Metade das pessoas donas de motos não tem habilitação


A Senatran comparou o registro de CNHs para motos com o de proprietários e descobriu que 50,4% dos donos de motocicletas não têm habilitação: 16,5 milhões. Metade das pessoas donas de motos não tem habitação
Reprodução/Jornal Nacional
Um levantamento da Secretaria Nacional de Trânsito que metade das pessoas donas de motos não tem habilitação. E são os motociclistas as maiores vítimas da violência no trânsito.
Lucas é motoboy em São Paulo. Ele tirou a Carteira Nacional de Habilitação há dois anos, mas conta que, antes disso, pilotou sem o documento.
“Um ano, porque não tinha condição. Eu consegui arrumar uma moto emprestada e trabalhei com a moto. E aí, depois, com o tempo, eu consegui tirar a habilitação”, conta Lucas Fernando Gouveia, motoboy.
Ele está longe de ser uma exceção. A Senatran (Secretaria Nacional de Trânsito) comparou o registro de CNHs para motos com o de proprietários e descobriu que 50,4% dos donos de motocicletas não têm habilitação: 16,5 milhões.
No Maranhão, 70% não são habilitados. No Piauí, 65%. E na Paraíba, 62%. Mesmo em Santa Catarina, estado com o menor índice (26%), um em cada quatro donos de motos não tem o documento.
Segundo a Senatran, o custo elevado para tirar a CNH — de R$ 2.500 em média, entre aulas e taxas — pode explicar a falta da habilitação.
Nas ruas de São Paulo, os motociclistas concordam.
“Tem que batalhar muito, mas nem todo mundo consegue”, diz Jeferson Gonçalves, motoboy.
O levantamento da Secretaria Nacional de Trânsito revela uma parte do problema. A outra aparece com clareza numa estatística do Ministério da Saúde: no ano passado, o trânsito matou mais de 32 mil pessoas no Brasil; 13 mil estavam em motos — mais do que o dobro das vítimas em automóveis, que vêm em segundo lugar.
O presidente do Observatório Nacional de Segurança Viária, Paulo Guimarães, não acredita que os altos custos expliquem, sozinhos, a baixa taxa de habilitação entre os motociclistas.
Ele diz que, das 27 unidades da federação, 17 oferecem a CNH Social — um programa que paga os custos para tirar a habilitação para inscritos no CadÚnico. E aponta outro problema como o maior incentivo para o desrespeito às leis de trânsito.
“O mais relevante é a falta de fiscalização. Ela é a base para que as pessoas tenham consciência da necessidade de se regularizar. E, nesse processo de regularização, têm acesso a informações importantes que vão ajudar essa pessoa a ter uma melhoria na sua visão de segurança viária”, afirma Paulo Guimarães, presidente do Observatório Nacional de Segurança Viária.
Bruno passou por esse processo. Ele se arriscou numa moto por seis anos, até tirar a CNH.
“Eu achava que pilotar moto era simples, mas depois que você começa a entender as leis — onde você pode ultrapassar, onde não pode, faixa contínua, faixa seccionada, e assim vai — aí eu melhorei, pilotando e tendo mais calma no trânsito”, diz Bruno Jesus, motoboy.
O Ministério dos Transportes disse que faz ações de segurança para motociclistas e que pretende reduzir pela metade as mortes e lesões no trânsito até 2030.
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