A população do distrito de Águas Claras, em Viamão, na região Metropolitana de Porto Alegre, está organizada contra a instalação de poços artesianos pela empresa Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), atualmente sob administração da Aegea. A principal preocupação da comunidade diz respeito à possibilidade de captação em larga escala da água subterrânea local para o fornecimento a outros municípios da região, como Canoas, Alvorada e a capital Porto Alegre.

O movimento é coordenado pela Associação de Moradores de Águas Claras e tem apoio de entidades ambientais e moradores da região. Com o nome “Pela Manutenção Sustentável da Água em Águas Claras”, a mobilização prepara um protesto para o dia 19 de julho, às margens da RS-040, principal rodovia de acesso ao distrito. O ato foi anunciado como pacífico e contará com faixas, cartazes, caminhadas e carro de som.
Projeto prevê retirada de milhões de litros por dia
Segundo dados reunidos por moradores contrários ao projeto, a proposta da empresa prevê a retirada de um volume diário entre 47,5 e 77,7 milhões de litros de água, o que equivale a até 25 vezes o consumo atual do distrito, estimado em aproximadamente 3 milhões de litros por dia para cerca de 20 mil habitantes.
Para o presidente da Associação de Moradores de Águas Claras, Omar Fraga, a comunidade teme que a medida prejudique o abastecimento local. “Sempre cavamos nossos próprios poços, com nossos próprios recursos. A água aqui é nossa e sempre foi cuidada pela comunidade”, afirma.
Riscos ambientais são apontados
Moradores e ambientalistas também alertam para possíveis impactos em ecossistemas da região, como os banhados do Pacheco, Chico Lomã, Gravataí e Lombas. Esses ambientes são considerados frágeis e essenciais para a manutenção da biodiversidade local.

O vereador Marco Antônio Borrega (PDT), que acompanha a mobilização, reforça a necessidade de cautela: “O aquífero não é infinito. Se a retirada for em volume elevado, haverá impacto nas nascentes, nos poços existentes e na fauna dos banhados. Isso precisa ser debatido com dados técnicos e participação da população”.
Concessão à iniciativa privada gera críticas
Outro ponto de insatisfação entre os moradores é o modelo de concessão à iniciativa privada. Atualmente, muitas famílias utilizam água de poços próprios e não pagam pelo serviço. A possível transição para um sistema tarifado gera resistência.

“Se essa captação ocorrer, além de perdermos a água, também poderemos ter que pagar por algo que sempre foi de uso livre da comunidade”, pontua Fraga, afirmando que os moradores não foram consultados.
A ambientalista Iliete Citadin, moradora da região e uma das organizadoras do protesto, também se posiciona contra a iniciativa. “Estão propondo a retirada de água perto de áreas sensíveis como a Colônia das Lombas. A população é contra e vai se manifestar. Essa água é nossa, e precisamos defendê-la.”
Mobilização pede alternativas e participação popular
Os moradores planejam acionar o Ministério Público e buscar apoio de entidades acadêmicas, organizações da sociedade civil e representantes do Legislativo. A ideia é que o tema seja debatido com base técnica e respeitando o direito da comunidade de decidir sobre os recursos naturais da região.
“Águas Claras já diz no nome: aqui, a água é um bem precioso”, reforça Fraga. “Não podemos permitir que seja explorada sem pensar nas futuras gerações.”
O Brasil de Fato entrou em contato com a empresa Corsan sobre as denúncias e até o fechamento da matéria ainda não houve retorno. O espaço permanece aberto para manifestações.

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