácio Anchieta, mas foi em vão. Ele deixou o partido e se filiou ao PSD para poder disputar o governo.

O MDB abriu mão de ter uma candidatura própria ao governo para apoiar a reeleição de Casagrande. Em troca, o governo também apoiou Rose em sua candidatura para permanecer no Senado. Ela, porém, perdeu a vaga para Magno Malta (PL).

Após as eleições, as brigas pelo comando do MDB continuaram até a convenção do partido, marcada para setembro de 2023. Rose e o ex-deputado Lelo Coimbra disputaram a presidência estadual da legenda, mas a eleição terminou empatada, gerando mais um impasse.

Foi nesse cenário que a cúpula nacional da legenda resolveu intervir e Ricardo Ferraço, que estava no PSDB, deixou o ninho tucano para assumir o comando do MDB.

Ricardo virou presidente com a missão de pacificar e ressuscitar o MDB no Estado. Conseguiu até um bom desempenho em 2024, principalmente com a filiação e reeleição do prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio.

Porém, no Estado, o MDB é menor que o Republicanos no quesito que faz a diferença para os partidos: número de representantes na Câmara Federal. O Republicanos do Espírito Santo tem dois deputados federais: Amaro Neto e Messias Donato. O MDB-ES não tem nenhum.

Isso significa que o Republicanos deve ter a preferência em comandar a federação no Espírito Santo, caso ela vingue. O critério do número de deputados federais foi adotado para a federação União Progressista e deve ser usado também para a fusão PSDB+Podemos.

E com o Republicanos no comando da federação, algumas rotas devem ser recalculadas.

Os caminhos possíveis

Se a união entre o MDB e o Republicanos vingar, com o comando do partido de Pazolini, o mais provável é que o MDB deixe a base aliada do governo Casagrande e reforce o time do prefeito na Capital.

Hoje, além de contar com o vice-governador, o partido tem também uma cadeira no 1º escalão: o ex-prefeito Guerino Balestrassi (MDB) é o secretário estadual de Recuperação do Rio Doce – pasta recentemente criada para gerir os recursos do acordo de Mariana.

É bem provável também que o partido sofra um novo esvaziamento. Ricardo, Euclério e Guerino, que estão na legenda há menos de dois anos, provavelmente trocariam o MDB por outra sigla da base do governo. Uma das possibilidades é Ricardo voltar para o PSDB.

Um outro caminho – que hoje parece um pouco improvável, mas não é impossível – é ocorrer uma articulação, envolvendo o Palácio Anchieta e a cúpula nacional das duas legendas, para que a federação, independente de quem a comande, apoie a candidatura de Ricardo Ferraço ao governo.

O vice-governador é bastante próximo do presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, que está negociando os termos da federação com o Republicanos. E o pedido de um governador não costuma ser ignorado. Nesse caminho, o Republicanos teria que abrir mão da candidatura de Pazolini ao governo – o que hoje não é cogitado, segundo interlocutores do partido ouvidos pela coluna.

Vamos aguardar”

Questionado sobre seu posicionamento com relação à federação e qual seria sua decisão, caso a união entre MDB e Republicanos se concretize, Ricardo preferiu não se manifestar. “Vamos aguardar”, foi o que o vice respondeu à coluna.

Erick Musso também foi procurado, mas não retornou aos contatos da coluna. Não só eles, mas muitas lideranças estão observando de perto as movimentações e, por ora, não vão se antecipar. Até porque o jogo pode ficar ainda mais embolado.

É possível e está sendo estudada a entrada de uma terceira sigla nas tratativas da federação: o PSD. O partido comandado por Gilberto Kassab será, daqui a duas semanas, o abrigo partidário do ex-governador Paulo Hartung (sem partido), que é cotado para participar diretamente das eleições do ano que vem, seja aqui ou nacionalmente.

E aí, diante desse cenário, a questão será: como desatar o nó criado na política capixaba com a possibilidade de Ricardo, Pazolini e Hartung estarem num mesmo grupo? Haverá concessões? Recuos? Casamentos na delegacia? A conferir.

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