
A sessão ordinária na Câmara da Serra na noite de segunda-feira (12) precisou ser interrompida após uma confusão envolvendo dois vereadores e uma servidora da Casa. O caso aconteceu por acusação de intolerância religiosa, partida tanto do lado dos parlamentares quanto da servidora.
A confusão foi resultado de um desentendimento carregado de sessões anteriores. Segundo o vereador Antônio Carlos CEA (Republicanos), após ele pronunciar “Glória a Deus”, a servidora, identificada como Saionara Paixão, fez uma reclamação sobre a frase cristã na Comissão dos Direitos Humanos, onde CEA atua como vice-presidente.
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“Numa sessão ordinária eu usei o microfone para agradecer e dizer ‘toda a honra e toda a glória seja dada ao Senhor’. Uma servidora terceirizada, que trabalha na parte de mídia dentro do plenário, é da Umbanda e fez uma reclamação na Comissão de Direitos Humanos, a qual eu faço parte e sou vice-presidente”, contou o vereador.
Procurada pelo Folha Vitória, a servidora preferiu não falar diretamente sobre o caso e está sendo representada por Ivo Lopes, presidente do Conselho de Igualdade Racial da Serra.
Lopes contou à reportagem que o caso aflorou ainda mais na semana seguinte, quando o vereador questionou e foi contra a inclusão do termo “povos tradicionais” na comissão da qual faz parte.
“Esse vereador fez uma fala questionando igualdade racial, questionando os povos tradicionais, falando que não entendia, não concordava. De uma certa forma, já querendo entrar num assunto religioso”, informou ele.
O estopim de todo esse desentendimento anterior, porém, aconteceu na sessão da noite se segunda-feira (12), durante a fala do vereador Pastor Dinho Souza (PL), que saiu em defesa de CEA sobre a acusação de intolerância religiosa e repetiu inúmeras vezes a frase “Glória a Deus”, sugerindo estar cometendo um crime.
“Se dizer Glória a Deus é crime, então: Glória a Deus, um crime; Glória a Deus; mais um crime”, proclamou.
No momento da fala do Pastor Dinho, CEA estava sentando na primeira fileira em frente à tribuna e, segundo informou em entrevista ao Folha Vitória, estava filmando a declaração do colega parlamentar.
Foi quando, na versão de CEA, a servidora, que atua na sala de multimídia no plenário, questionou as falas do pastor de onde estava e informou tinha sido gravada pelo vereador.
Minutos depois, CEA vai até à sala multimídia e, segundo ele, mostra as imagens do celular para provar que não fez gravação da servidora.
O representante de Saionara, no entanto, alega que o vereador do PL teria proferido ataques, e que Antônio CEA teria partido para cima dela, iniciando uma confusão generalizada.
A sessão foi suspensa por alguns minutos, conforme mostra o vídeo abaixo:
Em seguida, CEA e a servidora foram para a delegacia, onde apenas o parlamentar registrou boletim de ocorrência. Segundo o vereador, ele narrou todos os fatos e a repercussão que o caso gerou nas redes sociais.
Já a servidora alega que não registrou o boletim porque foi “coagida pela equipe do vereador na delegacia”. Ivo Lopes informou que Saionara foi, na manhã desta terça-feira (13), na Delegacia das Mulheres registrar o caso, e também no Ministério Público do Estado.
“Ela não estava se sentindo confortável naquela situação (na Delegacia). Então ela optou por não fazer naquele momento e fez hoje na delegacia especializada da mulher. E agora vamos entrar com uma representação aqui no Ministério Público”, disse ele.
Na noite anterior, a servidora publicou um vídeo nas redes sociais em frente à delegacia. Chorando, ela disse que “já esperava” a “humilhação” a que foi submetida pelos vereadores. Veja vídeo:
Câmara da Serra diz que está apurando o caso
Em nota, a Câmara Municipal da Serra informa que os acontecimentos registrados durante a sessão ordinária de segunda-feira “estão sendo devidamente apurados pelos setores competentes, conforme estabelece o Regimento Interno da Casa”.
A Casa finaliza: “Reiteramos o compromisso desta Casa de Leis com a ética, a transparência e o respeito às pessoas, pautando sua atuação nos princípios da legalidade e da responsabilidade pública e social”.