Abandono de animais e o papel das ONGs: uma causa que também é nossa

Cachorro abandonado
Foto: Canva

*Artigo escrito por Maria Beatriz Fraga Costa, doutoranda em Biotecnologia, médica veterinária, bióloga, imaginologista com atuação em diagnóstico por imagem e professora do curso de Medicina Veterinária da Faesa.

Quem nunca cruzou com um animal abandonado na rua, magro, assustado, muitas vezes doente? Infelizmente, essa é uma cena comum em grandes cidades e capitais como Vitória.

Por trás de cada história de abandono há dor, descaso e, muitas vezes, a ausência de políticas públicas eficientes. Mas, em meio a esse cenário, uma rede silenciosa e resistente segue atuando: as ONGs de proteção animal.

Essas organizações, quase sempre sustentadas por voluntários e doações, fazem um trabalho heroico. Acolhem, tratam, alimentam, cuidam e, com sorte, conseguem encaminhar esses animais para adoção. No entanto, vivem com a corda no pescoço. Falta ração, falta medicamento, falta espaço, falta apoio. O que não falta é amor – e trabalho.

O abandono de animais não é só uma questão de responsabilidade individual, mas um problema social – e, além disso, é crime!

Especialistas entendem que abandonar um animal, deixando-o exposto à fome, frio, sede, riscos ou sofrimento, configura maus-tratos, conforme o artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98), com pena de detenção de 3 meses a 1 ano e multa. Se o animal for cão ou gato, a pena aumenta para 2 a 5 anos de reclusão, multa e proibição de guarda.

Maria Beatriz Fraga Costa, médica veterinária e bióloga
Maria Beatriz Fraga Costa é médica veterinária e bióloga. Foto: Divulgação

Como toda questão social, esse problema precisa de soluções coletivas. Nesse ponto, as ONGs não deveriam estar sozinhas. É necessário que a sociedade – e especialmente o poder público – assuma o seu papel. Projetos de castração, campanhas educativas e incentivo à adoção responsável são caminhos fundamentais.

Mas também há boas notícias. Projetos como o “Bem-Estar Animal e Solidariedade”, desenvolvido por estudantes de Medicina Veterinária e Direito da Faesa Centro Universitário em parceria com as ONGs Patinhas Carentes e Vira Lata Vira Luxo, mostram que é possível fazer diferente.

Por meio de visitas a abrigos, ações educativas, campanhas de arrecadação e adoção, estudantes têm colocado a mão na massa e aprendido que cuidar de animais é, também, cuidar da sociedade.

Essa aproximação entre universidade e comunidade é um exemplo de como podemos transformar a realidade. Não se trata apenas de ensinar técnicas veterinárias, mas de formar profissionais conscientes, empáticos e comprometidos com o mundo ao seu redor.

A proteção animal precisa deixar de ser vista como um tema “menor” ou “opcional”. Ela está diretamente ligada à saúde pública, à educação, à justiça social. Ao cuidarmos dos animais, cuidamos também das pessoas – especialmente as mais vulneráveis, que muitas vezes dividem o pouco que têm com seus bichinhos.

As ONGs fazem o que podem, com muito pouco. O que elas realmente precisam é de mais apoio, mais visibilidade, mais parceria. O abandono de animais não vai acabar amanhã, mas ele pode diminuir se cada um de nós assumir um pouco da responsabilidade. Seja adotando, castrando, doando, divulgando ou simplesmente respeitando.

Cuidar dos animais é, acima de tudo, um ato de humanidade. E a sociedade que cuida dos seus animais certamente será melhor para todos nós.

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