Putin e Trump planejam encontro em meio a tarifaços e ameaças ao Brics

O presidente dos EUA, Donald Trump, ameaça aplicar tarifas severas contra a Rússia e seus países parceiros se Moscou não demonstrar avanços de paz na guerra da Ucrânia até o fim desta semana. Contraditoriamente, na próxima semana deve ser realizada uma reunião entre Vladimir Putin e Donald Trump, sinalizando que avanços diplomáticos contrastam com as permanentes ameaças estadunidenses aos países do Brics. 

Ainda não há dia, hora, nem lugar, para a realização da aguardada reunião entre o presidente dos EUA e o chefe de Estado russo, mas a possibilidade do encontro acontecer na semana que cria uma enorme expectativa no cenário internacional. Será o primeiro encontro entre Putin e um presidente dos EUA desde junho de 2021.

O avanço nesta agenda aconteceu após a visita a Moscou do enviado especial de Donald Trump, Steve Witkoff, que se reuniu com Vladimir Putin, na última quarta-feira, dia 6. Após o encontro, o presidente dos EUA disse que houve um “grande progresso” no diálogo entre Moscou e Washington.

De acordo com um dos principais negociadores russos com os EUA, o chefe do Fundo de Investimento Direto da Rússia, Kirill Dmitriev, este encontro pode ter um papel histórico, mas levantou suspeitas de sabotagem.

“Muitos oponentes da Rússia estão tentando interromper esse diálogo, interferir nele e desinformar a liderança americana sobre vários fatos. A Rússia está aberta, sem dúvida, a um diálogo construtivo com os EUA. E, certamente, a cúpula entre a liderança da Rússia e dos EUA, que esperamos que esteja planejada para a próxima semana, pode se tornar um evento histórico importante, um evento no qual a posição da Rússia será claramente comunicada ao presidente Trump”, afirmou.

O anúncio da acontece em meio ao fim do prazo do ultimato dos EUA a Moscou para avançar na resolução da guerra da Ucrânia. No último dia 29 de julho, Trump ameaçou aplicar “tarifas severas” de 100% contra produtos russos se em 10 a 12 dias a Rússia não demonstrar avanços de paz na guerra da Ucrânia. Ou seja, a partir desta sexta-feira, dia 8.

No entanto, apesar dos avanços diplomáticos entre Moscou e Washington, é improvável que haja alguma resolução concreta sobre a guerra da Ucrânia, pelo menos não nos termos que Donald Trump vem colocando. É o que afirma o cientista político Ivan Mzyukho.

Em entrevista ao Brasil de Fato, o analista aponta que “um cessar-fogo ou um fim do conflito não acontecerá nesse prazo”, pois desde o começo “foram colocadas condições impossíveis”.

“Trump queria que a Rússia fosse dirigida pela agenda norte-americana em relação à crise na Ucrânia, mas isso é uma representação muito ingênua da política internacional, sobre a força do Estado russo e sobre o que acontece no solo do conflito, e, no solo, a Rússia não está perdendo este conflito, a iniciativa no campo de batalha está do lado das Forças Armadas da Rússia”, afirma.

Ao mesmo tempo, a relação entre EUA e Rússia vinha passando por uma fase de maior estremecimento com Donald Trump adotando novas sanções contra o petróleo russo. A particularidade das ameaças mais recentes é que elas não são ligadas somente à Rússia, mas a quem compra os recursos energéticos russos, gerando um alerta inclusive para o Brasil, que tem a Rússia como um importante fornecedor de combustíveis e fertilizantes.

Esta ameaça já foi levada a cabo em relação à Índia. Na última quarta-feira, dia 7, o presidente dos EUA anunciou a adoção de tarifas de 25% contra o país asiático em retaliação ao seu comércio com a Rússia.

O cientista político Ivan Mezyukho, por sua vez, coloca em xeque a eficácia das ameaças tarifárias de Trump. Segundo ele, mesmo se a Índia quisesse parar de comprar petróleo da Rússia, “ela precisaria meses ou anos para reconstruir suas fábricas de processamento de petróleo russo, para algum outro petróleo”. “Ou seja, Trump, simplesmente, com o seu usual jeito rude, pretende pressionar todo o planeta e restaurar a hegemonia dos EUA. Isso não está dando muito certo”, acrescenta.

Ataque ao Brics pode ter efeito reverso

O que chama atenção nas movimentações dos EUA nos últimos tempos é que elas vão além da mera retaliação à Rússia por conta da guerra da Ucrânia. As ações e discursos de Donald Trump têm mirado cada vez mais nos países do grupo Brics.

Para Ivan Mezyukho, isto está ligado a uma tentativa de restaurar uma hegemonia dos EUA no mundo, em oposição a um sistema internacional multilateral, defendido pelo grupo dos países emergentes. Nesse sentido, para o analista, Washington pode alcançar o efeito contrário, fortalecendo a união de países do Sul Global. De acordo com o cientista político, nesse processo Trump faz tudo para aproximar as posições entre Índia e China, entre o Brasil e a Rússia.

No que concerne à posição brasileira, essa reorientação na política externa mais voltada para o Brics como mecanismo de defesa aos ataques dos EUA já foi explicitada pelo assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Celso Amorim. Em recente entrevista ao jornal Financial Times, o diplomata afirmou que o Brasil quer “ter relações diversificadas, e não depender de nenhum país”. Para isso, em meio às investidas de Trump, o país irá redobrar o seu compromisso com os Brics.

Na última quarta-feira (6), o presidente Lula afirmou que planeja entrar em contato com líderes do Brics para debater uma resposta conjunta às tarifas do presidente dos EUA. De acordo com o líder brasileiro, a ideia é construir uma posição unificada entre os países do grupo Brics diante de uma “ação abusiva” de Donald Trump.

A mesma posição já está consolidada entre as autoridades russas. Ao comentar a iniciativa de Lula, o senador e presidente da Comissão de Mídia do Senado russo, Aleksey Pushkov, disse na última quinta-feira (7) que as guerras comerciais poderiam se tornar um fator de união dos Estados do bloco.

Segundo ele, se uma resposta conjunta for desenvolvida, “esta será uma nova reviravolta na dinâmica do conflito oculto entre os Brics e os EUA”. “Esse conflito se tornará público. Nesse caso, as guerras tarifárias de Trump terão o efeito oposto — elas se tornarão um fator não de desunião, mas de unidade entre os países do Brics”, escreveu Pushkov em seu canal no Telegram.

O cientista político Ivan Mezyukho concorda com essa linha, destacando que “a pressão de sanções de Trump contra o Brasil, a Rússia, a China, Índia, é uma tentativa de Washington de voltar a uma situação de hegemonia quando apenas os americanos dirigiam todo o mundo”. “Agora, Trump faz tudo para que países do Sul Global – que têm entre si contradições e posições ideológicas diferentes – se unam cada vez mais para se defender de uma nova política colonial dos EUA”, completa.

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