Edinho Silva sobre respostas a Trump: ‘Momento do povo brasileiro debater que país nós queremos’

O presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), Edinho Silva, defendeu nesta sexta-feira (25) que o Brasil reaja com firmeza e autonomia diante da ofensiva do governo de Donald Trump, que anunciou tarifas de 50% sobre importação produtos brasileiros.

Perguntado se o momento histórico e a mobilização popular em defesa da soberania nacional abrem caminho para que o governo dispute com o Congresso uma pauta mais à esquerda – próxima da que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022 –, Edinho considerou que a discussão deve partir do povo.

“Eu penso que é o momento do governo brasileiro – não só do governo, mas sob a liderança do presidente Lula – do povo brasileiro debater que país nós queremos”, afirmou o dirigente.

A declaração foi dada ao Brasil de Fato durante o Ato em Defesa da Soberania Nacional, realizado no Salão Nobre da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no Largo São Francisco, centro da capital paulista.

Edinho, que acaba de assumir a presidência do PT com o apoio do presidente Lula, avaliou que o ataque de Trump também busca minar o protagonismo do Brasil no Brics e outras alianças multilaterais. Para ele, há interesses em jogo quando se trata da atuação brasileira em tecnologias estratégicas e setores como terras raras e o Pix. “Nós não somos um puxadinho dos Estados Unidos”, afirmou.

Com trajetória ligada à comunicação e à articulação política, Edinho é visto como figura de conciliação interna no PT e nome-chave na coordenação da possível campanha de reeleição de Lula em 2026. Ao assumir o comando da sigla, afirmou que seu papel será organizar o partido para os desafios do próximo período – e, segundo ele, a defesa da soberania nacional está no centro dessa tarefa.

Confira a entrevista na íntegra

Brasil de Fato: A ofensiva de Donald Trump contra o Brasil trouxe o tema da soberania para o centro do debate. Que significados essa palavra adquire nesse momento histórico?

Edinho Silva: Olha, eu penso que nós estamos vivendo um momento histórico, né? De um ato organizado pelas entidades da sociedade civil, organizado pelas lideranças da sociedade civil brasileira, numa demonstração de defesa da nossa soberania. E eu penso que o nosso governo, o governo do presidente Lula, está acertando.

Qual deve ser a postura do Brasil diante das críticas dos EUA?

Se o debate é a questão tarifária da relação comercial entre os dois países – onde os Estados Unidos têm um superávit de 400 bilhões de dólares nos últimos 15 anos – então vamos sentar à mesa e vamos negociar, vamos conversar, achar o ponto de equilíbrio. Se é que a questão é essa, né? O diálogo tem que prevalecer. O esforço do governo do presidente Lula é pelo diálogo.

Mas se a questão é o direito do Brasil participar dos BRICS, o direito do Brasil construir relações multilaterais, construir relações econômicas que nos dê mais alternativas para as nossas exportações, importações, trocas de tecnologia, acho que esse debate tem que ser feito de forma soberana. O Brasil tem o direito de construir outras relações.

Se o debate é o Pix, um modo de pagamento que é um patrimônio do povo brasileiro, gratuito, e que pode estar ferindo interesses das empresas de crédito dos Estados Unidos, eu penso que o Brasil tem que fazer esse debate de forma soberana também. Ninguém tem o direito de dizer de que forma o povo brasileiro realiza seus pagamentos.

Se o debate são as terras raras, onde o Brasil tem 25% das reservas mundiais, o Brasil tem que fazer esse diálogo de forma soberana.

O que está por trás dessa disputa, na sua avaliação?

Eu penso que o Brasil não é um puxadinho dos Estados Unidos. Nós não somos um quintal dos Estados Unidos. Nós somos um país, nós somos um povo, nós somos uma nação – e queremos ser tratados enquanto tal, né? E esse ato diz isso: a defesa da soberania do povo brasileiro, a defesa das nossas instituições.

Trata-se de uma oportunidade para que o governo consiga impor a discussão de um programa mais à esquerda, mais próximo do que elegeu o presidente Lula em 2022, e não do que o Congresso Nacional decida como pauta prioritária?

Eu penso que é o momento do governo brasileiro – não só do governo, mas sob a liderança do presidente Lula – do povo brasileiro debater que país nós queremos.

Não só a questão da renda que o presidente Lula tem colocado, ou seja, acabar com os privilégios e acabar com a renúncia fiscal de 860 bilhões, que muitas vezes não se justifica. Eu digo que nós temos renúncia fiscal ad aeternum no Brasil. A renúncia fiscal muitas vezes se justifica para que uma cadeia produtiva se organize, se firme comercialmente, se firme economicamente.

Mas não existe nenhum lugar do mundo que tem renúncia fiscal ad aeternum. Quando a renúncia fiscal é permanente, quem paga a conta é o povo brasileiro. Porque a educação tem que funcionar, a saúde tem que funcionar, a segurança pública tem que funcionar. E se nós não estamos arrecadando, se as empresas não estão contribuindo, quem está contribuindo é o povo.

Se tem empresa não pagando tributo, ou pagando indevidamente, quem paga é quem compra o pãozinho, o arroz, o feijão, o medicamento. Nós não queremos um país de privilégios – queremos um país de igualdade de oportunidades. Então esse debate está colocado. E agora, o debate da soberania nacional.

Nós não seremos submissos a nenhum país do mundo. Queremos dialogar de forma igualitária com todos os países, mas submissão, não. Porque nós não somos um povo submisso. Nós não somos um país submisso.

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