
Desde novembro de 2017, a Kamui Kimonos mantém um projeto social que oferece aulas totalmente gratuitas de jiu-jitsu para crianças, adolescentes e jovens em Feira de Santana. A iniciativa, que já atendeu mais de 500 alunos, tem como objetivo principal formar cidadãos por meio dos valores da arte marcial, como disciplina, respeito e autocontrole.
As aulas acontecem no CT Kamui – Centro de Treinamento Kamui, e hoje são conduzidas pelos filhos do idealizador do projeto, o professor Léo Kamui, ambos faixas-pretas de jiu-jitsu.
“O projeto social nasceu da ideia de possibilitar às crianças que a gente via na região, que não tinham condição de ingressar na academia de jiu-jitsu sendo aluno comercial, de dar essa oportunidade a essas crianças de praticar e conhecer o jiu-jitsu”, explicou Léo ao Acorda Cidade.
Além das técnicas de defesa pessoal, os alunos aprendem a lidar com regras, rotina e limites — lições que se estendem para a vida fora do tatame. Para participar, não é cobrada nenhuma mensalidade. A única exigência é o uso do kimono, que pode ser adquirido com o tempo.
“É totalmente de graça. A gente não cobra. Ela tem que adquirir o kimono dela. É o material de treino. A gente não exige que seja o kimono de treino produzido pela gente ou da academia. Exige que ela tenha o kimono para treinar. Também não é logo de cara, dá um tempo, ela vai treinando até se firmar e, depois disso, a gente pede que venha de kimono”, explicou o professor.

O projeto, que funciona no horário do meio-dia, hoje está com lotação máxima e possui uma fila de espera com cerca de 15 jovens. A permanência dos alunos depende da frequência e do comprometimento no tatame, mas também na sala de aula.
“Temos esse monitoramento do tatame, que é justo, que é em cima das presenças. Por isso é tão importante a presença do jovem. Se não tem uma frequência constante, ela acaba perdendo a vaga”, frisou Léo.
De ajudante de obra a atleta destaque
Um dos exemplos inspiradores de dedicação é o do atleta Ivaldo Silva Assis Santos, de apenas 20 anos. Morador do bairro SIM, Ivaldo conheceu o jiu-jitsu ajudando o pai, mestre de obras, a construir a academia da Kamui. Logo depois, ele foi convidado para conhcer o esporte. Para Ivaldo, o jiu-jitsu foi fundamental na sua caminhada pessoal e profissional.
“Acredito que minha base como homem, como cidadão, veio através do esporte. Porque o jiu-jitsu, além de dar a parte do atleta, a parte de estar competindo, vai te dar caráter, valores, vai ensinar respeito, regras, que vai me guiar, como me guiou na minha vida toda até hoje”, afirmou ao Acorda Cidade.

O jovem começou no projeto aos 13 anos e hoje já é faixa-marrom, além de competir regularmente em campeonatos nacionais e internacionais.
“Dificilmente teria oportunidade de estar lutando fora. Já lutei no Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba. Além da oportunidade de lutar, estou conhecendo novas culturas, novas pessoas, que o esporte me trouxe.”
O impacto do esporte vai além das medalhas que ele tem acumulado. Ivaldo conta que o jiu-jitsu o ajudou a superar medos como o nervosismo e a claustrofobia. Ele chorava bastante por conta do nervosismo — ganhando ou perdendo — mas, através do esporte, tem vencido essa batalha. Para quem está pensando em começar, Ivaldo deixa o convite:

“De fora é muito esquisito, muito estranho o jiu-jitsu para quem não treina. Mas faça uma aula experimental, que ela pode transformar a sua vida. Além de ser um hobby, de você aliviar, pode ser um caminho como atleta, como professor. Ou mesmo depois do trabalho, ir lá fazer uma forçinha e distrair dos problemas da vida”, indicou.
O professor Léo ainda falou sobre o orgulho em ver um aluno cumprimentá-lo com respeito, e saber que aquele jovem teve sua vida transformada por algo que começou no projeto.
“Meu maior orgulho é chegar em alguns estabelecimentos e ver um menino do projeto vir até mim e me cumprimentar, ter o respeito. Esse reconhecimento deles conosco aqui, que gera esse projeto, é fantástico. E o reconhecimento daqueles que caminham junto com a gente, a gente tem vários empresários, oficiais, militares, gente de toda a área treinando jiu-jitsu aqui conosco e ver essa emoção dos nossos alunos diante do que a gente faz é muito bom”, acrescentou o professor.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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