
Caso Carmen: veja a cronologia do desaparecimento às buscas pelo corpo da jovem
A perícia encontrou manchas de sangue no sapato usado pelo namorado que confessou que a estudante trans foi morta em Ilha Solteira (SP). O corpo de Carmen de Oliveira Alves, de 26 anos, não foi encontrado. A jovem está desaparecida há dois meses, desde o dia 12 de junho.
A investigação aponta que o namorado da vítima, Marcos Yuri Amorim, e o policial militar ambiental da reserva, Roberto Carlos, são os principais acusados do crime. Roberto foi indicado como amante de Yuri em um “triângulo amoroso”.
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Ao g1, o delegado responsável pela investigação, Miguel Rocha, informou com exclusividade que a perícia encontrou vestígios de sangue no sapato do Yuri e em uma lona, o que confirma a versão dada pelos suspeitos de que o corpo foi enrolado no pedaço de tecido, antes de ser descartado.
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A lona também foi encontrada e levada para análise. No sítio de Yuri, apontado pelos acusados como sendo o local do assassinato, a polícia informou que utilizou o luminol para a perícia. Os resultados dos exames não foram emitidos.
🔍 O luminol é um reagente químico utilizado em perícias para detectar a presença de sangue, mesmo em pequenas quantidades ou após limpeza, através da reação de quimioluminescência. Ele emite luz azul em contato com o ferro da hemoglobina, presente no sangue, permitindo que a polícia revele vestígios ocultos em cenas de crime.
Carmen de Oliveira Alves (à esquerda), o namorado Marcos Yuri Amorim (ao centro) e o policial militar Roberto Carlos de Oliveira, suspeitos de crime em Ilha Solteira (SP)
Reprodução/Facebook
Versões contraditórias
Na terça-feira (19), orientado pela advogada, Marcos Yuri prestou um novo depoimento ao delegado no Centro de Detenção Provisória (CDP) de São José do Rio Preto (SP), onde está preso temporariamente. Até então, ele tinha dito que só falaria sobre o caso à Justiça.
À polícia, Marcos Yuri disse que teve uma discussão com Carmen e que ela pegou uma faca e o ameaçou. Diante disso, ele contou que empurrou a jovem, que caiu e bateu a cabeça no chão, ficando inconsciente.
Yuri disse que, sem saber o que fazer, pediu ajuda para Roberto Carlos. O policial militar pegou, então, uma barra de ferro e bateu na cabeça de Carmen. Em seguida, Yuri relatou que Roberto cortou o pescoço da estudante com uma faca.
O namorado ainda confirmou que ajudou a arrastar o corpo de Carmen até um curral, antes do policial militar o esconder. O local onde o cadáver foi descartado não foi informado pelo suspeito.
O policial, no entanto, negou a participação no desaparecimento da estudante trans e afirmou ao delegado que Yuri a assassinou e escondeu o corpo.
Questionado sobre as diferentes versões dadas pelos acusados, o delegado informou que vai ouvir outras testemunhas nos próximos dias e que tem até o dia 6 de setembro para concluir o inquérito policial.
A perícia ainda analisa os ossos queimados encontrados no sítio de Yuri e o celular despedaçado, que podem ser de Carmen. Os restos foram localizados pela polícia após Roberto confessar que teriam destruído o telefone dela.
Até o momento, a investigação aponta que Carmen foi assassinada pelo namorado, com a ajuda do policial comparsa, que também é amante dele. A ocorrência, que foi inicialmente tratada como desaparecimento de pessoa, é investigada como feminicídio.
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Arquivo pessoal
Investigação
O delegado responsável pelo inquérito policial afirmou que a investigação apontou as seguintes motivações para o assassinato:
Carmen pressionou Yuri para que assumisse o relacionamento. Apesar de a família da vítima conhecer a relação, ela não era pública;
Carmen descobriu que ele cometia crimes, como furtos, e elaborou um dossiê no computador com provas, que foi deletado posteriormente;
Havia um triângulo amoroso: o policial da reserva preso ajudou Yuri no crime e mantinha uma relação com ele, segundo a polícia.
Assassinato de estudante trans da Unesp: veja a cronologia do desaparecimento às buscas pelo corpo da jovem
Beatriz Santos/Arte g1/TV TEM
Cronologia
Desaparecimento
Conforme a mãe de Carmen relatou à polícia, um dia antes do sumiço, em 11 de junho, por volta das 23h, a jovem saiu de casa com uma bicicleta elétrica de cor preta. A bicicleta dela não foi localizada. Familiares ainda afirmaram que Carmen nunca havia desaparecido antes.
Após o ocorrido, familiares e amigos auxiliaram os policiais nas buscas e fizeram várias manifestações pedindo respostas para o caso. Entre os locais vasculhados estava a região próxima ao rio da cidade, onde o sinal do celular de Carmen foi captado pela última vez.
Também foram feitas buscas em uma área de mata próxima à universidade, onde foram encontradas marcas de pneus compatíveis com os da bicicleta elétrica que ela usava no momento do desaparecimento.
Segundo o boletim de ocorrência, a estudante estava na Universidade Estadual Paulista (Unesp), onde fez uma prova do curso, antes de desaparecer. Ela foi vista pela última vez perto de um ginásio.
Suspeitos localizados e presos
Marcos Yuri Amorim, namorado da vítima (à esquerda) e o policial militar ambiental da reserva, Roberto Carlos de Oliveira (à direita) foram presos em Ilha Solteira (SP)
Arquivo pessoal
Dois dias antes de completar um mês do desaparecimento da jovem, a polícia prendeu os suspeitos. De acordo com o delegado, o envolvimento afetivo e financeiro entre os dois se revelou parte da dinâmica.
Conforme a investigação, o último lugar onde ela esteve foi a casa do namorado, Marcos Yuri, em um assentamento. Os policiais verificaram que Roberto Carlos, por sua vez, atuou como comparsa de Yuri, já que também tinha um relacionamento com ele.
O delegado responsável pela investigação, Miguel Rocha, pediu à Justiça a quebra de sigilo telefônico dos suspeitos e teve acesso a informações que indicam que Carmen não saiu de Ilha Solteira. Imagens de câmera de segurança também mostram que ela entrou na residência do namorado, mas não saiu do local.
No dia 10 de julho, a polícia cumpriu os mandados de prisão temporária contra Marcos Yuri e Roberto Carlos. A partir daí, o delegado deixou de tratar o caso como desaparecimento de pessoa e passou a classificá-lo como feminicídio.
Carmen de Oliveira, estudante transexual, desapareceu após sair da faculdade em Ilha Solteira (SP)
Reprodução/Facebook
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