
Mesmo antes de entrar em vigor, a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros já começa a causar impactos no setor de rochas ornamentais do Espírito Santo. O alerta é grande: apenas em 2024, os Estados Unidos responderam por 56,3% das exportações brasileiras do setor, o equivalente a US$ 711,1 milhões. Desse total, o Espírito Santo foi responsável por 82,3%, com US$ 672,4 milhões em embarques para o mercado norte-americano. Em entrevista à Coluna Mundo Business, o presidente do Centrorochas, Tales Machado, detalhou como o setor tem atuado para mitigar os efeitos do ‘tarifaço’ anunciado por Donald Trump.
Perda de competitividade e risco de recuo industrial estão entre as preocupações
Desde o anúncio de Trump, na última quarta-feira (09), empresas capixabas passaram a receber comunicações de clientes americanos solicitando o adiamento de embarques de rochas ornamentais – devido à cautela com o novo cenário e incertezas sobre a aplicação da medida, aponta o presidente do Centrorochas.
“Diversas empresas já foram notificadas para não embarcar pedidos que chegariam após o dia 1º de agosto. Ainda não há cancelamentos formais de pedidos, apenas de embarques, mas esse é um sinal claro de cautela e insegurança. A medida ameaça o desempenho de mais de 200 empresas exportadoras brasileiras e compromete uma cadeia produtiva que gera cerca de 480 mil empregos diretos e indiretos no país”, afirma.
Segundo Tales, a principal preocupação do setor é ‘perder espaço’ para outros fornecedores internacionais como Itália, Turquia, Índia e China – que seguirão com tarifas inferiores.
“O grande receio é perdermos a competitividade. A indústria capixaba de rochas foi construída ao longo de décadas. No início, só exportávamos blocos, então começamos a ir para o exterior, participar de feiras e buscar uma aproximação com o mercado internacional. Hoje, estamos entre as melhores do mundo. A alíquota coloca todo esse esforço em risco, pois o mercado americano é muito organizado. Se a tarifa for mantida, eles vão buscar fornecedores em outros países. E esse espaço perdido pode não ser recuperado”, destaca.
Para mitigar os efeitos e buscar reverter o ‘tarifaço’, o setor tem buscado apoio de outras entidades – entre elas, o Natural Stone Institute (NSI), dos Estados Unidos –, e do Governo do Espírito Santo.
“Logo que a medida foi anunciada, procuramos o NSI, que é a associação de rochas dos EUA. Eles marcaram uma reunião com o governo americano nesta semana para pautar a questão das rochas naturais, defendendo o mercado brasileiro. Também estamos em contato direto com o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, e com o vice-presidente, Geraldo Alckmin, trabalhando justamente essa pauta e pedindo uma negociação ou ação diplomática, pois o Espírito Santo será muito prejudicado. Além do setor de rochas, teremos grandes impactos em produtos como café e aço”, completa Machado.