Maely Coelho: “O Espírito Santo poderia ser um país”

Maely Coelho acredita que Guarapari terá muito a ganhar se houver a liberação de cassinos no Brasil. Crédito: Reprodução de TV

Um grupo empresarial bem sucedido não precisa ser especializado em apenas um segmento econômico. E no Espírito Santo o Grupo Maely é um exemplo disso. 

Na saúde, a MedSênior, uma empresa capixaba, tem mais de 240 mil clientes e faturou,  no ano passado, acima dos R$ 2 bilhões. A previsão para 2025 é aumentar esse número para R$ 3 bilhões. 

Na comunicação, a Maely Mídia OOH (Out of Home) tem 55 anos de mercado e passou por uma expansão recente. Passou a controlar a C2R Mídia, empresa inovadora que está em meios digitais dentro do transporte público em São Paulo. Por enquanto.

Quando se fala de turismo no Estado, alguns movimentos como aquisição do Clube Siribeira e do antigo Hotel Porto do Sol, em Guarapari, apontam para uma linha de investimentos do Grupo Maely na Cidade Saúde. Tudo isso ligado a mais investimentos a 20 minutos dali, na região de Buenos Aires. Para as montanhas de Guarapari, ainda há a previsão de a construção de um resort, um mini shopping e ainda um Parque dos Dinos

à frente de todos esses empreendimentos está o empresário Maely Coelho. Baiano de nascimento e radicado no ES há mais de 55 anos, ele chegou a dormir na rua. Construiu uma trajetória bem sucedida e, em 2024,  foi eleito líder do ano, no Prêmio Líder Empresarial.

Como você chegou a esse ponto?

Trabalhando. Trabalhando sério, trabalhando muito e com a família que é grande. Tenho três filhos e uma nora que também faz parte do negócio. Fomos escolhendo segmentos para ir acomodando todos, mas de forma consciente, com foco em futuro e em coisas promissoras. 

Aos poucos, a gente faz uma coisa, descobre outra. Saúde, comunicação, turismo, entretenimento… vamos levando. Como diz o ditado: “É a necessidade que faz o sapo pular”.

Com tantas opções de mercado, saúde ainda é um bom negócio no ES?

Hoje, a MedSênior tem cerca de 240 mil beneficiários e atua em oito estados: Vitória, Belo Horizonte, Brasília, São Paulo, Rio, Porto Alegre, Curitiba e Campinas. Fechamos o Sul e o Sudeste. A aceitação foi tão grande que até nós nos surpreendemos. O resultado da receptividade superou a expectativa.

Por que a MedSênior decidiu sair do ES?

Foi oportunidade. Somos a única operadora do Brasil voltada exclusivamente para a terceira idade, acima de 49 anos. E, além disso, temos como principal foco a prevenção. 

Sentimos que isso não existia no restante do Brasil. Mesmo em São Paulo e Rio, onde tudo acontece, não havia essa proposta. Hoje, temos domínio nesses dois maiores mercados nacionais. Foi um avanço muito feliz.

Como você avalia a prestação de serviço de saúde?

No Brasil, a regulamentação é nacional. As dificuldades e facilidades são as mesmas em todos os estados. O que muda são os costumes, os valores, o recurso per capita. Porém, em termos regulatórios e operacionais, é tudo igual.

A MedSênior continua a investir?

Sim, principalmente em tecnologia. Temos um centro de inovação próprio, com investimentos substanciais. Um dos projetos mais promissores é uma palmilha desenvolvida com a Universidade Federal da Paraíba, voltada para prevenção de quedas em idosos. Ela detecta fragilidades. 

O Ministério da Saúde viu com bons olhos e colocou recursos no projeto sem que pedíssemos. Isso mostra a importância da proposta.

A MedSênior será vendida?

Não. De jeito nenhum. Já recebemos diversas propostas. Cerca de 14 a 15 fundos quiseram se associar ou comprar a empresa. Um deles, inclusive, enviou um príncipe, com toda a segurança, para tentar comprar 51% da empresa. Não vendemos. 

O que fizemos foi uma associação com o Fundo Soberano de Singapura, que comprou 15% da empresa há três anos. Foi uma experiência muito positiva. Eles também têm investimentos em outros continentes.

O ES criou um Fundo Soberano. O que acha disso?

O fundo ajuda muito, principalmente startups. O Estado já gerou grandes empresas de inovação, como o PicPay. Foi uma bela jogada do governo criar esse fundo aqui também.

Como foi a entrada da Maely no mercado de comunicação em São Paulo?

Foi por acaso. Conversando com um amigo, ele mencionou uma empresa pronta, mas sem recursos para operar. Era voltada para telas internas em ônibus. Compramos 50% da empresa, mas quem toca é a Maely.

Já temos cerca de 150 a 200 ônibus operando, e vamos chegar a mais de 1.500. Quando consolidarmos lá, vamos trazer para Vitória e depois espalhar pelo Brasil.

Qual a diferença entre o mercado de São Paulo e do ES?

Aqui, vendemos. Lá, compram. Em São Paulo, os orçamentos são em milhões. As grandes agências estão lá. A estrutura é outra.

Como foi a compra do Clube Siribeira, em Guarapari? O que há no município que não há em outros lugares?

Inicialmente, apostamos em Linhares. Porém, Guarapari surgiu como oportunidade ao saber da possível liberação de cassinos no Brasil. O Espírito Santo teria direito a um. O Siribeira surgiu em leilão, e arrematamos. 

Trouxemos um arquiteto mexicano, com obras em Dubai, que desenvolveu um projeto com duas torres – hotel e residencial. Já está na Prefeitura. Pensamos o hotel com estrutura que possa se adaptar a cassino, caso seja liberado. 

A cidade tem rodovias duplicadas, aeroporto com abastecimento noturno e uma localização estratégica. É o lugar ideal para investir e empreender.

E o Hotel Porto do Sol?

Foi um investimento expressivo. Já está pronto e estamos fazendo retrofit. Se ainda existisse classificação por estrelas, seria um cinco estrelas. Em frente, há um terreno grande, o único da Praia do Morro, onde pretendemos construir até cinco torres residenciais. Já estamos conversando com construtoras.

Qual sua visão para Buenos Aires?

As montanhas da região vão crescer em torno de Buenos Aires. O lugar está a 20 minutos da praia, com 4 graus de diferença de temperatura. O ex-prefeito urbanizou a cidade. Já temos estrada, ponte, e vamos construir um hotel de montanha para conectar com o hotel de praia. 

Já construímos um mall pequeno e o Parque dos Dinos também será lá.

Como está o andamento do Parque dos Dinos?

Já temos 50% do parque funcionando em Miguel Pereira (RJ). Trouxemos para cá, mas houve uma paralisação por parte da gestão atual. Pensamos em levar para Campos do Jordão (SP), mas depois de um acordo, o projeto foi retomado aqui. Vamos inaugurá-lo em 2026. 

Também assinamos com João Pessoa (PB), onde o parque será ainda maior. O governador da Paraíba é um exemplo de incentivo ao turismo.

De um ano para cá, o que mudou no turismo do ES?

Vejo o interesse do governador em apoiar essa “indústria sem chaminé”. Fui presidente do Convention Bureau por dois mandatos. No último ano, realizamos 102 eventos, o que dá quase dois por semana. 

Vitória é linda, o aeroporto é um cartão-postal. Temos montanhas, praias, clima agradável, e precisamos ocupar o turista com atrações. O que falta é investimento em divulgação. E vejo boas intenções do governo nesse sentido, como o novo centro de convenções.

Quando entregam o Hotel Porto do Sol?

Julho ou agosto do ano que vem.

E o Siribeira?

Depende da Prefeitura. Há questões de marinha, sombreamento e licenciamento. Está fora do nosso controle.

E o Parque dos Dinos?

Inauguração prevista para julho do ano que vem.

Onde você quer chegar?

Quero retribuir um pouco do que esse Estado me deu. Cheguei aqui “puxando cachorrinha”, dormi em manilha. O Espírito Santo foi muito gentil comigo. Preciso dar algo de volta. E, claro, Deus em primeiro lugar.

O Espírito Santo é um bom lugar para empreender?

Não. É ótimo. Em todos os sentidos. O Espírito Santo poderia ser um país. Temos petróleo, cacau, granito, agronegócio forte, agricultura arrojada. Estamos centralizados. Se fôssemos um país, estaríamos muito bem localizados e com vida própria.

Maely Coelho é empresário e comanda MedSênior, Maely OOH, e investimentos em turismo no ES, principalmente em Guarapari
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