O ativista palestino Odeh Hadalin, que participou do documentário Sem Chão (No Other Land ), vencedor do Oscar, foi assassinado nesta segunda-feira (28) por um colono israelense, afirmou codiretor do filme, Yuval Abraham. Abraham compartilhou um vídeo no X mostrando o colono Yinon Levi atirando em palestinos. Hadalin estava entre eles e morreu após ser baleado nos pulmões.
Abraham afirmou que Yinon Levi, que é sancionado pela União Europeia e pelos EUA, foi identificado por moradores como o atirador. Mais tarde, o codiretor confirmou a morte de Hadalin, chamando-a de assassinato. Yinon Levi é um dos fundadores do assentamento ilegal de Meitarim Farm, nas colinas do sul de Hebron, conhecido por liderar ataques físicos a palestinos e destruir suas propriedades.
Esta não é a primeira vez que ocorre violência contra pessoas envolvidas no documentário. Em março, o codiretor Hamdan Ballal foi atacado e detido por forças israelenses. Abraham relatou que Ballal foi espancado, sofrendo ferimentos na cabeça e no estômago, e foi mantido sob custódia durante a noite.
Ballal foi posteriormente libertado, com Abraham relatando que ele havia sido vendado, algemado e espancado em uma base militar antes de retornar para casa.
Genocídio ganha destaque no Ocidente
O documentário Sem Chão levou a questão do genocídio palestino a uma posição de destaque na principal premiação estadunidense de cinema. Dois dos diretores do filme, o palestino Basel Adra e o já citado Yuval Abraham, na entrega do Oscar, discursaram e fizeram uma forte denúncia das ações militares israelenses em Gaza e na Cisjordânia. Os outros dois diretores são Rachel Szor e o mencionado anteriormente, Hamdan Ballal.
“Há cerca de dois meses, me tornei pai, e minha esperança para minha filha é que ela não precise viver a mesma vida que vivo agora — sempre temendo a violência dos colonos, as demolições de casas e os deslocamentos forçados que minha comunidade, Masafer Yatta, enfrenta todos os dias sob a ocupação israelense”, disse Adra.
O documentário conta, justamente, a história das dificuldades que Adra enfrenta enquanto documenta a destruição de Masafer Yatta na Cisjordânia ocupada. A história também mostra sua amizade crescente com o codiretor Abraham, um jornalista israelense que passa, neste processo, a compreender as restrições, a discriminação que Adra enfrenta e a importância da resistência palestina.
“Sem Chão reflete a dura realidade que temos suportado por décadas”, afirmou também Adra na entrega do Oscar. “Pedimos ao mundo que tome ações concretas para acabar com essa injustiça e interromper a limpeza étnica do povo palestino”, completou o cineasta palestino.
“Fizemos este filme, palestinos e israelenses, porque juntos nossas vozes são mais fortes. Vemos uns e outros a destruição atroz de Gaza e de seu povo, que deve acabar”, disse Abraham no discurso do prêmio. Abraham ainda pediu a liberação dos israelenses feitos prisioneiros pelas ações da resistência palestina em 7 de outubro de 2023.
O codiretor israelense ainda teve tempo de criticar o apoio dos Estados Unidos a Isrrael. “A política externa deste país está ajudando a bloquear esse caminho [da paz]”, disse, entre aplausos. “Vocês não percebem que estamos interligados? Meu povo só estará verdadeiramente seguro se o povo de Basel for verdadeiramente livre e seguro”, disse, antes de completar: “Não há outro caminho.”
Para disputar o Oscar, os cineastas tiveram de adotar uma “tática de guerrilha”. Não houve nenhum distribuidor que aceitasse distribuir o filme nos Estados Unidos. Como o Oscar exige que a obra estreie no país para disputar a premiação, os cineastas organizaram uma exibição de uma semana no Lincoln Center, em Nova York, em novembro.
O documentário já havia conquistado outros importantes prêmios. Foi escolhido o melhor documentário no Festival Internacional de Cinema de Berlim em fevereiro de 2024, e Melhor Filme Não-Ficcional do Círculo de Críticos de Cinema de Nova York.
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