Começo esse texto com um trecho da música Identidade, do poeta Jorge Aragão, que foi escrita para a comunidade negra, falando de se reconhecer em cada lugar, mas o elevador social deixou de ser representação de liberdade, de inclusão, para se tornar espaço de opressão, agressão e tentativa de feminicídios.
É o que temos acompanhado nos últimos dias, com dois casos gritantes de violência contra a mulher. Em Natal (RN), uma mulher foi espancada com 61 socos por Igor Eduardo Pereira Cabral – aqui vamos dar nomes aos bois – em um elevador, e passou por sete cirurgias para a reconstrução de face.
Agora, vem à tona outro vídeo de um “empresário”, Cleber Lúcio Borges, que também espancou outra mulher, em um elevador, desta vez no Distrito Federal, em Brasília, com socos e cotoveladas. A vítima passou cinco dias internada e teve fraturas no no rosto e edemas pelo corpo.
Mas essas agressões são reflexo de uma sociedade que vitimiza mulheres o tempo todo e quem corrobora com isso é o Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Ao todo, o Brasil registrou 1.492 feminicídios no ano de 2024, um recorde histórico desde 2015, início da série histórica.
E as maiores vítimas ainda são mulheres negras (63,6%), com idades entre 18 e 44 anos (70,5%), e a maioria dos casos (64,3%) ocorre dentro de casa. Em 80% dos casos o agressor é o companheiro ou ex-companheiro da vítima. Falando em números assim parece frio, mas e os filhos dessas mulheres assassinadas?
Além disso, onde estão os outros homens, que se calam diante dessas violências? Acho incompreensível a quantidade de homens que não se movimentam, que não lutam pelas causas das mulheres, essas que eles dizem que amam. E não vou usar o argumento “e se fosse com sua mãe?” ou “e se fosse com sua irmã?”. O posicionamento vai muito além da proximidade familiar, é uma questão de humanidade.
Enquanto os homens não menstruarem, sempre haverá pobreza menstrual; enquanto os homens não gestarem, sempre haverá questionamento sobre o aborto. E esse texto é sobre a falta de posicionamento de homens com voz ativa para outros temas, mas se calam quando o tema não interessa diretamente a eles. O silêncio deles grita nos ouvidos das vítimas!
Enquanto isso, o elevador continua sendo um templo – de violência – contra as mulheres.
*Alessandra Costa é jornalista.
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.
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