‘Futebol não é só europeu’: Mundial de Clubes mostra qualidade brasileira e equilíbrio entre países, avalia jornalista

O novo formato da Copa do Mundo de Clubes da Federação Internacional de Futebol (Fifa) surpreendeu torcedores brasileiros e já mudou o clima em torno da competição. Se no início parecia uma disputa protocolar, com vitória anunciada dos europeus, agora é vista com mais entusiasmo, principalmente depois que Botafogo, Flamengo e Fluminense mostraram força contra gigantes do Velho Continente. Para o jornalista esportivo Luiz Ferreira, trata-se de um “acerto da Fifa”.

Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, Ferreira avalia que o campeonato internacional revela que “a distância [entre os clubes] não é tão grande” quanto se pensava, e “escancara ainda mais a falta de vontade que alguns clubes europeus têm de dividir o futebol com outras partes do mundo”. “Ao contrário do que muita gente pensa, o futebol não é apenas europeu. Existe futebol no Brasil, na Argentina, na África do Sul, na Arábia Saudita, no Catar, na Palestina”, ressalta.

“Agora os europeus estão lidando com problemas que nós, sul-americanos, lidávamos no formato antigo. Eles estão sofrendo com o calor, com o fim da temporada e utilizando isso como desculpa para atuações ruins”, observa Ferreira. Ele lembra que, historicamente, o Mundial acontecia em dezembro, em plena forma física dos europeus. Com a mudança no calendário, o cenário se inverteu.

Boa parte da resistência em valorizar o torneio, segundo Ferreira, vem da imprensa europeia, e não dos atletas. “O jogador quer ganhar, o técnico quer fazer o time vencer. A imprensa é que trata com desdém”, analisa. Para ele, os bons jogos dos clubes brasileiros contra Chelsea, PSG e Borussia fizeram os europeus “abrirem os olhos”. “Não estamos falando de times que chegaram lá por acaso, mas que mereceram estar no Campeonato Mundial.”

“Aqui não é um deserto”

A vitória do Botafogo sobre o Paris Saint-Germain, que quebrou um jejum de 13 anos sem vitórias de clubes brasileiros sobre europeus no Mundial, foi um marco, na visão do jornalista. “Criou-se muito essa mística por conta do 7×1 [placar da derrota devastadora do Brasil contra a Alemanha, na Copa do Mundo de 2014], por conta da má fase da seleção. Mas […] os jogadores brasileiros e argentinos estão na Europa porque lá tem mais dinheiro. Nós temos qualidade, mostramos isso. O futebol brasileiro está mostrando que aqui não é um deserto, nunca foi um deserto e nunca será um deserto”, destaca.

Ferreira cita as conquistas recentes do Flamengo na Libertadores e o desempenho do Fluminense contra o Borussia como exemplos da força do futebol brasileiro. Ele projeta um futuro animador também para o futebol feminino, com a possível criação de um Mundial de Clubes para mulheres. “Imaginem que legal vermos o Corinthians jogando com o Barcelona, um Lyon da Tainara enfrentando um São Paulo”, diz.  “A Fifa tem na mão um grande produto, fazendo aquilo que sempre pedimos, que é levar o futebol para as mais diferentes partes do mundo e proporcionar que consigam participar dessa festa”, comemora.

Com a fase de grupos encerrada, o chaveamento promete confrontos acirrados. Um dos destaques é o embate entre Palmeiras e Botafogo, que se enfrentam nas oitavas de final. “O Palmeiras do [treinador] Abel [Ferreira] é aquele time que quando você acha que está morto, está vivo realmente”, comenta o jornalista. Já o Botafogo, mesmo com o desfalque de Gregore, que levou um cartão amarelo, “está entendendo como jogar essa competição” e soube aproveitar o calor e a maratona de jogos a seu favor.

Ferreira acredita que ao menos um dos dois clubes brasileiros chegará à semifinal, enfrentando o Benfica e o Chelsea. “Flamengo e Botafogo já mostraram que o bicho não é tão feio assim. Dá para chegar”, afirma.

Racismo ainda mancha o futebol mundial

Apesar do bom nível técnico, o Mundial de Clubes também escancarou outro problema estrutural do futebol: o racismo. Pela primeira vez, um árbitro relatou oficialmente um caso durante o torneio. Foi o brasileiro Ramon Abate Abel, em partida entre Real Madrid e Pachuca. O zagueiro alemão Antonio Rüdiger denunciou insultos racistas de um jogador mexicano.

“O futebol, o esporte no geral, é reflexo da sociedade”, lamenta Luiz Ferreira. Ele critica a postura hesitante da Fifa em enfrentar o problema. “Se nem a Fifa colabora direito e dança conforme a música, dependendo de onde estão sendo feitas as suas competições, o que podemos esperar do jogador, da torcida? O exemplo tem que vir de cima. Se a Fifa realmente quiser punir o racismo, o racismo vai ser punido”, defende.

“Racismo não tem mais espaço. […] O futebol é tratado como esse espaço para as pessoas colocarem todas as suas frustrações, mas não é assim”, conclui.

Para ouvir e assistir

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.

O post ‘Futebol não é só europeu’: Mundial de Clubes mostra qualidade brasileira e equilíbrio entre países, avalia jornalista apareceu primeiro em Brasil de Fato.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.