
A fome é um ato de preservação. É um instinto natural e poderoso de sobrevivência de nosso organismo quando sente falta do necessário para viver. “A fome não é somente uma tragédia, mas também uma vergonha para a humanidade, porque continua matando milhões de pessoas no mundo” (Papa Francisco). Por que o mundo de hoje, apesar de tantos filhos e filhas clamarem, gritarem e chorarem de fome, não lhes dá alimento?
O PRIMEIRO direito do ser humano é viver e, para viver, é necessário ter o pão de cada dia. A partilha deve acontecer nos relacionamentos humanos, sociais e eclesiais. Manifesta-se como expressão autêntica da fé e onde acontece, aí está Deus! “Quem tapa os ouvidos ao clamor do pobre, também há de chamar, mas não será ouvido” (Prov 21,13). Sempre podemos fazer mais pelo próximo!
O IMPORTANTE não é somente falar de partilha, mas fazê-la acontecer. Se Jesus batesse à porta de nossa casa, como seria recebido? Aquele que nos procura em busca de alimento e conforto para o seu sofrimento, é o próprio Jesus. Ele nos ensina a abrir as mãos, repartir o pão e se identifica com o pobre: “Tive fome e me destes de comer” (Mt 25,35). A partilha foi um gesto marcante na vida de Jesus e será sempre o distintivo dos cristãos.
O SER HUMANO, contudo, não tem somente fome de comida, mas também, de leis justas que lhes garantam a sobrevivência. Tem fome de cidadania. Quer ser respeitado como cidadão, tendo seus direitos e sua participação garantidos. Tem fome do sentido da vida, porque precisa compreender as razões da própria existência e da história da humanidade. O ser humano “tem fome e sede de Deus” (Sl 41,3).
SE HÁ MUITA fome no mundo, é sinal de que a sociedade ainda não entendeu o valor da partilha. Somente partilhando, teremos um mundo sem miséria e sem fome. O evangelista João nos ensina que a vida cristã leva ao compromisso da partilha: “Quem não ama o próprio irmão que vê, não pode amar Deus que não vê” (1 Jo 4,20). Quando há partilha, os famintos ficam saciados e ainda sobra alimento. É preciso que todos nós tenhamos fé e esperança num mundo melhor!
A PARTILHA cristã, porém, vai além de dar algo material a um necessitado. Podemos partilhar nosso tempo, nossa escuta, uma prece, um sorriso, uma palavra de consolo, uma visita, que valem muito mais que apenas esmolas. Portanto, a partilha para o cristão é, sobretudo, doar-se a exemplo de Jesus, que deu sua vida pela humanidade. Ele mesmo nos ensinou: “Estou no meio de vocês como aquele que serve” (Lc 22,27).
Dom Itamar Vian
Arcebispo Emérito