Importante ponto de cultura e arte na região da Luz, no Centro de São Paulo, o Teatro de Contêiner Mungunzá está sendo alvo de uma ação de reintegração de posse violenta desde a tarde da última terça-feira (19). Segundo relatos de integrantes do teatro, a Prefeitura de São Paulo havia dado um prazo de 15 dias para a desocupação do prédio anexo ao teatro, utilizado como oficina de solda e depósito. No entanto, agentes da Guarda Civil Municipal (GCM) chegaram antes do período previsto e agiram com truculência, retirando pessoas à força do local e utilizando gás de pimenta, como mostram vídeos publicados nas redes sociais. Segundo o diretor do teatro, Lucas Beda, na manhã desta quarta-feira (20), os agentes já retornaram às instalações e seguem retirando os bens do teatro.
Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, o diretor lamentou o episódio e afirmou que a ação da prefeitura é parte de um projeto de “limpeza étnica”. “O prefeito é um inimigo da cultura e basicamente demonstra, pelas suas ações, que também odeia pobre. Nós, como um grupo de teatro formado por pessoas periféricas, além de não termos reconhecimento por sermos artistas, sofremos criminalização por sermos também pobres.”
“Entendemos esse sistema que está sendo implementado aqui, por esse mesmo governo, nesses anos todos. Um processo de limpeza étnica, uma necropolítica que atua aqui na cidade de São Paulo, principalmente no Centro. O teatro também acaba sendo alvo, pois somos a representação das pessoas — e não são todas as pessoas que aparentemente podem estar no Centro da cidade de São Paulo”, aponta o diretor.
Sobre as razões para a ação da Guarda Civil Municipal antes do prazo estabelecido, Beda avalia que a prefeitura age com rapidez para demolir o prédio porque ele está em processo de tombamento. “A prefeitura diz que deseja fazer um projeto de habitação, mas nada foi apresentado até agora. Eles querem derrubar o prédio o mais rápido possível, um patrimônio que está a caminho do tombamento. Então, acho que aceleraram esse processo para que não se torne inviável o que almejam”, diz.
Segundo Beda, a ministra da Cultura, Margareth Menezes, enviou um ofício à prefeitura solicitando a extensão do prazo para desocupação do edifício, mas não obteve resposta. Nas redes sociais, o Ministério da Cultura (MinC) e a Fundação Nacional de Artes (Funarte) publicaram uma nota de repúdio à ação da GCM. “O Ministério da Cultura e a Funarte manifestam veemente repúdio à ação policial empreendida pela Guarda Civil Metropolitana de São Paulo para retirar artistas do Teatro de Contêiner e membros da ONG Tem Sentimento de um prédio anexo ao terreno onde ficava o muro que cercava a Cracolândia, na Luz, região central de São Paulo, na tarde desta terça-feira (19)”, diz a nota.
Fundado em 2016, o Teatro de Contêiner Mungunzá foi planejado e construído pelo núcleo artístico da Cia. Mungunzá de Teatro. É um complexo arquitetônico feito de contêineres marítimos. Além de funcionar como espaço de arte e cultura, desde 2020 o local abriga a sede do Coletivo Tem Sentimento, um projeto que atua na redução de danos e na geração de renda para mulheres cis e trans por meio da costura.
O diretor do teatro afirma que entrou com um pedido para que o prazo de 15 dias, que venceria nesta quinta-feira (21), seja ampliado para 120 dias, de modo que os artistas tenham tempo hábil para retirar seus pertences. Ele disse ainda que estão agindo em conjunto com o Ministério Público e articulando com o MinC uma possível vinda da ministra. “Estamos em busca de um espaço que acolha a programação do Teatro de Contêiner, que está sendo realizada com recursos públicos, o que é mais maluco de se pensar. O próprio município investiu dinheiro para a gente realizar ações e, ao mesmo tempo, está nos despejando. Nossos projetos foram selecionados por serem bons projetos a serem realizados, mas agora parece que nada disso faz sentido: eles simplesmente querem destruir”, pontua.
Para ouvir e assistir
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