
Reprodução/Arquivo Pessoal
A assistente administrativa Camila Lopes Mercês, de 27 anos, denunciou que sua bebê teve uma das pernas quebradas durante o parto, ocorrido no dia 12 de maio, no Hospital Municipal Materno Infantil da Serra (HMMIS), na Serra.
Segundo ela, a bebê passou o dia com fortes dores e só teve a perna imobilizada na madrugada do dia 13.
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Camila narra que deu entrada no hospital na madrugada do dia 12, já com a bolsa rompida. A gestante teve amniorrexe, uma condição popularmente conhecida como “bolsa rota”, que faz com que haja o rompimento antes de a mãe entrar em trabalho de parto.
Por conta da condição, ela relata que a bolsa teria estourado pela parte de cima, não pela parte de baixo, como acontece normalmente. Isso fez com que houvesse pouco líquido amniótico expelido no momento em que chegou ao hospital.
O médico que me atendeu no plantão da madrugada não sabia se realmente era ou não um trabalho de parto e me deixou em observação. Depois de pedir opinião de uma outra médica e me avaliar novamente, ele decidiu me internar e disse que a bebê estava sentada, segundo o último ultrassom.
Ela relata que foi informada pelo médico que, caso entrasse em trabalho de parto, iria para uma cesárea. Se isso não acontecesse, a equipe da manhã a atenderia para um novo ultrassom.
Médico teria deixado sala de cirurgia
Ainda segundo relatos da mãe, ela passou por mais três exames para medir a frequência cardíaca da bebê e estaria tudo estava normal, de acordo com os médicos.
Quando os plantonistas foram trocados, Camila foi abordada por um obstetra, que informou que faria a cesárea. Segundo ela, o médico não a avaliou, não pediu nenhum ultrassom e ela foi levada à sala de cirurgia.
“Quando entramos na sala de cirurgia, ele saiu às pressas para fazer um parto normal. Eu fiquei deitada no centro cirúrgico por mais de 30 minutos, quando ele e a equipe retornaram ao centro cirúrgico. Ele estava conversando e orientando uma médica, que provavelmente era residente. Começou a orientá-la para girar a neném: ‘gira, procura a cabeça’, ele falava”, relatou a mãe.
Bebê retirada pela perna
Camila narra também que o parto foi demorado e que o obstetra pediu à médica que o acompanhava que puxasse a bebê pela perna. Segundo a mãe, ele teria dito à profissional: “você só vai aprender me vendo errando”.
Foi então que a médica puxou a bebê. Neste momento, segundo a mãe, a maca chegou a tremer. Logo após o nascimento, a equipe de pediatria entrou no centro cirúrgico para levar a recém-nascida.
Eles demoraram demais na avaliação dela, geralmente entregam para a mãe na primeira hora, mas não fizeram isso. Chamaram meu marido, levaram para uma sala reservada e disseram que provavelmente era uma lesão na bacia, por conta de uma má-formação durante a gestação. Foi quando meu marido contou aos médicos que ela havia sido retirada pela perna.
Fêmur fraturado
Segundo Camila, a família passou por mais uma grande espera. A equipe pediátrica disse que pediria um ultrassom para avaliar a situação da bebê, mas que só poderiam realizá-lo no dia seguinte.
Ela conta que que foi levada ao pós-cirúrgico e que o marido ficou com a bebê. Sempre que ele tentava segurá-la, a criança gritava de dor, foi quando o pai pediu para que os médicos a examinassem novamente.
“Colocaram a neném em um bercinho, fizeram o ultrassom e constataram que não era nada de má-formação na gestação. Foi quando pediram um raio-x e mais um ultrassom. Ficamos esperando, e nada. Quando fizeram o ultrassom, já era mais de 13h40 e constataram que o fêmur direito estava quebrado. Pediram a transferência dela para o hospital infantil para que um ortopedista avaliasse se era um caso para cirurgia ou somente imobilização”, contou.
Demora para a transferência
De acordo com a mãe, a filha foi levada para uma ala chamada de “retaguarda”. Camila não pôde acompanhar a criança, pois ainda estava sob efeito da anestesia utilizada na cesárea. Quem acompanhou a bebê foi o marido.
Segundo ela, quando a ambulância para a transferência chegou, por volta de 18h, o transporte não foi autorizado pela equipe do hospital, que havia pedido uma transferência básica para a criança.
A ambulância, segundo ela, deixou o hospital e o próximo transporte, que deveria levar 20 minutos, não chegou, porque na troca de plantão, uma equipe não teria avisado a outra.
“Eles só ficaram cientes quando meu marido comunicou a eles. Disseram que não foi avisado na troca de plantão. A partir daí, meu marido acionou a polícia duas vezes, foi quando começaram a se movimentar. A remoção com Utin só foi chegar mais de meia noite”, disse.
De acordo com Camila, a criança foi levada para o Hospital Infantil, onde passou por mais dois raios-x. Isso porque a equipe desconfiava que poderia haver uma fratura na perna e outra na bacia.
A fratura no fêmur foi confirmada e imobilizaram a perna da criança. De acordo com Camila, a filha nasceu às 9h42 do dia 12 e só foi levada de volta à maternidade por volta de 2h20 do dia 13.
A todo momento eu pedia para ver o raio-x lá na maternidade e ninguém deixava. Ela só gritava. O pouco que eu consegui descer para vê-la na sala de retaguarda, minha filha só gritava.
A bebê segue imobilizada do quadril para cima, o que dificulta a amamentação e a troca de roupas e fraldas, segundo a mãe. A criança também ainda não pode tomar banho.
Camila relata que questionou a equipe médica e foi informada que a bebê foi puxada pela perna por se tratar de um parto de risco.
“Dizem que só fizeram o que fizeram porque era um parto de risco, mas ninguém nos informou de nada, ninguém pediu autorização para fazer o procedimento, ninguém nos informou que ela corria risco de nada”.
O que diz a Secretaria de Saúde da Serra
Por nota, a Secretaria de Saúde da Serra informou que foi realizado um parto de dificuldade extrema no último dia 12, pela equipe médica do Hospital Materno Infantil da Serra.
De acordo com a secretaria, a bebê foi atendida imediatamente após a constatação da fratura.
Após o parto foi constatado que a criança havia tido uma fratura e imediatamente foi feito atendimento pelo médico ortopedista pediátrico e iniciado tratamento logo após seu nascimento. Mãe e bebê já receberam alta e o retorno com o especialista já está programado.
A Secretaria de Saúde ressaltou na nota encaminhada ao Folha Vitória que também solicitou esclarecimentos à organização responsável por administrar o HMMIS, que alega ter solicitado exames de imagem imediatamente após o nascimento e que todas as medidas foram tomadas para preservar mãe e filho.