
‘Não é um mistério sobre quem é o criminoso’, diz criador da série, ao defender que público conheça história. Série com equipe de ‘Blackbird’ estreia nesta sexta (27). A história real por trás de ‘Cortina de fumaça’
Uma história bizarra verdadeira é a inspiração para “Cortina de fumaça”, nova série sobre crimes reais da galera responsável pela elogiada “Black bird”.
Os dois primeiros episódios (de um total de nove) estreiam nesta sexta-feira (27) com a introdução à investigação para descobrir a identidade de dois incendiários seriais que atacam uma cidade americana.
Os protagonistas e o criador da série divergem sobre o quanto o público deveria saber sobre a história real contada no podcast “Firebug”, que inspirou “Cortina de fumaça”.
“Eu definitivamente não aconselharia ouvir o podcast antes de ver a série. Acho que isso seria um erro”, diz ao g1 o ator britânico Taron Egerton (“Rocketman”), que interpreta o perturbado investigador dos bombeiros responsável pelo caso.
Na série, ele se reencontra com o criador e roteirista Dennis Lehane, com quem trabalhou em “Black bird”. O próprio escritor, por outro lado, não se importa com “spoilers” da vida real.
“Não me incomoda se descobrirem. De forma alguma”, afirma Lehane.
“Se fizerem isso, vão entender muito rápido qual é o gancho da série e o que nós revelamos ao final do segundo episódio. Então, se as pessoas querem fazer isso, vão em frente. Não tenho vontade nenhuma de impedir isso. A série não é sobre isso. Não é um mistério sobre quem é o criminoso.”
Os depois capítulos vão ser lançados semanalmente na plataforma de vídeos Apple TV+.
Taron Egerton em cena de ‘Cortina de fumaça’
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Um homem, dois mil incêndios
Bem, se o chefão da série não se chateia, quem somos nós para contrariá-lo, certo?
Até porque a história real é quase tão inacreditável que, se não tivesse acontecido de verdade, alguns espectadores poderiam acusar a série de exagero.
Além disso, “Cortina de fumaça” até se inspira, mas não é uma adaptação direta do caso, que serve mais como um ponto de partida. A série muda, amplifica e toma liberdade com muita coisa.
Então, quem não quiser saber nada de fato pode parar de ler por aqui. Este é um último aviso.
A série se inspira no caso de John Leonard Orr, que foi preso e condenado no começo dos anos 1990 sob suspeita de cometer diversos incêndios na Califórnia.
Alguns investigadores acreditam até que ele pode ter sido responsável por cerca de 2 mil casos do tipo.
Orr era tão “prolífico” que inclusive especialistas estimam que queimadas florestais na região caíram 90% depois de sua prisão, segundo o livro “Serial Crime: Theoretical and Practical Issues in Behavioral Profiling”.
Se isso não fosse o bastante, ele também era capitão do corpo de bombeiros da cidade.
Taron Egerton e Jurnee Smollett em cena ‘Cortina de Fumaça’
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Thriller psicológico moralmente ambíguo
Se a série não é exatamente sobre o mistério – um “whodunnit”, como chamam nos Estados Unidos –, então é sobre o que?
“Vira mais um thriller psicológico no qual você está examinando a mente desses personagens e algumas das coisas muito ruins e assustadoras que eles todos fazem. Nenhum deles é quem diz ser. Nenhum deles é 100% bom ou 100% mau”, explica Jurnee Smollett (“Lovecraft Country”), intérprete da detetive de polícia que se junta à investigação.
“Como ator, como alguém que costuma interpretar mais papéis ‘heróicos’ como em ‘Kingsman’ ou até Elton John, é uma grande oportunidade de subverter a expectativa”, fala Egerton.
“Porque o Dave com certeza pensa em si mesmo como um herói, mas também tem alguns segredos bem sombrios que não se encaixam nesse arquétipo.”
Essa expectativa do público em relação aos próprios atores – Smollett também é mais conhecida como a super-heroína Canário Negro, do filme “Aves de Rapina” – ajudou na decisão de Lehane em escalá-los.
“Nós sabíamos que Taron trazia toda essa boa vontade das pessoas. Ele é um cara muito charmoso. O mesmo com a personagem da Michelle, que nós criamos inicialmente para ser um contraponto ao Dave e rapidamente percebemos que ela é tão perturbada quanto ele”, conta o autor.
Lehane, conhecido por livros como “Sobre meninos e lobos” e “Ilha do medo”, cria aqui sua segunda série inspirada em crime real com Egerton como protagonista.
Mas o escritor jura que é apenas coincidência.
“Para ser honesto, em ‘Black bird’, eu me senti encurralado pela verdade. Jurei para mim mesmo que nunca faria isso novamente. Então, este agora é o exemplo perfeito.”
“É inspirado por uma história real, mas é muito mais maluco. Todos os personagens, com exceção dos dois incendiários, não têm contraparte na vida real. Não há ninguém como eles. Eles são criações. Ficção.”
Taron Egerton em cena de ‘Cortina de fumaça’
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