Alesp exonera assessor da deputada Carla Morando citado em investigação da PF por receber R$ 390 mil de propina em São Bernardo


A deputada estadual Carla Morando (PSDB), o prefeito afastado de São Bernardo do Campo, Marcelo Lima (Podemos), e o ex-prefeito da cidade Orlando Morando.
Reprodução/Redes Sociais
A Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) exonerou nesta sexta-feira (15) o assessor parlamentar Roque Araújo Neto, alvo de busca e apreensão durante a operação da Polícia Federal que revelou um suposto esquema de corrupção na prefeitura de São Bernardo do Campo,
Araújo Neto prestava serviços de assessor parlamentar no gabinete da deputada estadual Carla Morando (PSDB), cidade governada por oito anos pelo marido da parlamentar, o ex-prefeito Orlando Morando, que atualmente é secretário de Segurança Urbana da capital paulista.
O assessor é citado no relatório da PF como um dos nomes que teria recebido uma quantia de R$ 390 mil do operador do esquema criminoso, Paulo Iran Paulino Costa, que também tinha cargo na Alesp e foi exonerado do gabinete do deputado estadual Rodrigo Moraes (PL).
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Iran é apontado como operador financeiro do esquema, que distribuía o dinheiro entre os agentes públicos e políticos. Segundo os investigadores, na casa dele foram encontradas várias anotações de pessoas que teriam recebido dinheiro oriundo do desvio de verbas investigado no município, além de uma quantia em dinheiro de cerca de R$ 14 milhões.
Em um dos post-its, aparecia o nome de Roque com o valor de “390” ao lado.
“Essa indicação de um valor tão significativo, identificado nominalmente como proveniente de “Roque” dentro de um controle de caixa clandestino, é um forte indício de sua participação ativa na arrecadação e disponibilização de valores no suposto esquema de corrupção”, disseram os federais à Justiça.
Entenda esquema de corrupção que afastou prefeito de São Bernardo do Campo
Por meio de nota, a deputada Carla Morando disse na quinta-feira (14) que foi “surpreendida pelas notícias veiculadas no noticiário nacional sobre São Bernardo do Campo e pela vinculação do senhor Roque Araújo Neto nas investigações”.
Segundo a parlamentar, “assim que tomou conhecimento dos fatos, determinou a exoneração imediata do servidor, que exercia apenas funções de apoio junto à comunidade, sem qualquer atribuição administrativa no gabinete”.
A deputada disse que “confia na apuração da Justiça e, caso seja comprovado o envolvimento, que o responsável seja punido com o rigor da lei”.
De acordo com o portal de Transparência da Alesp, Roque Araújo tinha o salário bruto de R$ 8.292,95 na casa. Ele já tinha sido assessor parlamentar na Câmara Municipal da cidade de São Bernardo.
Perfil de Marcelo Lima
De acordo com a Polícia Federal, o prefeito Marcelo Lima (Podemos) era um dos cabeças do esquema que desviada recursos de contratos municipais junto à empresas que prestavam serviço em São Bernardo. Antes de ser prefeito, Lima foi por seis anos vice-prefeito na gestão de Orlando Morando na cidade.
Afastado do cargo após operação da Polícia Federal sobre esquema de corrupção, o prefeito de São Bernardo do Campo estava há apenas oito meses na liderança política da cidade, mas é velho conhecido dos eleitores do ABC Paulista.
Posse do prefeito Marcelo Lima (Podemos) na Prefeitura de São Bernardo do Campo, em 1° de janeiro de 2025.
Divulgação/Câmara Municipal de SBC
Deputado federal eleito em 2022 com 110.430 votos, ele foi vice do antecessor no cargo, o ex-prefeito Orlando Morando (PSDB), por dois mandatos. Os dois romperam no ano passado depois de uma briga na eleição.
A polícia chegou a requerer a prisão de Lima, mas a Justiça negou o pedido. No entanto, determinou o afastamento dele do cargo e o uso de tornozeleira eletrônica, que iria ser colocada logo após as buscas na casa dele. Ele também está proibido de sair de casa à noite e nos finais de semanas, de ter contato com os demais investigados e de sair da cidade sem autorização judicial.
Primo do presidente da Câmara Municipal, Danilo Lima (Podemos), que também foi alvo da operação da PF nesta quinta-feira (14) – Marcelo Lima tinha experiência política e articulava para ser prefeito.
No entanto, o tucano Orlando Morando insistia na indicação de um parente para a disputa de seu espólio político em São Bernardo, após oito anos na administração da cidade.
Como a esposa de Morando, a deputada estadual Carla Morando (PSDB), não podia ser a indicada por veto da lei eleitoral, Orlando escolheu a sobrinha Flávia Morando para sucedê-lo, para fúria do vice.
O ex-prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando (PSDB), ao lado do seu ex-vice, Marcelo Lima (Podemos), que assumiu a cidade em janeiro deste ano,.
Divulgação/Prefeitura de São Bernardo
Sem experiência alguma na política, Flávia era administradora do supermercado da família na cidade e acabou escolhida pelo tio para disputar a eleição de 2024.
Sem desenvoltura, ela não participou de nenhum debate público com os adversários e viu Marcelo Lima disparar nas intenções de voto no 1° turno, deixando a família Morando para trás, sem nem conseguir avançar para o 2° turno da disputa eleitoral.
No 1° turno, Lima obteve 28,6% dos votos e disputou a 2ª etapa da eleição contra o também deputado federal Alex Manente (Cidadania), que obteve 26,5%.
Flávia Morando ficou em 4º lugar, com 21,3% dos votos na disputa.
Flavia Morando recebeu apoio durante eleições dos tios, o prefeito Orlando Morando e a deputada Carla Morando
Reprodução/Redes sociais
No segundo turno, Orlando Morando voltou a se aproximar do vice e declarou apoio a ele, mas sem assumir cargo na Prefeitura da cidade.
Ao invés disso, o tucano resolveu assumir o cargo de secretário de Segurança Urbana da capital paulista, a convite do prefeito Ricardo Nunes (MDB).
Lima venceu a eleição com 55,73% dos votos válidos, derrotando o candidato Alex Manente (Cidadania).
Resultado do 1º turno em São Bernardo nas eleições 2024:
Marcelo Lima (PODE): 119.593 votos, 28,64% dos votos válidos
Alex Manente (CIDADANIA): 110.791 votos, 26,53% dos votos válidos
Luiz Fernando (PT): 96.426 votos, 23,09% dos votos válidos
Flávia Morando (UNIÃO): 89.276 votos, 21,38% dos votos válidos
Claudio Donizete (PSTU): 1.507 votos, 0,36% dos votos válidos
Estratégia de vitória no 2° turno
Marcelo Lima (Podemos) e Jéssica Cormick (Avante) venceram a eleição de São Bernardo do Campo no ano passado com 55% dos votos válidos.
Reprodução/Instagram
Com poucos partidos na aliança política inicial, a estratégia de Lima para vencer o pleito na cidade foi se aproximar dos eleitores bolsonaristas e conservadores, chamando uma mulher e policial militar para sua chapa.
Alex Manente, seu adversário no 2° turno, era o candidato oficial do bolsonarismo na cidade, enquanto o candidato do PT era o deputado estadual Luiz Fernando, que ficou em 3° lugar na disputa.
A escolhida para vice foi a tenente Jéssica Cormick, que foi convidada a se filiar ao Avante pelo próprio Marcelo Lima. Ela agora assume a cidade, sem ter nenhuma outra experiência política anterior.
Os dois tomaram posse em 1° de janeiro e agora, oito meses depois do início do governo da dupla, Lima foi afastado do cargo acusado de ligações com um esquema de corrupção de empresas que prestam serviço para a prefeitura da cidade.
Segundo a PF, há indícios de corrupção e pagamento de propina em contratos nas áreas de obras, saúde e manutenção.
Prefeito de São Bernardo do Campo é alvo de operação da PF
Os federais afirmam que Marcelo Lima era o líder e principal articulador do esquema. Ele exercia controle e supervisão diretos sobre o fluxo de recursos e a contabilidade informal da quadrilha, segundo o inquérito.
Segundo a investigação, a propina era usada para pagar despesas pessoais do prefeito e de seus familiares, incluindo mensalidades de faculdade da filha, contas de consumo, faturas de cartão de crédito e despesas de viagem.
O operador financeiro do esquema era Paulo Iran Paulino Costa, funcionário da Assembleia Legislativa de SP. A PF diz que Iran era o operador financeiro do esquema e responsável pela “arrecadação e distribuição de valores provenientes de diversas empresas com contratos com a Prefeitura de São Bernardo do Campo e a Fundação ABC”.
O esquema teria ainda participação de Antônio Rene da Silva Chagas, que atualmente era diretor de Departamento na Secretaria de Coordenação Governamental da Prefeitura de São Bernardo do Campo. Ele atuava junto com Paulo Iran na arrecadação da propina junto às empresas.
Procurada, a prefeitura afirmou que irá colaborar com a investigação. “A gestão municipal é a principal interessada para que tudo seja devidamente apurado. Reforçamos que o episódio não afeta os serviços na cidade”, disse a administração municipal.
Em nota, o advogado de Paulo informou que “aguarda acesso aos autos, onde se manifestará”.
O g1 tenta contato com as defesas de Lima, e Antônio Renê, mas não havia obtido retorno até a última atualização desta reportagem.
Por meio de nota, o ex-prefeito Orlando Morando diz que foi surpreendido com a notícia de ver a cidade ocupando o noticiário nacional, mas que “confia plenamente na Justiça para a elucidação dos fatos e para a tomada das decisões que melhor atendam aos interesses da população de São Bernardo”.
Morando disse ainda que sua trajetória na vida pública foi “pautada por retidão, pela ética e pelo absoluto respeito ao dinheiro público”.
Esquema descoberto
Prefeito de São Bernardo do Campo é afastado depois de operação da PF
A investigação começou após a polícia encontrar no mês passado cerca de R$ 14 milhões (considerando uma parte em dólar) com um servidor da Alesp apontado como o operador financeiro do prefeito.
Segundo a PF, há indícios de corrupção e pagamento de propina em contratos com empresas nas áreas de obras, saúde e manutenção. Cerca de R$ 1,9 milhão foi apreendido nesta quinta com alvos diferentes, mas o trabalho de contagem ainda está em andamento.
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Apreensão de R$ 14 milhões
Dinheiro apreendido pela PF nesta quinta-feira (14), em endereços ligados a empresários e servidores que participavam do esquema de corrupção em São Bernardo do Campo (SP).
Montagem/g1/Reprodução/TV Globo
De acordo com a PF, a investigação começou no mês passado a partir da apreensão de quase R$ 13 milhões e US$ 157 mil em espécie – totalizando os cerca de R$ 14 milhões – na posse de um servidor público considerado o operador do esquema e que está foragido – há um mandado de prisão decretado contra ele.
O dinheiro foi encontrado por acaso: a PF estava num prédio no dia 7 de julho para prender outro alvo e abordou o servidor, que se chama Paulo Iran e é auxiliar legislativo da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).
Os policiais e encontraram R$ 583.300,00 no carro dele. Depois, numa sala no mesmo prédio, apreenderam R$ 12.278.920,00 e US$ 156.964,00. A reportagem tenta localizar a defesa dele.
Segundo a polícia, o servidor pagava contas do prefeito, da esposa e da filha dele.
Paulo Iran atuava como assessor do deputado Rodrigo Moares (PL), que informou, em nota, que irá exonerá-lo do cargo.
Dinheiro apreendido pela Polícia Federal com servidor da Alesp no dia 7 de julho
Divulgação/PF
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