A árvore mais solitária do Espírito Santo: o jequitibá-rosa da BR-101

Jequitibá-rosa centenário iluminado pelo pôr do sol, às margens da BR-101, no Espírito Santo
Jequitibá-rosa com mais de 200 anos é destaque na paisagem da BR-101 ao pôr do sol. | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios
Jequitibá-rosa centenário iluminado pelo pôr do sol, às margens da BR-101, no Espírito Santo
Jequitibá-rosa com mais de 200 anos é destaque na paisagem da BR-101 ao pôr do sol. | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios

Em minha última viagem para Itaúnas, fiz algo que adiei por anos: parei para registrar uma velha conhecida. Uma majestosa árvore. Não qualquer árvore, um jequitibá-rosa imponente, solitário, às margens da BR-101, em Linhares. 

Desde criança, acompanho essa árvore pelas janelas do carro — uma “farol” verde em meio às viagens que cortavam o Espírito Santo, um marco natural entre um destino e outro.

Jequitibá-rosa centenário iluminado pelo pôr do sol, às margens da BR-101, no Espírito Santo
Vista aérea revela a imponência de um jequitibá-rosa centenário às margens da BR-101, no município de Linhares (ES). | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios

Sempre soube que era um jequitibá, mas não conhecia sua história. Ao procurar por “árvore solitária BR-101”, o Google entregou a resposta com a precisão de quem já ouviu essa pergunta muitas vezes. 

Isso me tocou. A palavra “solitária” estar associada a uma árvore tão imponente… Trata-se de um jequitibá-rosa, com mais de 200 anos, classificado como Vulnerável na lista de espécies ameaçadas de extinção da (União Internacional para a Conservação da Natureza) IUCN, poupado durante as obras de pavimentação da rodovia nos anos 1970. Desde então, resiste ali, como um sobrevivente de tempos menos conturbados.

Jequitibá-rosa centenário iluminado pelo pôr do sol, às margens da BR-101, no Espírito Santo
No coração do Espírito Santo, um jequitibá-rosa resiste ao tempo e ao avanço da estrada em Linhares. | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios

Uma árvore que resistiu ao progresso

Essa árvore, além de ser um ponto de referência geográfica, é um símbolo vivo que sobreviveu ao desmatamento, à monocultura e à pressa de um modelo de desenvolvimento que, em nome do “progresso” (já vamos falar sobre esse termo em breve), destrói o que há de mais essencial: a própria vida.

Quando sobrevoei o local com um drone, o sol se despedia tingindo o céu com cores suaves. A cena era esteticamente bela, mas me doía por dentro. A beleza daquele jequitibá isolado reforçava a solidão de uma natureza sitiada. Uma imagem para ser sentida por muitos… “porque eu deveria sentir isso sozinho?”, pensei.

Jequitibá-rosa centenário iluminado pelo pôr do sol, às margens da BR-101, no Espírito Santo
Do alto, a copa gigante do jequitibá-rosa se destaca entre as margens da BR-101, símbolo vivo da Mata Atlântica capixaba. | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios

Um farol que aponta para onde erramos

A gigante solitária, para mim, sempre funcionou como um marco em minhas viagens. Um farol. 

Ela não só indicava a distância do destino. Ela apontava também para o quanto deixamos para trás. Sabia, além de quanto faltava para o meu destino, e também, o quanto perdemos no caminho. Se me perdoam a figura de linguagem, necessária, ao meu ver. 

Um alerta, representado por essa testemunha silenciosa de uma floresta que já foi vasta, diversa, viva. Hoje, o que resta é um tronco altivo, rodeado de pasto, cercado por monoculturas, à beira de uma rodovia frenética.

“Progresso” que destrói não é progresso, é regresso

O chamado “progresso” que derruba florestas e ergue concreto por cima da biodiversidade é, para mim, um regresso disfarçado. Limpar terreno, como dizem por aí, nunca foi sinônimo de progresso. Limpar, nesse caso, é apagar, é arrancar a memória do chão. E quando se apaga a memória da natureza, o que nos resta?

A conta está chegando, e em valores cada vez mais altos: enchentes violentas, secas prolongadas, colheitas perdidas, calor sufocante. O “valor” que ganhamos, chamado de progresso, nem de longe chega aos pés do preço cobrado, como consequência, de toda a sociedade. Muitas vezes, é um caso de lucro individualizado e prejuízos socializados.

Reflexão à beira da estrada

Enquanto finalizo este texto, a imagem da árvore me volta à mente como uma espécie de crítica silenciosa. Ela está ali, dia após dia, vendo os carros passarem, o mundo correr, os homens acelerarem rumo a algum lugar. E eu me pergunto: para onde, exatamente, estamos indo? Como sociedade, quero dizer… vocês estão felizes com o andamento das coisas?

A árvore, que talvez seja a mais solitária do Espírito Santo, permanece firme, mesmo quando tudo ao redor se apaga. Prefiro vê-la como um símbolo de esperança de que ainda há tempo para mudar, desde que paremos para refletir sobre o que realmente importa. A vida.

A árvore mais vista do Espírito Santo, parece ser também a mais solitária!

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