Eleições na Bolívia: com esquerda dividida, direita dispara nas pesquisas e pode voltar ao poder após 20 anos

A Bolívia se prepara para ir às urnas em 17 de agosto em um cenário inédito desde 2006: a direita lidera as pesquisas, enquanto a esquerda, que realizou mudanças estruturais no país e se mantém no poder desde 2006, chega dividida e enfraquecida. A disputa define não só quem ocupará a presidência, mas o futuro do Estado Plurinacional e do legado de quase duas décadas de avanços sociais sob governos progressistas.

O empresário Samuel Medina, ligado ao setor privatista do país, aparece como favorito, seguido pelo conservador Jorge “Tuto” Quiroga. Do outro lado, a fragmentação do Movimento ao Socialismo (MAS), partido que protagonizou o ciclo popular iniciado por Evo Morales, ameaça dissolver uma das experiências mais marcantes da chamada “maré rosa” latino-americana.

O ex-líder cocaleiro e atual presidente do Senado, Andrónico Rodríguez, despencou nas pesquisas, enquanto o candidato oficial do MAS, Eduardo Del Castillo, indicado por Luis Arce, não passa de 2% das intenções de voto.

Impedido de concorrer por ter cumprido três mandatos, Evo Morales radicalizou sua posição ao defender voto nulo e acusar antigos aliados de traição, ao mesmo tempo em que responde a um processo judicial marcado por denúncias de perseguição política.

A postura do ex-presidente isolou parte das bases e transformou a disputa em um campo minado para a esquerda. Em junho, a tensão explodiu em bloqueios de rodovias organizados por setores leais a Evo, que paralisaram o país e deixaram quatro mortos.

Enquanto a direita avança com propostas neoliberais e discurso empresarial, a crise interna no MAS abriu espaço para um risco concreto: a reversão de conquistas históricas da Constituição de 2009, que consagrou a plurinacionalidade e os direitos dos povos indígenas.

A Bolívia, que há 19 anos é governada por forças progressistas – com exceção do período do golpe que levou Jeanine Áñez ao poder em 2019 – pode voltar ao receituário que aprofundou desigualdades nos anos 1990.

Segundo o jornal El Deber, tanto Medina quanto Quiroga têm cerca de 47% das intenções de voto. Se a tendência se confirmar, a Bolívia viverá um segundo turno pela primeira vez desde a ascensão do MAS. A regra exige 50% mais um dos votos, ou 40% com dez pontos de vantagem sobre o segundo colocado para liquidar no primeiro turno.

A ofensiva da direita ocorre em meio a uma crise econômica agravada pela queda nas exportações de gás e pela desindustrialização, problemas que desgastaram o governo de Luis Arce. Sua decisão de não disputar a reeleição deixou um vácuo político ocupado por candidaturas frágeis e movimentos de dissidência. A retirada de Eva Copa, prefeita de El Alto e ex-dirigente do MAS, ilustra o enfraquecimento de uma frente que já foi hegemônica.

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