O Ministérios da Justiça da Bolívia acusou nesta quinta-feira (5) o ex-presidente Evo Morales de oito crimes cometidos durante os protestos realizados nos últimos dias no país, incluindo terrorismo, instigação pública para delinquir e obstrução de processos eleitorais. Apoiadores do líder cocalero estão realizando protestos desde a semana passada pedindo que Evo possa ser candidato nas eleições presidenciais.
O ministro César Siles disse que Evo foi responsável por ataques à segurança dos serviços públicos, à segurança do transporte, à liberdade de trabalho, desobediência às “resoluções constitucionais”, destruição e danos à propriedade estatal. As forças de segurança bolivianas registraram ao menos 13 pontos de bloqueio em estradas, sendo as principais em Cochabamba, zona que é reduto político de Evo, e Santa Cruz de la Sierra, cidade conhecida por ser um núcleo opositor.
De acordo com Siles, quem coordenou essas operações foi a dirigente sindical Suset Rodríguez, que teria atendido ordem do ex-presidente para cercar La Paz e ocupar os arredores de casas de autoridades. A denúncia pede que as investigações e afirma que os bloqueios atingiram todos os bolivianos, especialmente “pessoas com deficiência e que precisavam de atendimento médico”.
A acusação tem como base um áudio divulgado pela imprensa boliviana no qual um dirigente do movimento camponês teria gravado Evo pedindo por mais protestos em La Paz. Na gravação, a voz atribuída ao ex-presidente afirma que se os bloqueios permanecessem só em Cochabamba, como foi em outubro de 2024, não teriam o resultado esperado.
Evo Morales diz que a gravação é “montagem” e que as mobilizações partiram do próprio povo e de seus apoiadores de maneira espontânea contra o governo do presidente Luís Arce que, segundo ele, perdeu apoio.
“As manifestações não são sobre uma pessoa ou um candidato. São o grito do povo que não aguenta mais esperar, que clama por pão e justiça. Porque quando um governo eleito com 55% de apoio e que agora tem apenas 2%, não é a oposição falando; é o povo se levantando”, publicou Morales em suas redes sociais.
Evo Morales não participou dos protestos e não fez discursos públicos. Ele está na região do Chapare e tem evitado se deslocar por conta de outra acusação em que é investigado. Nesse outro caso, Evo tem um mandado de prisão acusado estupro de menor e de formar uma rede de tráfico de pessoas.
Os manifestantes pedem a renúncia de Arce e que Evo possa ser candidato pelo partido Ação Nacional Boliviana (Pan-bol). A lista de habilitados e inabilitados será divulgada nesta sexta (6), mas a candidatura de Evo já foi rejeitada pelo Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) porque a sigla não é reconhecida já que não recebeu 3% dos votos nas eleições de 2020, além de a Constituição boliviana não permitir a reeleição de um presidente por mais de um mandato consecutivo. Evo presidiu a Bolívia por três mandatos.
Além de Cochabamba, outros 6 estados também registram paralisações: Santa Cruz, Chuquisaca, Tarija, Oruro, Potosí e La Paz. A polícia registrou confrontos, principalmente na cidade de Bombeo. De acordo com as forças de segurança, 15 policiais ficaram feridos.
Além dos bloqueios, os apoiadores de Evo tomaram as ruas de La Paz pedindo medidas mais duras do governo contra a crise econômica que a Bolívia enfrenta. A inflação da Bolívia subiu para 15% no acumulado de 12 meses e o país passa por problemas no abastecimento de combustíveis.
Para tentar contornar a crise econômica, o presidente e ex-ministro da Economia, Luís Arce, anunciou no final de maio 11 medidas para aumentar a reserva de dólares e melhorar a distribuição de combustíveis.