
O grupo agia conquistando a confiança das vítimas por meio de aplicativos de namoro ou outros meios virtuais. Após convencer as mulheres a enviarem fotos íntimas, os integrantes passavam a ameaçá-las com a divulgação das imagens. Veja ameaças feitas por quadrilha que vazava imagens íntimas de jovens
A investigação da Polícia Civil contra uma quadrilha acusada de compartilhar imagens íntimas e humilhar vítimas descobriu ameaças feitas às jovens. Cinco homens foram presos na Operação Abraccio, nesta segunda-feira (30), e mais de 200 mil arquivos com fotos e vídeos de meninas e mulheres em situações degradantes foram apreendidos.
Em uma das conversas, um dos bandidos finge estar com ciúmes de uma vítima e ela se defende: “Meu Deus, eu não troquei mídia com ninguém enquanto estava com você. Por favor, não faz nada”.
Então, ele responde desafiando-a a se automutilar: “Sabe usar uma gilete, cachorra? Vou acabar com sua vida inteira”.
Em outra conversa, o criminoso ameaçava vazar as imagens para a mãe de uma das jovens:
“Prefiro que coma no pote do cachorro, comigo pisando na sua cabeça”.
A jovem implora: “Cara, minha mãe não tem nada a ver com isso. Me vaza, mas não usa nome dela”.
A diretora do Departamento Geral de Polícia de Atendimento à Mulher (DGPAM) afirma que elas eram obrigadas a se mutilar, escrevendo os nomes dos homens em partes do corpo, para não terem as fotos vazadas.
A ação aconteceu em 21 municípios em 8 estados – Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Bahia, Amazonas, Goiás, Piauí – e no Distrito Federal e contou com a participação de mais de 160 policiais.
“Os vídeos são muito fortes. São vídeos com conteúdo misógino e racista, com xingamentos. Foram inúmeras violências praticadas ali. Eles também exigiam sacrifício de animais que essas vítimas tinham. Porque o objetivo era que elas sofressem muito. Nada era suficiente”, disse a delegada Fernanda Fernandes.
O grupo agia conquistando a confiança das vítimas por meio de aplicativos de namoro ou outros meios virtuais. Após convencer as mulheres a enviarem fotos íntimas, os integrantes passavam a ameaçá-las com a divulgação das imagens.
Elas eram convencidas a participar de “desafios” que contavam com várias formas de violência.
Prisões
Quatro pessoas são presas em operação em 8 estados e no DF contra quadrilha que compartilhava imagens íntimas de menores em redes sociais
Reprodução/ TV Globo
Os policiais civis cumpriram cinco mandados de prisão. Uma pessoa está foragida. Os presos são:
Victor Bruno Tavares de Oliveira, 20 anos;
Gustavo Barbosa da Silva, 19 anos;
Gustavo Oliveira Viana, 18 anos;
João Vitor Franca de Souza, 24 anos;
Pedro Henrique da Silva Lourenço, 20 anos
A delegada Gabriela von Beauvais definiu as cenas das imagens apreendidas como “horrendas”.
“É um grupo criminoso misógino que visava humilhar meninas e mulheres através de violência psicológica, violência física e violência sexual. Tudo virtualmente”, explicou.
Um dos presos é o militar da Aeronáutica Pedro Henrique Silva Lourenço que, de acordo com a polícia, é suspeito de aliciar as vítimas, que eram obrigadas a participar de “desafios” nos quais eram obrigadas a se automutilar. Quem não cumpria tinha imagens íntimas divulgadas.
Ele foi questionado, mas preferiu não se manifestar. Procurada, a Aeronáutica não respondeu.
A TV Globo não conseguiu contato com a defesa dos suspeitos até a última atualização desta reportagem.
Investigações
As investigações sobre o grupo começaram a partir da denúncia da mãe de uma menor de 16 anos, que procurou a Deam de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
“A partir daí conseguimos identificar esse autor. Ele simulava um envolvimento amoroso com a vítima e, a partir daí, ela mandou a primeira foto íntima e passou a ser coagida e ameaçada”, afirmou a delegada Fernanda Fernandes.
Ela contou que, a partir das primeiras ameaças, os “desafios” impostos pelo grupo migraram para o aplicativo Discord.
“Começaram a exigir dessa vítima, alguns ela teve que cumprir, acreditando que não ocorreriam consequências e, mesmo tendo cumprido parte deles, eles criaram outro grupo, aí sim para divulgar dados pessoais dela, da mãe da vítima. E os vídeos íntimos”, contou a delegada.
Fernanda Fernandes contou que o segundo grupo foi criado para a divulgação dos dados para os familiares da menor, com o objetivo de humilhá-la. A mãe da adolescente soube por ele que a filha estava sendo chantageada.
A partir da identificação do primeiro integrante, foi possível para os investigadores saber quem eram os outros integrantes da quadrilha.
Também foi possível para os policiais saberem quem eram as vítimas. Pelo menos 10 meninas e mulheres foram identificadas, mas o número pode ser maior.
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