Prefeito de SP se diz ‘surpreso’ com Cracolândia vazia, mas organização fala em ‘política de dispersar na pancada’

O prefeito Ricardo Nunes (MDB), de São Paulo (SP), disse estar surpreso com o esvaziamento da Cracolândia, no centro da cidade. Na terça-feira (13), o espaço entre as ruas General Couto de Magalhães e a dos Protestantes, na região da Santa Ifigênia, conhecido por abrigar cerca de 200 dependentes químicos, amanheceu vazio, enquanto em outros pontos da capital foi registrado o aumento de pessoas em situação de rua.

“Surpreendeu a prefeitura. Mas, obviamente, a gente já vinha reduzindo gradativamente. Todos os dias vinha reduzindo a quantidade de pessoas lá. As pessoas indo para tratamento, voltando para os seus estados, as pessoas aceitando a internação”, disse o prefeito em coletiva de imprensa também nesta terça-feira (13). 

A Craco Resiste, organização que atua junto à população em situação de vulnerabilidade na Cracolândia, no entanto, afirma que o esvaziamento do espaço é uma consequência da “política de dispersar na pancada os grupos de pessoas em situação de rua e que consomem drogas na região da Cracolândia, centro da cidade. Foi essa ação que provocou o esvaziamento do fluxo que estava concentrado na Rua dos Protestantes”.

“A política não é nova, remete à Operação Dor e Sofrimento posta em prática em 2012 pela gestão do prefeito Gilberto Kassab. À época, a polícia era orientada a impedir que as pessoas permanecessem nas calçadas e provocou a formação do que parte da imprensa chamava de ‘procissões do crack’, vagando pelas ruas empurradas pelas patrulhas e viaturas”, afirmou a Craco Resiste em nota. 

De acordo com a organização, teria ocorrido uma orientação para que a Guarda Civil Metropolitana (GCM) intensificasse as abordagens na região com o uso da violência. “As pessoas ouvidas afirmam categoricamente que os guardas passaram a bater mais no rosto e na cabeça das pessoas, para além das outras agressões já cotidianas, com uso de spray de pimenta e apropriação de pertences pessoais, como roupas e dinheiro”, relata.

“A gestão do prefeito Ricardo Nunes em parceria com o governo de Tarcísio de Freitas têm trabalhado para deixar as pessoas em uma situação limite. Há grandes dificuldades de acesso à água, revistas vexatórias e humilhações cotidianas, o que esfrangalha as condições emocionais das pessoas em desproteção social e propicia o contexto para violência”, diz a organização em outro trecho da nota. 

Nesta segunda-feira (12), o governador de São Paulo publicou um trecho de uma entrevista que concedeu à rádio Massa FM na qual diz que “a Cracolândia vai acabar” e que sua gestão está fazendo “o que ninguém teve coragem de fazer”. 

O vice-prefeito de São Paulo, o coronel Mello Araújo, que publica frequentemente vídeos sobre a Cracolândia nas redes sociais, postou uma foto da Rua dos Protestantes vazia e comemorou. “Estamos vencendo, não tenho dúvidas que este é o caminho, muitos torcem contra, mas não é ilusão, é realidade! Esta é a atual ‘Cracolândia’. Acabando com tudo de errado, prendendo traficantes, resgatando quem quer ajuda, interligando secretarias. Esses fazem a diferença”, disse.

Em outros pontos da cidade é possível observar o aumento do número de pessoas em situação de rua, como na Avenida Doutor Arnaldo, na altura do número 126; na Rua Solon, no Bom Retiro; embaixo do Elevado Presidente João Goulart e próximo ao Terminal Princesa Isabel. 

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