Justiça manda a júri seguranças acusados de torturar e matar catador de latinhas em 2024 no Autódromo de Interlagos


Francisco Alves (à esquerda) é acusado de matar Marcelo Silva (ao centro) com a ajuda de Emerson Brito (à direita). Os dois seguranças vão a júri pelo assassinato do catador de latinhas no Autódromo de Interlagos em 2024
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A Justiça de São Paulo decidiu no mês passado mandar a júri popular dois seguranças acusados de torturar e matar um catador de materiais recicláveis dentro do Autódromo de Interlagos, na Zona Sul, em 8 de novembro de 2024. A data do julgamento ainda não foi marcada.
O supervisor Francisco das Chagas de Sousa Alves e o vigilante Emerson Silva de Brito respondem presos pelo assassinato de Marcelo Edimar da Silva (veja fotos acima). À época do crime, eles trabalhavam na Malbork Serviços de Vigilância e Segurança Ltda., contratada pela Prefeitura de São Paulo após ganhar licitação para atuar dentro do autódromo, que pertence ao município. A empresa continua fazendo a segurança do lugar(saiba mais nesta reportagem).
Em junho de 2025, o empresário Adalberto Amarilio Júnior também foi encontrado morto no autódromo durante um festival de motociclismo. Assim como no ano passado, a Polícia Civil trata esse caso como assassinato. E suspeita que ao menos outros cinco seguranças estejam envolvidos no crime. Os nomes deles e para onde trabalham não foram divulgados (veja abaixo).
Catador morto em 2024
Catador de latinhas foi morto em Interlagos
O Ministério Público (MP) acusa o supervisor Francisco e o vigilante Emerson de amarrarem mãos e pés do catador de latinhas Marcelo, deixarem-no de joelhos e o espancarem até a morte com socos e chutes.
A vítima tinha 26 anos e pulou o muro para entrar no autódromo. A causa da morte foi traumatismo craniano, segundo o laudo pericial. Ele teve hemorragia intracraniana causada pelo trauma na cabeça.
Os dois réus estão presos preventivamente desde que foram detidos em flagrante pela polícia por causa do crime. Eles respondem por homicídio qualificado por usarem recurso que dificultou a defesa da vítima. O caso foi investigado pelo 11º Distrito Policial (DP), Santo Amaro.
Ambos trabalhavam à época para a Malbork Segurança. A empresa havia sido contratada pela prefeitura para proteger o autódromo com profissionais armados e desarmados, segundo documento obtido pelo g1.
A equipe de reportagem entrou em contato com as defesas dos réus para comentarem o assunto.
Por meio de nota, o advogado Rides de Paula Ferreira, que defende Emerson, informou que reafirma “de forma categórica a sua absoluta inocência quanto aos fatos que lhe são imputados, convicto de que a verdade será restabelecida no curso regular do processo”.
Ainda segundo um trecho do comunicado, a defesa informa que “já foi interposto o recurso cabível, dentro do prazo legal, para que instâncias superiores possam reavaliar a decisão, em plena conformidade com as garantias constitucionais e processuais”.
Ainda de acordo com Rides, “a decisão judicial reconhecerá a total improcedência das acusações, reafirmando a presunção de inocência, princípio basilar do Estado Democrático de Direito.”
A defesa de Francisco não se posicionou sobre o caso até a última atualização desta reportagem.
Faca e arma apreendidas
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Os seguranças disseram em suas defesas à polícia que imobilizaram Marcelo depois de serem informados por outros funcionários que o catador estava furtando peças de empresas dentro do autódromo.
Emerson alegou que, além disso, Marcelo estava armado com uma faca de cozinha e o ameaçou. O vigilante falou ainda que deu um tiro na direção dele para se proteger, mas o disparo não o atingiu.
Um revólver calibre 38 e a faca foram apreendidos (veja foto).
Francisco falou que depois entrou em luta corporal com Marcelo, que se feriu com a própria faca. E que junto com Emerson imobilizou o invasor, que estava vivo. E depois chamaram a Guarda Civil Metropolitana (GCM), que chegou ao local e encontrou o catador morto. Eles negaram ter agredido a vítima.
Não havia câmeras de segurança no local. A família de Marcelo só soube da morte dele após dois dias.
O que dizem Malbork e prefeitura
Catador de latinhas pulou portão para entrar no autódromo perto do portão M
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O g1 procurou a Malbork para comentar o assunto, mas não teve retorno até a última atualização desta reportagem.
Questionada, a Prefeitura de São Paulo confirmou que desde 2020 tem contrato com a Malbork para a segurança interna do autódromo.
“A Malbork Serviços de Vigilância e Segurança foi contratada por licitação em 2020 pelo Munícipio para fazer a segurança exclusivamente patrimonial do equipamento público, assim como o controle de acesso nos principais portões, 24 horas por dia”, informa trecho da nota.
Sobre a acusação de que seguranças da Malbork mataram o catador Marcelo, a administração pública informou que “as duas pessoas acusadas de envolvimento no caso mencionado de 2024 estão presas”.
A prefeitura não respondeu se os vigilantes acusados de matar Marcelo continuam vinculados à Malbork.
Empresário morto em 2025
Morte de empresário em Interlagos completa dois meses: o que se sabe e o que falta esclarecer sobre o caso
Nenhum dos seguranças investigados foram responsabilizados ou presos pela polícia por causa da morte de Adalberto Júnior no Autódromo de Interlagos em 2025. Um dos motivos é que ainda não surgiram vídeos do homicídio. Além disso, nenhum dos investigados ou testemunhas deu pistas de quem matou a vítima.
Quando os seguranças foram ouvidos, segundo o Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), eles se mantiveram em silêncio.
Laudo pericial da Polícia Técnico-Científica concluiu que Adalberto teve uma morte violenta por asfixia – ainda não se sabe se causada por esganadura (já que foram encontradas escoriações no pescoço dele) ou compressão torácica (alguém pode ter comprimido o pulmão da vítima com o joelho).
Corpo de empresário foi encontrado em buraco no Autódromo de Interlagos
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A Polícia Civil investiga se seguranças estão envolvidos no homicídio do empresário encontrado orto num buraco no Autódromo de Interlagos, na Zona Sul de São Paulo .
Adalberto desapareceu em 30 de maio após ir a um evento sobre motos. O corpo dele foi encontrado em 3 de junho dentro do buraco de uma obra no local. O espaço tinha 3 metros de profundidade por 70 centímetros de diâmetro. O cadáver foi achado sem calça nem tênis. Para a investigação, ele foi colocado lá por quem o matou.
A principal hipótese apurada é a de que o empresário se envolveu numa briga com seguranças quando atravessava uma área restrita do autódromo.
Câmeras gravaram os últimos momentos de Adalberto caminhando no estacionamento (veja vídeo nesta reportagem). O empresário havia deixado seu carro no local. As imagens não mostram, no entanto, nenhuma briga.
O Departamento de Homicídios aguarda os resultados de outros laudos periciais da Polícia Científica para concluir o inquérito e tentar apontar quem realmente matou Adalberto. Segundo a perícia, alguns celulares apreendidos com os investigados tiveram seus dados apagados.
Adalberto tinha 35 anos, era casado e dono de uma rede de óticas.
Polícia identifica suspeito de ter matado empresário encontrado morto em buraco em SP
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Hipótese é a de que empresário se envolveu em briga quando ia para o estacionamento.
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