Alta do PIB é positiva, mas população ainda sente impacto dos juros e do preço dos alimentos, diz economista

A prévia do Produto Interno Bruto (PIB) divulgada pelo Banco Central nesta semana mostrou um crescimento de 1,3% no primeiro trimestre de 2025. O dado é positivo para o país, mas a economista Marilane Teixeira alerta: os números não têm refletido como deveriam de forma concreta na vida da população.

“Sem dúvida nenhuma, o resultado positivo tem que ser comemorado, porque significa que estamos crescendo, estamos ampliando a capacidade produtiva, e isso é muito bom para o país”, afirma, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato. “O PIB é a soma das atividades econômicas. Se está produzindo mais, significa que também está gerando emprego, ampliando renda, ampliando consumo”, explica Marilane, que é pesquisadora do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho (Cesit) da Unicamp.

Apesar disso, a economista reforça que o crescimento só tem impacto real quando se transforma em melhoria real das condições de vida. “Boa parte de tudo aquilo que é produzido no Brasil, mais de 70%, é consumido internamente. Então esse aumento da produção precisa se refletir em mais acesso e bem-estar para a população”, defende.

Pessimismo do mercado e tentativa de instabilizar o governo

Questionada sobre os erros recorrentes do mercado na projeção do crescimento econômico do país, Marilane afirma que há, sim, um componente político envolvido nas análises pessimistas. “Nós temos apresentado resultados surpreendentemente bons, positivos, que não justificariam um pessimismo tão grande do mercado. Acho que há uma tentativa de gerar instabilidade no governo, sem dúvida nenhuma, de proliferar um certo pessimismo”, afirma.

Segundo ela, os analistas de mercado mantêm o foco na dívida pública, que está sob controle, e ignoram os impactos das taxas de juros elevadas, que limitam o investimento e o consumo. “O endividamento público no Brasil não só está sob controle, mas tem recuado em relação ao PIB. Mas como a taxa de juros é alta, como a Selic, não tenho dúvidas de que isso provoca impacto na economia”, explica.

Meta de inflação irreal e juros sufocando a economia

Marilane critica também a manutenção da meta de inflação em 3%, que considera incompatível com a realidade brasileira. Ela relembra o cenário no início do primeiro governo Lula (PT), quando a inflação chegou a 16% e, mesmo assim, foi possível promover crescimento e redução da desigualdade. “O Brasil é um país que, se você quer manter uma taxa de crescimento elevada, num primeiro momento tem uma pressão inflacionária. Manter uma taxa anual de 3% é muito irreal”, argumenta.

Os dados de inflação dos primeiros quatro meses do ano mostram índices abaixo da meta. “Medido pelo INPC está em 2,49%, medido pelo IPC tá 2,48%. Ou seja, nós vamos continuar elevando a taxa de juros para conter a inflação? Essa é a alternativa?”, questiona. Para a economista, é necessário mudar o foco do debate econômico. “Consideramos que o que precisamos é atacar as causas reais de por que alguns preços estão se elevando, principalmente os ligados ao consumo cotidiano, como a alimentação.”

Alimentos ainda caros e papel do Estado

Mesmo com os dados positivos do PIB e da inflação, os preços dos alimentos continuam altos, um reflexo da escassez de produtos e da prioridade do agronegócio para exportações. Marilane Teixeira defende a atuação mais firme do Estado para reverter esse quadro. “Precisamos da atuação do governo para calibrar essa relação entre o mercado interno e o externo. O Estado tem um papel importante nesse sentido. Da mesma forma, é preciso retomar estoques reguladores”, afirma.

Ela também propõe o fortalecimento da agricultura familiar como estratégia para garantir abastecimento e combater a inflação nos alimentos. “Ampliar a produção de alimentos em áreas que estão sendo apropriadas pela reforma agrária, aumentar o acesso a crédito, melhorar a logística… tudo isso é fundamental. Mas nós temos uma elite que infelizmente não pensa a partir da perspectiva do bem-estar social, e sim da sua lógica de acumulação e lucro”, lamenta.

Para ouvir e assistir

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.