A morte do ex-presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica, mobilizou líderes internacionais ao redor do mundo nesta terça-feira (13). Presidentes de Brasil, Bolívia, Colômbia, Chile e Venezuela homenagearam o uruguaio que morreu em decorrência de um câncer de esôfago. O carisma do ex-mandatário também foi lembrado por lideranças de outras partes do mundo.
O presidente colombiano, Gustavo Petro, foi um dos primeiros a se manifestar. Para ele, Mujica foi um “grande revolucionário” e afirmou acreditar na integração latino-americana por meio da construção de uma “Grancolombiana”. A publicação do mandatário foi acompanhada de uma foto de Petro e Mujica em uma visita feita pelo colombiano em 5 de dezembro para conceder a Cruz de Boyacá ao uruguaio. Essa é a distinção civil mais alta concedida pelo governo colombiano.
“Pepe Mujica, o grande revolucionário, o presidente do Uruguai, morreu. Adeus, amigo. Espero que um dia a América Latina tenha um hino. Espero que um dia a América do Sul se chame Amazônia. Hoje acredito firmemente que o projeto de integração latino-americana envolve a construção, como a União Europeia, de uma União Grancolombiana, no coração da América Latina e do Caribe, um passo decisivo para a integração”, escreveu Petro.
Já o governo da Venezuela publicou uma nota oficial lamentando a morte de Mujica. O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, destacou que o uruguaio foi responsável por lutar contra as ditaduras do seu país e contribuiu para os esforços de “integração da nossa região”.
“Durante sua carreira, ele se manteve firme contra as ditaduras que assolaram seu país e, desde a presidência, promoveu políticas humanas, contribuindo para os esforços de integração e unidade da região. A Venezuela expressa seu respeito pelo falecimento de uma figura profundamente ligada às causas justas da nossa América”, afirma o texto.
No ano passado, durante a disputa eleitoral da Venezuela, Mujica disse em entrevista que Maduro na Venezuela e Daniel Ortega, presidente da Nicarágua, “não são esquerdistas, são autoritários”. A declaração não foi respondida na época pelo governo venezuelano.
Outro a homenagear Mujica foi o presidente do Chile, Gabriel Boric. Em publicação nas redes sociais ele disse que o uruguaio foi a “esperança insaciável” de que as coisas podem ser melhores. Ele saudou também a ex-vice-presidente e esposa de Mujica, Lucía Topolansky.
“’Passo a passo para não sair dos trilhos’, como você costumava dizer. Você foi a convicção inabalável de que enquanto nossos corações baterem e houver injustiça no mundo, vale a pena continuar lutando. Você parte fisicamente, mas fica para sempre. Prometo que a oliveira que plantamos em fevereiro em sua fazenda florescerá. Obrigado pela vida e pelos ensinamentos. Com você, esquecer será impossível”, disse o chileno.
O presidente da Bolívia, Luis Arce, também fez uma publicação em homenagem a Mujica. Em texto publicado no X, o boliviano disse que Mujica era um “farol de esperança” na luta pela justiça social. Ele afirmou que o uruguaio deixa um legado na história do Uruguai e da América do Sul.
“Voe alto, querido Pepe! Com o coração profundamente triste, nos despedimos de um verdadeiro farol de esperança, humildade e luta pela justiça social. Sua vida foi um testemunho de rebelião e amor ao seu povo. Seu legado viverá em nossos corações, na história do Uruguai e da Pátria Maior, sempre nos lembrando da importância de não desistir de nossa missão de construir um mundo mais justo e solidário”, afirmou.
Eleita recentemente como presidenta do México, Claudia Sheinbaum também prestou solidariedade ao ex-mandatário uruguaio. Ela disse que Mujica era um “exemplo” para o mundo.
“Lamento profundamente a morte do nosso querido Pepe Mujica, exemplo para a América Latina e para o mundo inteiro pela sabedoria, pensamento e simplicidade que o caracterizavam. Externamos nossa tristeza e pêsames aos familiares, amigos e ao povo uruguaio”, escreveu a mexicana.
Um dos mais próximos de Mujica durante o seu governo, Lula publicou uma nota de pesar por meio do Ministério das Relações Exteriores lamentando a morte de um “grande amigo do Brasil”.
“Grande amigo do Brasil, o ex-presidente Mujica foi um entusiasta do Mercosul, da Unasul e da Celac, um dos principais artífices da integração da América do Sul e da América Latina e, sobretudo, um dos mais importantes humanistas de nossa época. O legado de ‘Pepe’ Mujica permanecerá, guiando todas e todos aqueles que genuinamente acreditam na integração de nossa região como caminho incontornável para o desenvolvimento e na nossa capacidade de construir um mundo melhor para as futuras gerações”, afirma o texto.
Outra que teve participação na vida política de Mujica foi a ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner. Ela esteve como chefe do Executivo argentino durante a gestão do uruguaio no país vizinho. Em publicação nas redes sociais, ela disse que Mujica foi um “grande homem que dedicou sua vida à militância e a sua Pátria”.
Da Europa, o premiê espanhol Pedro Sánchez também publicou uma homenagem a Mujica. Ele disse que o uruguaio acreditava em um mundo melhor e que viver a política com o coração “faz sentido”.
“Um mundo melhor. Foi nisso que Pepe Mujica acreditou, lutou e viveu. A política faz sentido quando é vivida assim, com o coração. Meu carinho mais profundo para sua família e para o Uruguai. Eterno Mujica”, disse.
Morte
O ex-presidente do Uruguai, José Alberto “Pepe” Mujica Cordano, morreu nesta terça-feira (13) aos 89 anos. A informação foi confirmada pelo presidente uruguaio Yamandú Orsi. O ex-mandatário deixou um legado na política uruguaia por ser protagonista na transformação da Frente Ampla, hoje a principal coalizão de esquerda do país.
Segundo sua esposa, a ex-vice-presidente Lucía Topolansky, Pepe estava “em situação terminal” e passava por cuidados paliativos. Mujica foi diagnosticado com câncer em abril de 2024 e passou por radioterapia até 16 de junho do ano passado, quando interrompeu o tratamento. Ele não participou das últimas eleições regionais, disputadas no último domingo (11).
Do sítio em que vive, na zona rural da capital Montevidéu, Mujica já havia falado sobre seu estado de saúde em entrevista publicada pelo jornal estadunidense The New York Times. Em uma espécie de despedida, ele disse à época: “está na hora de partir”.
“Fiz tratamento radiológico. Segundo os médicos, correu tudo bem, mas estou arrasado. A vida é bela. Com todas as suas reviravoltas, eu amo a vida. E estou perdendo-a porque estou na hora de partir”, afirmou na ocasião.
Ele ainda votou no final do ano passado nas eleições presidenciais. Deu apoio ao candidato da Frente Ampla, Yamandú Orsi, que venceu o pleito e se tornou presidente do Uruguai.
Em janeiro deste ano, Mujica anunciou que estava com metástase hepática e não se submeteria a nenhum outro tratamento. Nesse período, com dificuldade de comer, foi submetido a uma cirurgia para colocar um stent no esôfago para se alimentar. Há algumas semanas, a situação piorou e o ex-presidente não conseguiu mais fazer atividades básicas.
Mujica havia deixado a internação para ficar em casa. Segundo a família, o espaço era mais “confortável” para o ex-presidente. Ele recebeu visitas de familiares e pessoas próximas. Uma dessas visitas foi de Alejandro Pacha Sánchez, secretário do presidente Yamandú Orsi, que disse: “Mujica sempre havia dito que queria chegar aos 90 anos”. O uruguaio faria aniversário em 20 de maio.