A cena de um drone sobrevoando plantações, colhendo dados em tempo real e aplicando defensivos com precisão, já deixou de ser futurista. No agronegócio, a tecnologia virou aliada estratégica para produtores que buscam eficiência, economia e sustentabilidade. E junto com ela, surge uma nova e promissora profissão: piloto de drone.
A demanda por esses profissionais tem crescido de forma acelerada, impulsionada pelo avanço da tecnologia e pela adoção crescente no campo. Só entre 2017 e 2022, o número de trabalhadores com essa habilidade aumentou 130%, segundo um estudo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). O salto é muito superior ao crescimento médio de empregos com carteira assinada no mesmo período (14%).
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Hoje, a atuação dos drones vai muito além das filmagens aéreas. Eles são usados para pulverizar defensivos agrícolas, monitorar lavouras, mapear o solo, medir a umidade e até identificar pragas antes que elas se espalhem. Para isso, é preciso mais que saber pilotar: é necessário entender de tecnologia de aplicação, normas regulatórias e manejo seguro de insumos.

“Nos últimos anos, a tecnologia de pulverização e aplicação por meio de aeronaves remotamente, popularmente conhecidos como drones pulverizadores, tem revolucionado a agricultura brasileira. Tenho acompanhado de perto essa transformação. As aplicações são mais precisas, reduzem o desperdício de insumos e representam menos risco à saúde do operador”, explica Edney Leandro da Vitória, professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e doutor em Engenharia Agrícola.
Coordenador do Laboratório de Mecanização e Defensivos Agrícolas da Ufes, ele relata que os drones têm mostrado resultados especialmente promissores em áreas com relevo acidentado, pequenas propriedades e lavouras de alto valor agregado, como café, mamão e banana.
“Com avanços consideráveis na regulamentação e na demanda por aplicações técnicas e responsáveis, há uma oportunidade concreta de carreira para jovens profissionais que desejam atuar no agronegócio com uma abordagem inovadora e sustentável. A formação adequada e o conhecimento técnico são fundamentais, e, por isso, iniciativas de capacitação e pesquisa são cada vez mais necessárias”, explicou Edney.
Segundo Edney, para atuar na pulverização com drones, é obrigatório ter o Curso de Aplicação Aeroagrícola Remota (CAAR), que ensina desde a configuração do equipamento até o uso correto dos defensivos.
Alta remuneração e o mercado de drones
A profissão já chama atenção também pelos salários. De acordo com a Firjan, a média salarial de um operador de drone com carteira assinada no Brasil é de R$ 8,3 mil, mas há relatos de profissionais que chegam a ganhar mais de R$ 10 mil, somando salário fixo e comissões. Isso porque a mão de obra ainda é escassa no setor.

É o que destaca Rodolfo Paulo Stanke, Head de Novos Negócios da Fotus Agro, distribuidora capixaba de drones de pulverização que representa a Eavision Drones Agrícolas no Brasil. “Hoje o mercado já observa um movimento de grandes fazendas formando equipes próprias de pilotos. Algumas já têm mais de dez equipes internas operando drones”, afirma.
A Fotus Agro, com centros de distribuição em cinco estados e escritórios comerciais em regiões estratégicas, aposta na ampliação da tecnologia no campo como motor de desenvolvimento. “A procura pelos drones cresceu muito após a regulamentação do Ministério da Agricultura e da ANAC em 2022. Desde então, o mercado escalou de vez”, diz Rodolfo.
O uso da tecnologia também tem sido visto como um fator que pode estimular a permanência de jovens no meio rural. Muitos filhos de produtores têm buscado capacitação para operar drones como forma de se manterem conectados à terra com uma nova perspectiva.
“É uma baita profissão. Surgiram os cursos de piloto, os professores de drone, e até a área de manutenção. Já tem pessoas largando outras profissões para trabalhar só com conserto e assistência técnica. É um mercado que ainda vai crescer muito”, completa Rodolfo Paulo Stanke.
Onde aprender?
Para quem quer ingressar na área, não faltam cursos de formação. No Espírito Santo, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-ES) oferece treinamentos voltados à operação de drones e à capacitação para aplicação aeroagrícola remota.
Enquanto isso, a tecnologia continua ganhando espaço no agronegócio, e os drones deixam de ser novidade para se tornarem parte essencial das propriedades. Assim como os tratores e colheitadeiras, agora também é comum ouvir que uma fazenda tem o seu próprio drone e até mesmo o seu próprio operador.
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