EUA enviam tropas para sul do Caribe em nova ameaça à Venezuela

O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, confirmou nesta quinta-feira (14) que está enviando tropas para o sul do mar do Caribe para realizar operações militares na região. Ele disse que o objetivo é prender traficantes latino-americanos e relacionou um desses grupos ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. 

O estadunidense reforçou, sem apresentar provas, a narrativa da Casa Branca de que Maduro é chefe do Cartel dos Sóis, uma suposta organização criminosa. Em 25 de julho, o Departamento de Estado dos EUA classificou o grupo como uma organização terrorista internacional. 

Agora, Rubio subiu o tom e afirmou que está enviando tropas aéreas e navais para controlar cartéis que levam “veneno” para os EUA. Ele afirmou que o tráfico de drogas é uma ameaça à segurança estadunidense e novamente chamou o governo de Maduro de “organização criminosa”.

“São grupos que atuam nas águas internacionais. Muitos países cooperam conosco. Alguns desses grupos levam veneno aos EUA e eles serão confrontados. O Cartel dos Sóis é uma organização criminosa das mais complexas que existem. O regime de Maduro não é um governo, é uma organização criminosa. Eles tomaram o controle do território de um país e estão ameaçando os EUA e os países vizinhos”, afirmou em declaração.

O secretário de Estado não deu detalhes da operação, mas disse que a meta é interceptar esse fluxo de drogas na região. 

Militares venezuelanos ouvidos pelo Brasil de Fato não acreditam que os Estados Unidos possam fazer um ataque militar contra o país. Setores das Forças Armadas afirmam não descartar nenhuma possibilidade de maneira definitiva, mas entendem que o envio de aviões e navios é mais uma ameaça e demonstração de força da Casa Branca. 

A decisão vem na esteira de uma reportagem publicada na semana passada pelo New York Times. A publicação afirmava que Trump havia assinado uma ordem executiva secreta orientando que o Pentágono começasse a usar “força militar” contra alguns cartéis de drogas latino-americanos considerados terroristas. A ordem autoriza que sejam realizadas operações militares diretas no mar e em outros países.

O chefe do programa de mestrado de História Militar da Universidade Militar Bolivariana de Venezuela, Henry Navas Nieves, reforça essa tese e afirma que os EUA aprenderam com a guerra no Iraque e no Afeganistão, dois conflitos que tiveram um custo político, militar e econômico muito alto para os EUA.

“Desde Obama, se caracterizou um novo modelo de guerra dos EUA contra países em expansão. Eles abandonaram confrontações armadas diretas e aprenderam que foi possível derrubar Muammar Gaddafi na Líbia sem colocar nenhum soldado. E eles aplicam e replicam isso. O uso de forças militares próprias é inconveniente nesses casos e eles usam o assédio e as medidas coercitivas unilaterais”, disse Nieves ao Brasil de Fato.

Os militares venezuelanos entendem que a lógica da Casa Branca parte do estímulo a conflitos e atentados de grupos paramilitares e de extrema direita em território venezuelano. 

Essa semana, o governo venezuelano anunciou ter desmobilizado uma nova tentativa de ataque contra estruturas estratégicas na Venezuela. O ministro do Interior, Diosdado Cabello, disse na terça-feira (12) que as forças de segurança identificaram planos terroristas organizados por setores da extrema direita em conjunto com paramilitares. 

Segundo ele, foram apreendidos explosivos que teriam a capacidade de atingir alvos a uma distância de até 1,2 quilômetro, que seriam usados para atacar hospitais, postos de gasolina e figuras políticas.

Um dos alvos seria a Praça Venezuela, no centro de Caracas. Segundo Cabello, o grupo pretendia explodir o Monumento à Vitória da Grande Guerra Patriótica contra o nazismo, em homenagem à União Soviética, que foi inaugurado no primeiro semestre deste ano. 

Navas afirma que essas novas ameaças militares dos EUA são “inexplicáveis”, porque têm como justificativa uma acusação sem fundamentos, de que Maduro coordena uma organização criminosa.  

“O governo venezuelano na realidade tem dado um duro golpe contra o tráfico de drogas. Essas medidas agressivas também respondem às operações policiais venezuelanas contra a extrema direita. que tentaram organizar ações terroristas em algo que foi denunciado e desarticulado pelas forças de segurança, além das toneladas de explosivos apreendidas”, afirmou. 

Escalada nas ameaças

Desde as eleições municipais de 27 de julho, os EUA aumentaram o volume das declarações contra o governo venezuelanos. Em entrevista à Fox News, a procuradora-geral dos EUA, Pamela Bondi, disse que foram apreendidos mais de US$ 700 milhões em bens de Maduro. Ela disse que seriam “mansões, carros, aviões e joias” confiscadas, mas não apresentou nenhuma prova e não deu indicações de onde estariam esses bens. 

Navas entende que essa escalada de ameaças é fruto de uma profunda crise que os EUA atravessam e que envolve uma disputa entre diferentes alas conservadoras pela influência no poder. Para ele, o grupo de Rubio busca ter essa preponderância até para reconquistar a “simpatia” da sua base de apoio da Florida, onde está concentrada a extrema direita latino-americana que vive nos EUA. 

“Há um mosaico de interesses nos EUA que disputam espaço e buscam controlar a decisão política da Casa Branca. Rubio lidera um deles e ele exerce pressão no governo para empreender uma ofensiva contra a Venezuela em uma tentativa de derrubar o governo. Isso é uma escalada e uma resposta ao avanço do governo de Maduro que teve triunfos significativos nas últimas eleições regionais, legislativas e municipais”, disse.

Na semana passada, os EUA anunciaram o aumento para US$ 50 milhões (cerca de R$ 270 milhões) na recompensa por informações que levem à prisão do presidente Nicolás Maduro. A mensagem foi prontamente respondida pelo governo venezuelano. O ministro das Relações Exteriores, Yván Gil, disse que o anúncio é “uma operação de propaganda política ridícula e uma piada”. 

Outro a se manifestar foi o ministro da Defesa, Vladimir Padrino López. Ele afirmou que isso era “imoral” e reforçou que os grupos criminosos que tinham atuação na Venezuela, como o Trem de Aragua, estão “completamente desmantelados”. 

Maduro também rebateu as acusações e disse que a resposta venezuelana pode ser “o começo do fim do império estadunidense”. Nesta quinta-feira (14), o mandatário chamou o avanço dos EUA de uma “guerra de declarações”. 

Toda essa tensão também repercutiu na extrema direita venezuelana. A ex-deputada ultraliberal María Corina Machado agradeceu nesta quinta ao presidente republicano na “pressão para derrotar essa organização criminosa”.

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