
Quando Lula assumiu o país pela terceira vez, em janeiro de 2023, herdou um cenário que, apesar dos desafios globais, trazia condições bastante favoráveis. O desemprego estava em queda, a inflação vinha desacelerando, o PIB surpreendia positivamente e as contas externas estavam relativamente equilibradas.
Mesmo com juros altos, a Selic então estava em 13,75%, havia uma trajetória clara de controle, construída com esforço pela equipe econômica do governo anterior.
No entanto, um ano e meio depois, o Brasil se depara com um cenário preocupante: a Selic real efetiva alcança 14,75%, a maior taxa em quase duas décadas, se considerada a expectativa inflacionária futura. Essa escalada, embora mascarada por discursos políticos, é reflexo direto de um governo que perdeu rapidamente a confiança do mercado, insiste em tensionar com o Banco Central e afugenta investimentos com falas desconectadas da realidade fiscal.
O que explica a alta da Selic?
A política monetária não age no vácuo. O Banco Central reage às expectativas: de inflação, crescimento e responsabilidade. Desde que assumiu a Presidência, Lula tem feito de tudo para minar essas expectativas. Questionou a autonomia do BC, flertou com o rompimento do arcabouço fiscal e alimentou pautas populistas que geram incerteza sobre o futuro das contas públicas. Resultado: a confiança do investidor se esvai, o dólar sobe, os preços se pressionam e a Selic sobe junto.
Mais do que números, trata-se de percepção. O mercado precifica o risco político, o voluntarismo econômico e a instabilidade institucional. E, infelizmente, o governo tem dado motivo para que esse risco seja cada vez maior.
Um governo que herdou o terreno fértil
É importante reforçar: Lula não pegou um país quebrado. Ao contrário do que seus apoiadores repetem, o Brasil vinha em franca recuperação pós-pandemia. A taxa de desemprego havia recuado para 7,9%, a menor desde 2015, a inflação fechou 2022 em 5,79% (em queda) e o PIB avançou 2,9% no ano, impulsionado pelo agronegócio e serviços.
A Selic realmente estava elevada, mas havia margem para redução, desde que a confiança fosse preservada — o que, infelizmente, não aconteceu.
Quem paga a conta?
Selic alta significa crédito caro, consumo retraído, menos investimento e crescimento mais lentos. Micro e pequenos empreendedores sofrem. Famílias parcelam menos, a roda trava e tudo isso porque o governo preferiu o confronto à responsabilidade, o populismo à previsibilidade.
Enquanto o Palácio do Planalto insiste em narrativas de “herança maldita”, o país perde oportunidades. A taxa Selic em 14,75% é um sintoma de má gestão e da falta de compromisso com a estabilidade econômica, que custou tanto a ser construída
Conclusão
A Selic está onde está porque a política econômica foi sequestrada por discursos ideológicos e ataques institucionais. Em vez de aproveitar um momento de retomada para consolidar avanços, Lula optou por reeditar velhas práticas: desconfiança do mercado, hostilidade às regras e desprezo à responsabilidade fiscal.
O resultado? O Brasil mais uma vez trava. E quem paga a conta, como sempre, é o cidadão.