Bolsonaro nega que pretendesse fugir, classifica medidas restritivas como ‘humilhação’ e diz que vai perguntar a Michelle sobre pen drive


Ainda de manhã, depois de colocar a tornozeleira, Jair Bolsonaro negou que pretendesse fugir. Disse que as medidas eram desnecessárias — e as classificou como uma humilhação.
Repórter: Presidente, a decisão do Moraes fala em obstrução de Justiça. Em algum momento o senhor tentou obstruir a Justiça?
Bolsonaro: Desconheço.
Repórter: Que pen drive era esse no banheiro da sua casa?
Bolsonaro: Não tenho a menor ideia.
Repórter: E os dólares, presidente?
Bolsonaro: Tem mais ou menos US$ 14 mil.
Repórter: Para que eram esses dólares?
Bolsonaro: Poxa, sempre guardei dólar em casa, pô. Todos os dólares pegos lá têm recibo do Banco do Brasil.
Repórter: Esse valor era declarado, presidente?
Bolsonaro: O dólar em casa está com recibo do Banco do Brasil, que tirei no corrente ano e vou declarar no ano que vem, no imposto de renda.
Repórter: Era para fugir do país?
Bolsonaro: (sem resposta)
Repórter: Presidente, qual o próximo passo? O senhor vai reconhecer a algum organismo internacional?
Bolsonaro: Depende dos advogados, de como se comportar aqui o julgamento, tá ok?
Repórter: O senhor teve, em algum momento, algum tipo de intenção de deixar o Brasil?
Bolsonaro: Não. Sair do Brasil é a coisa mais fácil que tem.
Repórter: Mas houve conversas com Eduardo sobre isso?
Bolsonaro: Não conversei com ninguém. Olha… nada me coloca num plano golpista que não existiu. Nem os outros.
Repórter: O senhor acha que a tornozeleira é uma resposta à carta do Trump? E por que a suspeita de fuga, presidente?
Bolsonaro: A suspeita é um exagero. Poxa, eu sou ex-presidente da República. Tenho 70 anos de idade. Suprema humilhação. É a quarta busca e apreensão em cima de mim.
Repórter: O Eduardo vai continuar nos Estados Unidos?
Bolsonaro: Eu acredito que sim.
Repórter: Não vai mudar essa estratégia por conta dessa ação?
Bolsonaro: Se ele vier pra cá, vai ter problemas.
Repórter: A decisão diz que o senhor estaria atuando junto com seu filho Eduardo para tentar ir contra a democracia brasileira, coagir o processo penal.
Bolsonaro: Você acha que o parlamento americano ia fazer alguma coisa contra a democracia brasileira? Pelo amor de Deus. Ele não tá lá no parlamento da Venezuela, nem do Irã.
Repórter: O senhor confirma que pediu o passaporte para poder conversar com o Trump?
Bolsonaro: Eu pedi junto da imprensa. Não é que eu pedi, eu sugeri.
Repórter: Sobre o almoço: com quais embaixadores?
Bolsonaro: Não, não, não, não… Não vou falar, pô. Eu tenho mais contato com embaixadores que o próprio ministro das Relações Exteriores.
Repórter: Mas no entendimento do Brasil a taxação é devido à sua não anistia, né?
Bolsonaro: Não. Na primeira carta dele, ele fala na questão de liberdade de expressão. Fala meu nome e fala também da forma como, na parte comercial, o Brasil tem tratado os Estados Unidos.
Repórter: Mas ele cita “caça às bruxas”.
Bolsonaro: Ah, pergunta pra ele por que são caça às bruxas.
Repórter: O senhor não concorda com o tarifaço?
Bolsonaro: Não por mim, não… você tem que conversar, pô. Não é o Brasil, é o mundo todo. O mundo… A Índia tá conversando…
Repórter: Mas não foi o Eduardo Bolsonaro que articulou?
Bolsonaro: Aí, não. Não foi o Eduardo que taxou ninguém.
Repórter: O senhor acha justo que o seu julgamento seja colocado na negociação?
Bolsonaro: Pergunta pros Estados Unidos. Ele deu a opinião dele sobre esse processo.
Bolsonaro fala com a imprensa após colocar tornozeleira eletrônica
Reprodução/TV Globo
Minutos depois, Bolsonaro concedeu mais uma entrevista, na sede do PL.
Repórter: A PF acha que o senhor pode fugir. O senhor tem alguma intenção de fugir?
Bolsonaro: Pô, cara, eu não vou nem te responder isso daí.
Repórter: Ou procurar uma embaixada pra se abrigar?
Bolsonaro: Vou não. Eu não vou nem responder. Agora, vocês acham que… Olha, uma pessoa pediu pra ir no banheiro, voltou com o pen drive na mão. Eu nunca abri um pen drive na minha vida. Eu não tenho nem laptop em casa pra mexer com pen drive. A gente fica preocupado com isso. Você acha que se tivesse algo comprometedor… Eu não sou bandido. Se tivesse, estaria lá à disposição.
Repórter: O senhor acha que colocaram lá?
Bolsonaro: Não, eu não tô sugerindo nada. Eu estou é surpreso. Vou perguntar pra minha esposa se o pen drive era dela.
Bolsonaro falou à imprensa na sede do PL, em Brasília
Reprodução/TV Globo
Eduardo Bolsonaro critica operação da PF e fala em ‘invasão’ à casa do pai
Numa rede social, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) criticou a operação contra o pai.
Ele disse que recebeu com tristeza, mas sem surpresa, o que chamou de invasão da Polícia Federal à casa do pai nesta manhã.
“A decisão de Alexandre de Moraes, desta vez, se apoia num delírio ainda mais grave: acusações construídas com base em ações legítimas do governo dos Estados Unidos, iniciadas logo após o anúncio das tarifas impostas por Donald Trump ao Brasil.”
A defesa do ex-presidente também se manifestou.
Em nota, afirmou que foi surpreendida com os mandados de busca e apreensão e a aplicação do que classificou como medidas cautelares severas. Disse ainda que as ações ocorreram em função de atos praticados por terceiros — circunstância que considerou inédita no direito brasileiro. Afirmou também que as frases destacadas como atentatórias à soberania nacional jamais foram ditas por Bolsonaro.
A defesa argumentou que não parece justo ou razoável que o envio de dinheiro para o filho seja motivo para as medidas, especialmente porque ocorreu muito antes dos fatos investigados. E disse que o Supremo Tribunal Federal (STF) não fundamentou o uso de tornozeleira com indício que aponte risco de fuga.
A nota ressalta que o ex-presidente sempre compareceu a todos os atos das investigações sobre a trama golpista.
O Partido Liberal, de Jair e Eduardo Bolsonaro, declarou que recebeu com estranheza e repúdio a ação da Polícia Federal na casa do ex-presidente e na sala dele dentro da sede nacional do partido, em Brasília.
Disse que considera a medida do STF desproporcional, diante da ausência de qualquer resistência ou negativa por parte do ex-presidente em colaborar com a investigação. E reafirmou a confiança em Jair Bolsonaro.
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