
Quando pensamos em crianças superdotadas, a imagem mais comum é a da criança prodígio: alguém que aprende a ler aos três anos, toca piano aos cinco e, aos dez, está resolvendo cálculos complexos.
Essa visão romântica, embora popular, distorce a realidade da superdotação e contribui para o apagamento de muitas crianças com altas habilidades que não se encaixam nesse perfil idealizado.
Tipos diferentes de superdotação
A superdotação não é sinônimo de desempenho escolar impecável ou talentos artísticos evidentes desde cedo. Muitos superdotados passam despercebidos justamente porque seu brilho não aparece onde o olhar tradicional costuma focar.
Isso acontece porque, além da inteligência cognitiva elevada, a superdotação pode vir acompanhada de alta sensibilidade emocional, pensamento acelerado, dificuldade de adaptação social, resistência a tarefas repetitivas e até comportamentos que confundem pais e professores, como desatenção ou questionamento excessivo de regras.
Ambientes desestimuladores
Essas crianças muitas vezes sofrem por se sentirem diferentes. Podem se frustrar com a lentidão do ambiente escolar, se entediar com facilidade ou desenvolver ansiedade por não conseguirem corresponder às expectativas de serem “excepcionais” o tempo todo.
Há também aquelas que, por medo de rejeição, escondem suas habilidades para se ajustarem ao grupo. É o chamado underachievement, quando a criança superdotada rende abaixo do seu potencial.
Além disso, vale lembrar que nem sempre o ambiente em que a criança vive favorece o florescimento de suas capacidades. A ausência de estímulos adequados, a falta de compreensão dos adultos e o uso de métodos educacionais engessados podem sufocar talentos promissores. Brilhar exige mais do que um QI alto: requer acolhimento, oportunidades e, sobretudo, vínculo.
Desconstruindo o mito da criança prodígio
Desconstruir o mito da criança prodígio é fundamental para que possamos enxergar a superdotação de forma mais realista e respeitosa. É necessário compreender que cada criança tem seu tempo, seu jeito de aprender, seus desafios e seus modos de se expressar.
Nem toda criança superdotada se destacará nas notas ou receberá medalhas, mas isso não a torna menos merecedora de atenção e suporte.
LEIA TAMBÉM | Canetas emagrecedoras e mau hálito: o que quase ninguém fala
O papel da família e da escola é criar um ambiente emocionalmente seguro e intelectualmente estimulante, onde a criança possa desenvolver seu potencial de maneira saudável e equilibrada. Isso inclui escuta ativa, liberdade para explorar interesses, incentivo à criatividade, acolhimento das emoções intensas e adaptação de estratégias pedagógicas.
A superdotação é um universo complexo e fascinante, mas para que ele não se transforme em fonte de sofrimento, é preciso olhar para além do brilho aparente e se comprometer com o cuidado genuíno. Porque, mais do que brilhar, toda criança precisa pertencer, ser compreendida e sentir-se valorizada exatamente como é.