Drauzio Varella: uso de drogas não se resolve “em seis meses”

Dr Antônio Dráuzio Varella
Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

O médico oncologista, cientista e escritor Drauzio Varella participou nesta quarta-feira (25) de uma Conferência Magna no Palácio Anchieta, em Vitória. O evento faz parte da Semana Estadual de Política sobre Drogas, que acontece até sexta-feira (27).

Após a palestra que tratou da importância do acolhimento e da empatia e abordou a relevância da promoção de tratamentos de saúde que promovam a escuta qualificada e humanizada dos usuários de drogas, Drauzio explicou que a questão das drogas é complexa e não será resolvida em seis meses com soluções simplistas.

“É complexo, é muito difícil. Nós temos que aprender a fazer isso. Soluções simplistas não levam a nada. Não adianta ficar cobrando resultados rápidos. Isso tudo vai levar tempo para agir”.

Segundo o médico, as estratégias desenvolvidas para combater o uso de drogas envolvem diversos setores e dependem do engajamento da população para ter sucesso.

“É um problema muito complexo com o qual todos os países estão lidando. Isso é um longo processo e esse processo tem que incluir a sociedade. Eu falo a sociedade porque não é uma teoria, é a prática”.

Drauzio explicou que cada droga tem sua especificidade e efeitos no organismo, por isso, os tratamentos devem ser diferenciados. Para obter o sucesso do Alcoólicos Anônimos, exemplifica, são anos de estudos e de práticas diversas para que os resultados sejam percebidos.

Jovens usuários de drogas

Sobre o uso de drogas por jovens, Drauzio Varella ressalta que é essencial o acolhimento da família. “Quando você tem um filho doente que te esconde a doença, o que você faz? Você vai lá e procura acolhê-lo”.

Para o médico, tentar estabelecer um diálogo sobre a situação é o melhor caminho, enquanto uma postura repressiva e punitiva pode agravar o uso e aumentar as dificuldades de um tratamento.

Eu acho que é (fundamental) diálogo, conversar e procurar ajuda. Quando você tem um caso de abuso de droga, a família inteira sofre.

Drauzio aproveitou para criticar os cigarros eletrônicos. Segundo ele, além das muitas substâncias desconhecidas, há uma grande quantidade de nicotina – “às vezes até dez vezes maiores do que no cigarro comum” – que causa dependência.

“Isso que a indústria faz de ‘querer cuidar da qualidade’… Qualidade? Qualidade de uma droga que provoca dependência química, que provoca doenças pulmonares, circulatórias, câncer. Qualidade?”, provocou Drauzio.

Educação e pesquisa

A conscientização de crianças e jovens nas escolas sobre o uso de drogas é, para o médico, muito importante, mas iniciativas como o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd) ainda são “tímidas”.

A escola tem um papel importante, as famílias têm um papel mais importante ainda, mas a escola tem um papel fundamental. É ali que você está formando as crianças. Eu acho que tem que ter esses programas, tem que ter apoio governamental, apoio da sociedade especialmente.

A educação é apontada como uma das ferramentas mais eficazes para combater o uso de drogas na visão de Drauzio.

Enquanto isso, a descriminalização, segundo ele, ainda precisa ser muito estudada para se tornar algo que mostre resultados.

Dr Antônio Dráuzio Varella
Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

“Não é tão simples. Claro que eu não sou a favor de pegar o menino ou a menina que está fumando maconha e prender. Mas descriminalizar a maconha… como é que você faz? Quem vai plantar? Quem vai vender? Como vai ser comercializada? Se ela custar caro, não acaba com o tráfico. Se ela for muito barata, aumenta o consumo. Nós temos que aprender a fazer essas coisas, ver como os outros estão fazendo no mundo inteiro”, explicou.

Ações do governo do Estado

É devido à complexidade do tema que, segundo o subsecretário de Estado de Políticas sobre Drogas, Carlos Lopes, existe a Semana Estadual de Política sobre Drogas. Para ele, o principal objetivo do evento é contribuir para a divulgação do conhecimento e das evidências científicas sobre drogas.

Subsecretário de Estado de Políticas sobre Drogas, Carlos Lopes
Subsecretário Carlos Lopes. Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

“Porque essa temática de álcool e drogas é uma temática bastante carregada de mitos e preconceitos do senso comum. As pessoas constroem opiniões, defendem teses muitas das vezes sem nenhum respaldo científico”, explica.

A programação do evento continua até sexta, no Auditório do Sebrae, na Enseada do Suá, em Vitória.

Serão discutidas práticas de cuidado e tratamento para pessoas com necessidades decorrentes do uso de drogas, ações de prevenção e resultados de pesquisas que traçam o diagnóstico situacional das políticas sobre drogas no Espírito Santo.

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