
Presidente do Brasil, Luíz Inácio Lula da Silva, e o presidente dos EUA, Donald Trump.
Kazuhiro Nogi e Jim Watson/AFP
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quinta-feira (17) que, se Donald Trump tentasse fazer no Brasil o que fez no Capitólio, “certamente seria julgado e preso”.
O petista subiu o tom contra o presidente dos Estados Unidos durante participação no 60º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Goiânia (GO).
“Se o Trump morasse no Brasil e ele tentasse fazer aqui no Brasil o que ele fez no Capitólio, certamente ele também estava julgado e poderia ser preso”, declarou Lula.
O petista se referiu à invasão, em 6 de janeiro de 2021, à sede do Poder Legislativo estadunidense, quando apoiadores de Trump tentaram impedir a confirmação da vitória do democrata Joe Biden sobre o republicano.
Ao se referir ao tarifaço imposto por Trump contra produtos brasileiros, Lula disse que está disposto a negociar e que o presidente dos Estados Unidos não negociou “10%” do que o petista afirma ter negociado ao longo da sua vida política.
“Eu tenho certeza que o presidente americano jamais negociou 10% do que eu negociei na minha vida, jamais. Se tem uma coisa que eu sei na vida é negociar. Por isso que o Brasil é um defensor do multilateralismo”, afirmou o presidente.
Ainda sobre o tema, Lula disse que o Brasil não aceitou a forma como Donald Trump anunciou a tarifa adicional de 50% contra produtos brasileiros.
“Trump mandou uma carta via o e-mail dele dizendo que, a partir do dia 1º de agosto, se não liberar o Bolsonaro, que vai taxar em 50%. Nós vamos responder da forma mais civilizada possível e da forma que um democrata responde”, declarou.
“Nós não aceitamos que ninguém, ninguém de nenhum país fora do Brasil, se meta nos nossos problemas internos que são dos brasileiros. Não é um gringo que vai dar ordem a este presidente da República”, completou Lula.
O presidente comentou a carta que Trump enviou anunciando tarifaço. “A carta não fala em negociação, a carta é o seguinte: ou dá ou desce. É essa a lógica da carta. ‘Ou libera o Bolsonaro porque o filho dele está aqui me enchendo o saco: Liberta meu pai, liberta meu pai, liberta meu pai'”, disse.
O petista também disse que o Brasil pretende cobrar impostos sobre as big techs norte-americanas que operam no país.
“Esse país só é soberano porque o povo brasileiro tem orgulho desse país. A gente vai julgar e vai cobrar imposto das empresas americanas digitais”, afirmou.
‘Traidores’ do Brasil
A ‘escolha de Sofia’ de Lula
Durante o discurso, Lula voltou a atacar o ex-presidente Jair Bolsonaro e familiares. Lula afirmou que eles devem ser tratados como “traidores” do Brasil.
“Agora, [Bolsonaro] manda o filho dele para os EUA, ‘vai lá pedir pro Trump me absolver, vai lá, vai lá pedir, vai’. E fica abraçado na bandeira americana, esse patriota falso. Nós vamos tomar a bandeira verde e amarela. A bandeira verde e amarela vai voltar a ser do povo brasileiro”, disse Lula.
“Na verdade, eles, agora, têm que ser tratados por nós como os traidores do século 20 e do século 21 da história deste país. Ele que não venha mais falar da bandeira verde e amarela. Ele que tenha vergonha, se esconda na sua covardia e deixe esse país viver em paz, porque eles não tiveram nenhuma preocupação com os prejuízos que essa taxação [imposta pelos EUA] vai trazer ao povo brasileiro”, concluiu o petista.
Crítica aos partidos de esquerda
Lula aproveitou o evento da UNE para fazer uma crítica aos partidos de esquerda – a entidade historicamente é liderada por estudantes ligados à legendas de esquerda.
O presidente afirmou que é preciso se perguntar o motivo de o PT ter vencido cinco eleições presidenciais, mas ser minoritário no Congresso Nacional. A crítica se estendeu, também, ao PC do B e ao PSB.
“Será que o povo está nos compreendendo? Será que o povo está nos entendendo?”, indagou.
O presidente lembrou que no próximo ano há eleição, o que exige essa reflexão para entender as razão da dificuldade da esquerda eleger um maior número de deputados e senadores.
“Esse é um desafio para UNE pensar, para a juventude pensar”, disse.