
Uma série de incertezas se colocou à mesa desde que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou tarifas sobre produtos importados de mais de 180 países, no início de abril. Em estudo recente, o Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional, da UFMG, divulgou números relativos aos potenciais impactos nos estados brasileiros. O Espírito Santo aparece na quinta posição entre os estados potencialmente perdedores, tendo na liderança o estado de São Paulo. Confira a análise do diretor econômico da Futura, Orlando Caliman.
Por Orlando Caliman*
Nos cálculos dos pesquisadores, considerou-se o quadro do momento, ou seja, com a equalização das tarifas impostas pelos EUA na faixa dos 10% para a maioria dos países – com exceções para certos produtos como automóvel, aço e alumínio. Já nos cálculos específicos para os estados, tomou-se como base as pautas de exportação, o comércio interestadual e as estruturas das cadeias produtivas envolvidas.
O estado do Mato Grosso aparece no topo do ranking dos ganhadores. Isso pela preponderância das atividades do agronegócio, com um ganho estimado de R$ 2 bilhões; seguindo-se Rio Grande do Sul, com R$ 700 milhões; Santa Catarina e Mato Grosso do Sul.
Já no ranking dos potenciais perdedores, do qual faz parte o Espírito Santo, com perda estimada de R$ 170 milhões, tem no topo São Paulo com perda de R$ 1,6 bilhões, e na sequência, Minas Gerais (R$ 500 milhões), Pará (R$ 560 milhões) e Paraná (R$ 260 milhões).
Se de um lado o agronegócio aponta para potenciais ganhos, inclusive com transbordamentos interestados pela via de cadeias produtivas, caso de cereais com soja e milho; de outro, estados, como o Espírito Santo, Minas Gerais, Pará e São Paulo, tenderão a sofrer perdas tendo em vista suas pautas de exportações para os EUA, com as presenças mais acentuadas do aço e do alumínio (Pará).
No caso do Espírito Santo, as preocupações deverão estar centradas no aço e na celulose, que dependem de mercados nos EUA. Mais o aço, pois a ArcelorMittal destina parcela significativa da sua produção para outra sua empresa nos Estados Unidos. A expectativa é de que, da mesma forma que se resolveu o problema no primeiro mandato de Trump, se retorne ao regime de cotas.
No caso do mármore e granito, com exposição de mais de 70% das exportações para os EUA, o problema, a meu ver, não virá pela tarifa adicional, mas sim pela queda no PIB americano e pela inflação em alta – com o último efeito pressionando os orçamentos das famílias.
Quanto ao café, a tarifação uniforme para de 10% para os concorrentes no mercado por parte dos EUA praticamente mantém as condições anteriores. No entanto, a temer, poderemos nos deparar com o efeito renda pelas quedas do PIB global e principalmente do americano. A favorecer o Espírito Santo ainda poderemos contar com a permanência do choque de oferta. Porém, no caso do Conilon, o aumento da área plantado estimada em 25%, no Vietnã, passa a despertar preocupação no longo prazo.
Mas, a guerra tarifária, ao que nos parece, está longe de acabar. E nesse aspecto, cálculos feitos no momento apenas devem ser vistos como exercícios que apontem tendências.
*Orlando Caliman é economista, ex-secretário de Estado do Espírito Santo e diretor econômico da Futura Inteligência