
Nas entrevistas que concederam à coluna De Olho no Poder, os parlamentares que disputam a presidência estadual do PT – Jack Rocha e João Coser – disseram que são favoráveis a que o partido tenha candidato próprio ao governo do Estado.
“Defendo uma candidatura própria que venha beneficiar uma articulação política, inclusive com o palanque do Lula”, disse Jack Rocha. “O PT inteiro gostaria de ter uma candidatura para o governo, inclusive eu”, fez coro, João Coser.
O nome, cogitado pelos dois e pelo mercado que acompanha as articulações do PT, é o do deputado federal e ex-prefeito de Cariacica Helder Salomão. O petista foi o parlamentar mais votado da bancada capixaba em 2022, com 120.337 votos.
Os dois fizeram ressalvas de que não pode ser uma candidatura isolada (segundo Jack) e que precisa passar pelo aval da cúpula nacional (segundo Coser), uma vez que candidaturas majoritárias nos estados entram na geopolítica dos acordos partidários nacionais.
Entretanto, ter uma candidatura própria ao governo daria ao PT a liberdade e o palanque necessários para defender aquilo que para o partido é a prioridade número 1 no ano que vem: a reeleição do presidente Lula.
Independentemente se o Espírito Santo entrará na rota de uma eventual campanha à reeleição de Lula, somente um palanque próprio dará ao PT a possibilidade de recebê-lo, de defender seu legado e sua continuidade no poder.
É claro que quando se trata de um palanque próprio para o PT, é preciso fazer referência não só ao partido, mas à federação em que ele faz parte, que conta com o PV e o PCdoB. Tudo indica que a federação será renovada para as eleições 2026, o que significa que, além do PT, as demais legendas também podem oferecer candidaturas próprias ao governo.
Mas, fora da federação, dificilmente, o PT terá espaço em outro palanque para defender sua bandeira mais cara. E os líderes petistas sabem disso.
“Não vamos pedir para entrar”
Na semana passada, ao ser questionado pela coluna se o PT apoiaria o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) ao governo do Estado, caso o partido não tivesse candidatura própria, Coser ponderou.
Ele disse que o PT tem aliança com o governador Renato Casagrande e com seu partido, o PSB – nacionalmente, as duas siglas são coligadas e governam o País, o PSB é o partido do vice-presidente Geraldo Alckmin. Mas, avaliou, que no caso de apoiar Ricardo, o partido teria que analisar.
“No caso de governo, nós vamos ter que analisar. As candidaturas não estão todas colocadas, o cenário não está constituído, então seria muito temerário arriscar uma opinião agora”, disse Coser.
Ricardo é o nome do governo para a sucessão, é o nome do próprio PSB, e o PT faz parte da base aliada do governo. Isso não significa, porém, que o PT tenha qualquer tipo de obrigação de apoiar automaticamente Ricardo. Até porque há, nos bastidores, fortes indícios de que esse apoio talvez nem seja desejado.
Nós não vamos pedir para entrar, nós temos que estar num movimento que nos deseja. Então, com certeza o PT vai ter uma posição política um pouco mais firme desse momento. Podemos ser força auxiliar, podemos ajudar, mas ajudar no lugar em que as pessoas queiram que a gente esteja”, disse Coser, sinalizando que o partido busca ser reconhecido e valorizado dentro de uma aliança.
Além disso, Coser tem algumas expectativas com relação a um eventual candidato apoiado pelo PT: “Nós não podemos apoiar um candidato bolsonarista, não tem sentido. Tem que ser alguém que dialogue com a candidatura do Lula, que dialogue com a centro-esquerda, com o centro. Nós vamos encontrar esse candidato”, disse o petista à coluna.
E, ao que tudo indica até o momento, esse candidato não deve ser Ricardo, por diversos motivos.
O cenário de 2022…
No início de 2022, quando Casagrande se preparava para lançar a pré-candidatura à reeleição, o PT também ensaiava lançar um candidato próprio. À época, o nome era o do senador Fabiano Contarato (PT), recém-filiado à sigla.
Na ocasião, PT e PSB negociavam a formação de uma federação, que acabou não vingando. Os dois partidos se coligaram nacionalmente, e o PSB indicou o vice de Lula. A partir de então, as candidaturas nos estados passaram a ser definidas pela cúpula dos dois partidos.
Alguns estados, como São Paulo e Espírito Santo, tiveram impasses, com PT e PSB com pré-candidatos ao governo. Aqui, Casagrande e Contarato, e em São Paulo, Márcio França (PSB) e Fernando Haddad (PT).
A leitura feita pelos articuladores políticos e aliados de Casagrande era que uma candidatura própria do PT poderia prejudicar ou ao menos dificultar a reeleição do governador, dividindo os votos da esquerda e da centro-esquerda.
O fato de ser o governador do Estado, uma das principais lideranças do PSB nacional e ainda contar com uma boa avaliação na gestão pesaram e Casagrande levou vantagem. O PT, então, retirou a candidatura de Contarato. Em São Paulo, quem ficou com a vaga na disputa ao governo foi Haddad.
Na campanha, Casagrande chegou a dizer que votaria em Lula, mas publicamente, em cima do palanque, no microfone, não fez campanha para o petista. Com um eleitorado no Estado majoritariamente bolsonarista, aliados de Casagrande, na reta final, pediam votos para o governador e para o ex-presidente.
O PT, porém, estava na base de Casagrande. Uma presença mais discreta, mais quietinha, mas estava lá. Casagrande foi reeleito e o PT ocupa espaço no 1º escalão da gestão.
…Não deve se repetir em 2026

O cenário agora é outro. Tudo indica que não será um candidato do PSB, de centro-esquerda a concorrer pelo grupo do governo ao Palácio Anchieta. Ricardo Ferraço não se encaixa nesse perfil, ainda que, numa dessas viradas de mesa políticas, possa trocar o MDB pelo partido do governador.
Ricardo sempre teve um perfil de centro-direita. Como senador, foi opositor aos governos do PT. Votou pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Foi relator da Reforma Trabalhista – muito criticada pelas lideranças petistas. Deu voto a favor da PEC do Teto dos Gastos Públicos.
Embora alguns anos tenham se passado desde que deixou o Senado (2018), Ricardo continua com uma postura firme e crítica com relação ao governo federal. Recentemente, num artigo publicado num jornal local, o vice criticou o aumento de impostos (IOF), anunciado pelo governo Lula. “Aumentar impostos é um caminho equivocado”, escreveu.
Com essa postura, alguém consegue imaginar Ricardo pegando num microfone para defender o governo federal? Ou declarando voto no petista? Ou ainda, pedindo apoio ao PT e abrindo espaço em seu palanque para a legenda? Por mais que a política seja o palco das reviravoltas, é quase impossível cogitar tais cenas.
Outro ponto que precisa ser levado em consideração é a questão partidária. Em 2022, PT e PSB estavam coligados num mesmo projeto. Hoje, embora o MDB – partido de Ricardo Ferraço – faça parte do governo Lula, a legenda discute a formação de uma federação com o Republicanos e não há garantias de que apoiará o Presidente no ano que vem.
E, claro, o perfil do eleitorado capixaba não pode ser ignorado. Como já dito, o Espírito Santo tem um eleitorado mais à direita, conservador e bastante antipetista – prova disso foi que Lula perdeu para Bolsonaro nos dois turnos da eleição de 2022 no Estado.
Se em 2022 o Palácio Anchieta atuou para que o PT retirasse a candidatura própria e se somasse ao projeto de reeleição de Casagrande, não causará surpresa se, agora, o movimento for inverso – com incentivo à construção de um palanque próprio e à apresentação de um nome petista na disputa pelo governo.
Sinais já começam a aparecer. Numa entrevista concedida há poucos dias, Ricardo disse para um veículo de comunicação local que cabe ao PT e não a ele defender o legado de Lula.
Num evento político recente, Ricardo foi “lançado” como pré-candidato a governador e ele, por sua vez, “lançou” o deputado federal Da Vitória como pré-candidato ao Senado para a segunda vaga em disputa pelo grupo – a primeira será ocupada por Casagrande.
Ou seja, se a ideia do PT era emplacar uma dobradinha “Casagrande-Contarato” para o Senado, tudo indica que, por ora, o projeto deve permanecer apenas no campo das intenções. A não ser que haja uma intervenção de cima pra baixo – e, nesse caso, tudo pode acontecer.
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