TDAH virou moda? Ou você sempre teve e só agora percebeu?

TDAH
Imagem: wayhomestudio no Freepik

Você piscou… e, de repente, todo mundo tem TDAH. Aquele amigo que nunca lembra dos compromissos. A colega que começa mil projetos e não termina nenhum. A influencer que diz ter déficit de atenção e explica que é por isso que ela some das redes. Tá parecendo até que, se você não tem TDAH, tá fora de moda, né?

Mas calma. Respira. Porque esse papo não é tão simples assim. Nem tudo é modinha, nem tudo é autodiagnóstico… e, sim, muita gente viveu uma vida inteira lidando com os sintomas sem sequer saber que isso tinha nome.

E, mais importante ainda: tem tratamento, tem explicação neurológica, tem ciência — não é papo de internet, não.

Afinal, o que é, de fato, TDAH?

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) não é uma invenção da geração Z, nem do TikTok. Ele é um transtorno neurodesenvolvimental, descrito na medicina há mais de um século, e reconhecido pelos principais manuais diagnósticos do mundo, como o DSM-5 (Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais) e a CID-11 da Organização Mundial da Saúde.

Na prática, o cérebro de quem tem TDAH funciona diferente nas áreas responsáveis por atenção, organização, controle de impulsos e regulação de motivação. Isso envolve, principalmente, alterações no funcionamento de neurotransmissores como dopamina e noradrenalina.

Resumindo? É um cérebro que busca estímulo o tempo todo. E sofre quando precisa se concentrar em tarefas longas, repetitivas, burocráticas… mesmo aquelas que todo mundo acha “chatas”, mas consegue fazer.

Quem tem TDAH simplesmente não consegue da mesma forma.

Por que parece que todo mundo tem TDAH agora?

Porque, na verdade, muita gente sempre teve. O que mudou foi o acesso à informação, o aumento da conscientização, o avanço dos critérios diagnósticos e, sim, o fato de que o mundo moderno escancarou o quanto nossas rotinas são desafiadoras para quem tem um cérebro diferente.

Se antes as escolas rotulavam como “distraído”, “preguiçoso” ou “desorganizado”, hoje começamos (finalmente!) a entender que isso não é falta de esforço. É funcionamento neurológico.

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E tem mais: a pandemia e o aumento das demandas digitais — excesso de telas, notificações, trabalho remoto, sobrecarga mental — fizeram com que muitos sintomas se agravassem, trazendo à tona dificuldades que antes ficavam meio camufladas no cotidiano.

Mas cuidado: nem tudo é TDAH

Nem todo esquecimento, ansiedade ou dificuldade de foco é sinal de TDAH. Cansaço extremo, burnout, excesso de estresse, depressão, ansiedade, sono ruim, uso excessivo de telas — tudo isso também bagunça o funcionamento da atenção e da memória.

Por isso, o diagnóstico precisa ser feito de forma criteriosa, por profissionais capacitados. Não existe teste online, não existe checklist mágico. O diagnóstico envolve uma avaliação clínica detalhada, histórico de vida, presença dos sintomas desde a infância e impacto real na vida pessoal, acadêmica, profissional e social.

E sim, existe até neuroimagem e estudos que mostram diferenças reais no cérebro de pessoas com TDAH, especialmente nas conexões do córtex pré-frontal, nos gânglios da base e nos sistemas de dopamina e noradrenalina. Isso é neurologia, não é opinião.

E tem tratamento? Claro que tem!

O tratamento do TDAH é multimodal. Inclui:

  • Psicoeducação: entender como seu cérebro funciona já muda muita coisa.
  • Terapia: principalmente Terapia Cognitivo-Comportamental, que ajuda a criar estratégias para lidar com os desafios.
  • Medicação: sim, os estimulantes (como metilfenidato ou lisdexanfetamina) são seguros, bem estudados e trazem melhora significativa na qualidade de vida — quando bem indicados.
  • Organização da rotina: qualidade do sono, atividade física e redução de sobrecarga digital são pilares fundamentais.

Se é tão sério, por que tanta resistência?

Porque existe preconceito. Porque por anos disseram que era “frescura”, “falta de disciplina” ou “criança mal criada”. E porque, infelizmente, a banalização nas redes sociais gerou desconfiança: parece que virou desculpa para tudo.

Só que quem vive na pele sabe que não é moda, não é charme, não é desculpa. É sobre passar uma vida lutando contra uma mente que funciona diferente, sem entender por quê.

E se eu me identifiquei?

Se esse texto bateu diferente aí, se você percebe que sua vida inteira foi marcada por esquecimentos, desorganização, hiperatividade mental, dificuldades para concluir tarefas, explosões de energia seguidas de exaustão… talvez valha a pena investigar.

Mas, spoiler importante: não é um vídeo do Instagram, nem um teste de cinco perguntas no Google que vai te dizer se você tem TDAH. É uma avaliação de verdade, feita por quem entende de cérebro e comportamento.

Informação salva vidas. Autoconhecimento transforma. E neurologia, meus amigos, é muito mais sobre entender pessoas do que vocês imaginam.

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