Começou no último domingo (8), em Newark, Nova Jersey, a Freedom Ride, uma marcha organizada por movimentos populares e lideranças religiosas dos Estados Unidos que denuncia os ataques do governo de Donald Trump a imigrantes, trabalhadores e direitos democráticos. A mobilização seguirá até Jena, no estado da Louisiana, passando por cidades marcadas pela história da luta por direitos civis.
Organizada por entidades como The Riverside Church, IFCO – Pastors for Peace, Interfaith Center of New York e The People’s Forum, a Freedom Ride faz referência direta às mobilizações dos anos 1960 por direitos civis, em que movimentos promoveram grandes marchas contra a segregação racial no Sul do país.
O ato de lançamento ocorreu em frente ao centro de detenção de Delaney Hall, o maior do estado, administrado por uma empresa privada e alvo de denúncias recorrentes de violações de direitos humanos. Na ocasião, lideranças comunitárias, religiosas e educadores convocaram a população a se somar ao movimento.
“Estou farta e cansada do fascismo, do racismo, da xenofobia, da opressão que está acontecendo. Isso tem acontecido neste continente há mais de 500 anos, mas neste momento tomou uma curva tão acentuada para cima. É um momento crítico. É hora de pessoas de todas as fés e consciências se levantarem e dizerem: ‘Não mais’”, afirmou Nomi Ikuda, do Freedom Center, ligado à People’s Church.
A marcha passou no mesmo dia por Washington, a capital dos EUA, onde os participantes se reuniram com lideranças da histórica Metropolitan African Methodist Episcopal Church, uma das mais antigas entidades religiosas afroamericanas. Nesta segunda-feira (9), a caravana chega a Durham, na Carolina do Norte, cidade que também carrega um histórico de organização popular e resistência.
As demandas centrais da mobilização incluem a proteção permanente para imigrantes indocumentados, o fim das detenções e deportações, e o acesso direto a uma política de cidadania por meio do acolhimento. Os manifestantes também exigem a preservação dos direitos sociais – como o acesso ao seguro-desemprego, assistência médica e previdência – e o respeito ao direito ao protesto, à liberdade de expressão e à organização sindical.
O trajeto da Freedom Ride inclui ainda paradas em Charlotte (Carolina do Norte), Atlanta (Geórgia) e Birmingham (Alabama), com chegada prevista a Jena na próxima sexta-feira (13). A cidade é sede de um centro de detenção de imigrantes e se tornou símbolo da resistência negra após a mobilização contra o racismo que envolveu os chamados “Jena Six” em 2007.
É lá onde está preso o palestino Mahmoud Khalil, estudante da Universidade de Columbia (Nova York), uma das principais lideranças dos protestos nas universidades estadunidenses contra o genocídio promovido por Israel em Gaza. Khalil foi detido no dia 8 de março quando chegava à moradia da universidade com sua esposa, grávida de oito meses.
“Imigrantes em nosso país estão sob ataque, embora o próprio Jesus fosse um imigrante. Eu acredito em um movimento para libertar todas as pessoas, e isso inclui libertar Mahmoud Khalil e todos que foram injustamente detidos pela máquina de deportação dos EUA”, disse Tara, estudante da Harvard Divinity School e integrante da United Church of Christ.
Ela reforçou o caráter histórico da marcha: “Se eu acredito em uma fé que me pede para fazer justiça, amar a bondade e andar humildemente com Deus, então é importante para mim seguir a tradição radical de organizadores baseados na fé que fizeram freedom rides como esta no século 20 e ir até Jena, Louisiana, e dizer: ‘Exigimos o fim das deportações, e exigimos que todas as pessoas sejam tratadas como o povo de Deus que são’”.
Para Jen Wagger, educadora em Newark e integrante do conselho da IFCO, a presença na caravana é também um ato de denúncia local: “Muitos dos meus alunos estão sendo alvo do ICE [serviço migratório] e da Segurança Interna. Estão sendo sequestrados. Estamos vendo isso nas comunidades de imigrantes aqui em Newark. O ICE e o Geo Group assumiram o controle de Delaney Hall e basicamente o transformaram em um campo de concentração em nossa amada cidade.”
Marcha ocorre em meio a protestos e repressão de Trump
No último sábado (7), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, determinou o envio de dois mil soldados da Guarda Nacional a Los Angeles para reprimir manifestações contra a política de deportação de seu governo. A medida foi anunciada sem autorização do governo da Califórnia, dois dias após o início dos protestos.
“Se o governador Newsom [da Califórnia] e a prefeita de Los Angeles, Karen Bass, não fizerem seu trabalho, o governo federal intervirá e resolverá o problema, motins e saqueadores, da maneira como deve ser resolvido!!!”, escreveu Trump em uma rede social pouco antes de confirmar a ação militar.
Segundo a Casa Branca, os agentes do serviço de imigração estavam realizando “operações básicas de deportação” em Los Angeles, classificadas como “essenciais” para conter a “invasão de criminosos ilegais”. O governo federal justificou o envio de tropas citando a prerrogativa presidencial de mobilizar a Guarda Nacional para “reprimir rebeliões”.
O governador da Califórnia, Gavin Newsom, reagiu à medida afirmando que a presença de tropas federais pode “escalar as tensões” e acusou o governo Trump de “inflamar as manifestações”. Crítico da política migratória nacional, Newsom classificou as operações do ICE como “caóticas e arbitrárias”.
“O caos de Donald Trump está minando a confiança, separando famílias e minando os trabalhadores e as indústrias que impulsionam a economia americana”, afirmou o governador em nota oficial.
As manifestações em Los Angeles começaram após uma série de operações conduzidas pelo Departamento de Segurança Interna, que resultaram na prisão de 118 imigrantes em diversos pontos da cidade.