

Em minha última viagem para Itaúnas, fiz algo que adiei por anos: parei para registrar uma velha conhecida. Uma majestosa árvore. Não qualquer árvore, um jequitibá-rosa imponente, solitário, às margens da BR-101, em Linhares.
Desde criança, acompanho essa árvore pelas janelas do carro — uma “farol” verde em meio às viagens que cortavam o Espírito Santo, um marco natural entre um destino e outro.

Sempre soube que era um jequitibá, mas não conhecia sua história. Ao procurar por “árvore solitária BR-101”, o Google entregou a resposta com a precisão de quem já ouviu essa pergunta muitas vezes.
Isso me tocou. A palavra “solitária” estar associada a uma árvore tão imponente… Trata-se de um jequitibá-rosa, com mais de 200 anos, classificado como Vulnerável na lista de espécies ameaçadas de extinção da (União Internacional para a Conservação da Natureza) IUCN, poupado durante as obras de pavimentação da rodovia nos anos 1970. Desde então, resiste ali, como um sobrevivente de tempos menos conturbados.

Uma árvore que resistiu ao progresso
Essa árvore, além de ser um ponto de referência geográfica, é um símbolo vivo que sobreviveu ao desmatamento, à monocultura e à pressa de um modelo de desenvolvimento que, em nome do “progresso” (já vamos falar sobre esse termo em breve), destrói o que há de mais essencial: a própria vida.
Quando sobrevoei o local com um drone, o sol se despedia tingindo o céu com cores suaves. A cena era esteticamente bela, mas me doía por dentro. A beleza daquele jequitibá isolado reforçava a solidão de uma natureza sitiada. Uma imagem para ser sentida por muitos… “porque eu deveria sentir isso sozinho?”, pensei.

Um farol que aponta para onde erramos
A gigante solitária, para mim, sempre funcionou como um marco em minhas viagens. Um farol.
Ela não só indicava a distância do destino. Ela apontava também para o quanto deixamos para trás. Sabia, além de quanto faltava para o meu destino, e também, o quanto perdemos no caminho. Se me perdoam a figura de linguagem, necessária, ao meu ver.
Um alerta, representado por essa testemunha silenciosa de uma floresta que já foi vasta, diversa, viva. Hoje, o que resta é um tronco altivo, rodeado de pasto, cercado por monoculturas, à beira de uma rodovia frenética.
“Progresso” que destrói não é progresso, é regresso
O chamado “progresso” que derruba florestas e ergue concreto por cima da biodiversidade é, para mim, um regresso disfarçado. Limpar terreno, como dizem por aí, nunca foi sinônimo de progresso. Limpar, nesse caso, é apagar, é arrancar a memória do chão. E quando se apaga a memória da natureza, o que nos resta?
A conta está chegando, e em valores cada vez mais altos: enchentes violentas, secas prolongadas, colheitas perdidas, calor sufocante. O “valor” que ganhamos, chamado de progresso, nem de longe chega aos pés do preço cobrado, como consequência, de toda a sociedade. Muitas vezes, é um caso de lucro individualizado e prejuízos socializados.
Reflexão à beira da estrada
Enquanto finalizo este texto, a imagem da árvore me volta à mente como uma espécie de crítica silenciosa. Ela está ali, dia após dia, vendo os carros passarem, o mundo correr, os homens acelerarem rumo a algum lugar. E eu me pergunto: para onde, exatamente, estamos indo? Como sociedade, quero dizer… vocês estão felizes com o andamento das coisas?
A árvore, que talvez seja a mais solitária do Espírito Santo, permanece firme, mesmo quando tudo ao redor se apaga. Prefiro vê-la como um símbolo de esperança de que ainda há tempo para mudar, desde que paremos para refletir sobre o que realmente importa. A vida.
A árvore mais vista do Espírito Santo, parece ser também a mais solitária!
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Espero que tenham gostado desta história. Te vejo na próxima aventura!