Cúpula dos Povos pela Paz reúne militantes de 80 países na Venezuela e fortalece aliança contra o imperialismo

A Cúpula dos Povos Pela Paz e Contra a Guerra foi realizada nesta sexta-feira (25) em Caracas e reuniu militantes de 80 países. Além do debate sobre a construção de ações efetivas para enfrentar as guerras e suas diversas faces, o evento também foi um momento de articulação internacional entre movimento populares da Ásia, África, América Latina e Europa, que compartilham lutas em comum, pautados, sobretudo, pelo enfrentamento e resistência às agressões imperialistas.

Para quem viajou à Venezuela, a troca de experiências foi o principal destaque. Ativistas de partidos progressistas, organizações de esquerda e sindicatos puderam debater estratégias e métodos usados em diferentes regiões para disputar a agenda em cada país. Esse é o caso de Igor Grabois, da Internacional Antifascista – Capítulo Brasil. Ele destacou a relevância da articulação neste momento, em que o imperialismo apresenta uma face cada vez mais violenta, mas, por outro lado, enfrenta uma contestação pela cooperação entre países do Sul Global. 

“O imperialismo assume um caráter fascista e intervém na América Latina com personagens claros, como Javier Milei, Jair Bolsonaro, Nayib Bukele, personagens que precisam ser combatidos e derrotados. A tarefa dos povos é derrotar essa expressão fascista, garantir a paz e evitar a guerra. Mas essa paz é uma paz da transformação social, da melhoria das condições de vida, da construção de uma nova ordem multilateral que respeita a soberania e a amizade entre os povos”, disse ao Brasil de Fato

Ele entende que os movimentos que participam desse encontro voltarão aos seus países com uma bagagem e um acúmulo que não tinham antes, se apropriando de outras formas de luta de diferentes espaços. O secretário-continental da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba) Movimentos, Giovani del Prete, concorda com essa ideia. Para ele, há um intercâmbio nas ferramentas usadas por cada movimento para garantir uma atuação não somente nacional, como também internacional das organizações. 

“Essas organizações estão na linha de frente da resistência em seus países, e esse evento serve como uma troca de experiências e formas de resistência para poder fortalecer esses laços. É também uma oportunidade de encontro e fortalecimento do internacionalismo dos povos, de movimentos que têm traçado estratégias de enfrentamento à máquina de guerra que afeta o mundo inteiro. E podendo aprender um com o outro estabelecendo frentes de resistências não só nacionais como internacionais”, afirma. 

A cúpula contou com três painéis. O encerramento foi feito pelo presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Jorge Rodríguez. Ele reafirmou a importância de levantar a voz contra o “pior flagelo que a humanidade conheceu nos seus tempos: o fascismo”. O congressista, que também é psiquiatra, classificou os fascistas como “sociopatas” que usam a crise do sistema capitalista para avançar a violência contra os povos.

“A intenção e o objetivo do fascista, seja seu nome Adolf Hitler, Benjamin Netanyahu ou Nayid Bukele, é destruir a condição humana, daí a gravidade e a natureza profundamente patológica desses seres profundamente desprezíveis”, afirmou. 

Rodríguez também mencionou a atuação de El Salvador na prisão de 252 venezuelanos presos nos Estados Unidos. De acordo com ele, o presidente Nayib Bukele criou campos de concentração no país que representaram a “banalidade da maldade”. Ele também defendeu a Palestina e disse que é preciso uma atuação contundente contra Israel. 

Os militantes que participaram do evento também reforçaram a necessidade de defender a causa palestina ante os ataques militares. Para Del Prete, o Brasil também acaba colaborando com o Exército israelense por comprar armamentos de Tel Aviv. 

“Aqui damos uma mensagem de solidariedade aos povos que estão em resistência. No Brasil isso tem a ver com a gente, as polícias militares compram armas de guerra israelenses para reprimir o nosso povo nas periferias, nos despejos, na repressão a movimentos”, lembra. 

Outras dimensões da guerra

María Paula Giménez é psicóloga e diretora da Agência Nodal. Em sua fala, ela abordou as múltiplas dimensões das guerras, entre elas, a cibernética, com a disputa nas redes sociais e na internet, campo que tem sido explorado com êxito pela extrema direita. 

“Eu acredito que há algo importante nas redes, de trocar, de mostrar solidariedade, de ter redes para tornar o trabalho do ativismo político diário muito mais fácil. Mas o poder se realiza nas ruas, com o povo, com a consciência com a qual, com o corpo, colaboramos, aprofundamos a construção dessa consciência, dessa capacidade de reflexão crítica, usando esta nova fase capitalista como instrumento para fortalecer nossa própria luta e lutar as batalhas que precisamos lutar”, afirmou. 

Outra questão abordada pelos palestrantes é a omissão frente às violências. Para Orlando Tardencilla, ministro assessor da Presidência para Políticas e Relações Internacionais da Nicarágua, o silêncio deve ser interpretado como uma forma de cumplicidade, que envolve também a “traição aos princípios da humanidade”. 

“O silêncio diante das invasões do imperialismo estrangeiro é uma responsabilidade que devemos assumir e combater. Evidentemente, a unidade dos povos, a unidade das forças de solidariedade, de fortalecimento, para alcançar a mais justa de todas as vitórias: pela liberdade e pela paz. Essa que seria — e que será — a melhor vitória para a humanidade: a liberdade”, afirmou.

A expressão das violências nos territórios não têm um impacto apenas atualmente, mas também deixou traumas ao longo do tempo. É o caso da Argentina Sara Mrad, uma das Mães da Praça de Maio, movimento de mães e avós que lutam pela memória e justiça de seus filhos e netos desaparecidos durante a ditadura militar. Ela participou do evento e disse que as mães tiveram que “romper o silêncio e impor a palavra com os corpos”. 

“Somos nós que temos que colocar corpo nas palavras e nas lutas cotidianas. Temos que compartilhar as experiências para compartilhar as nossas ações. As palavras que não têm corpo não servem. Não se luta somente com as palavras”, ressalta a militante argentina.

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