Hartung: “O Cais das Artes está no caminho para acabar e será uma âncora da cultura”

O ex-governador Paulo Hartung (Foto: Pedro Permuy)
O ex-governador Paulo Hartung (Foto: Pedro Permuy)

15 anos, mais de R$ 315 milhões depois e com direito até a briga na Justiça, o Cais das Artes terá a primeira etapa entregue em dezembro deste ano, como a Coluna Pedro Permuy, que não é boba nem nada, noticiou com exclusividade em janeiro deste ano.

Para o ex-governador Paulo Hartung (PSD), então chefe do Executivo estadual quando o projeto arquitetado por Paulo Mendes da Rocha foi lançado, em 2010, o complexo que terá mais de 30 mil metros quadrados será “uma âncora da cultura” não só para o Espírito Santo, mas chamariz para turistas do Brasil e do mundo todo, além de poder ser um exemplo nacional.

“Obra pública é algo que é assim. Por exemplo, a primeira empresa que nós contratamos para trabalhar, com currículo excelente no Brasil, ela, no Pará, perdeu o capital de giro e quebrou na execução da obra”, lembra, justificando o período em que os trabalho no Cais ficaram parados, em entrevista a este colunista.

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“Vai chegar a um tempo que o Cais das Artes será uma âncora. Uma âncora na produção cultural local. Vai articular a produção local com a produção nacional e planetária, porque isso é o que a cultura é. E, ao mesmo tempo, vai ancorar amplamente a nossa imagem. Para os brasileiros e para os planetários”, avalia ele, que reuniu autoridades e convidados na noite desta terça-feira (19) na cafeteria da Fucape, em Vitória, para lançar seu novo livro com prefácio de Luciano Huck.

O FIM DO CAIS DAS ARTES

Em bate-papo exclusivo com a Coluna Pedro Permuy, que não dorme no ponto, em janeiro deste ano, o secretário de Estado da Cultura, Fabrício Noronha, confidenciou que o Cais das Artes terá o museu entregue em dezembro deste ano. Na ocasião, empreiteiros começaram a recuperar áreas danificadas e a levantarem serviços que precisariam ser refeitos por conta do desgaste do tempo (muitas estruturas ficaram à exposição do tempo).

“Desde que foram retomadas (as obras), foram feitos levantamentos, ensaios, relatórios
técnicos que subsidiaram as intervenções necessárias para a recuperação do
concreto aparente das estruturas metálicas e dos equipamentos que já haviam sido
instalados. Então, toda a parte de estrutura metálica, os ares condicionados, um monte de coisa que já estava lá, já passou por esse processo (de inventário e recuperação)”, explicou, na ocasião.

Desde então, todas as partes que levavam concreto já haviam sido recuperadas.

 “A recuperação do concreto já foi finalizada e das estruturas metálicas está quase concluída. Com a finalização da recuperação das estruturas metálicas, será possível executar a laje de cobertura do teatro”, lembrou.

Como o próprio secretário já havia adiantado, também em primeira mão ao Folha Vitória, pelo andar da carruagem, o modelo de gestão do Cais deve ser terceirizado, com uma organização ou instituição parceiro com suporte da iniciativa privada.

O CAIS DAS ARTES

As obras do complexo que será o maior aparelho cultural do Espírito Santo foram anunciadas em 2010, mas ficaram paradas desde 2015, quando foram embargadas por uma ação que corria na Justiça. O processo havia sido movido pelo último consórcio que atuou na edificação faraônica.

Desconsiderando novas avaliações que possam revelar que o espaço já construído possa precisar de reformas de recuperação ou manutenção, o complexo só precisava ter finalizada a construção do teatro, museu e praça.

Ao todo, o teatro terá 600 metros quadrados com 1,3 mil lugares e um vão livre de mais de 25 metros de altura até o teto. O museu ocupará um espaço de 2,3 mil metros quadrados com auditório para 225 pessoas, cinco salas de exposição, biblioteca, cantina, recepção e cafeteria. A praça também foi projetada para abrigar cafeterias, livrarias e espaços para espetáculos e exposições ao ar livre. 

Durante todo o período, desde 2010 – quando as obras começaram -, o Cais recebeu investimento inicial de R$ 132 milhões e, depois, outros R$ 183 milhões para a conclusão do projeto de Paulo Mendes da Rocha.

Até agora, a soma já ultrapassa os R$ 315 milhões para os cofres do Estado.

ENTREVISTA COMPLETA: PAULO HARTUNG

COLUNA PEDRO PERMUY: O que é maior? A falta de investimento ou a falta de conscientização (para aparelhos culturais e para o governo) no Espírito Santo?

PAULO HARTUNG: O maior desafio é quando você não tem rumo. Eu trabalhei muito essa frase nos vários governos que liderei: “Não tem vento favorável para o navegador que, mesmo tendo um bom barco, mesmo tendo uma boa vela, não sabe onde está e, muito menos, para onde quer ir”.

Então, assim, um grande desafio é ter planos. Plano de metas, objetivos, gerenciamento de metas modernos. Se você for numa grande empresa, é assim que eles trabalham. Mas uma prefeitura tem que trabalhar assim também. O governo estadual tem que trabalhar assim também. O governo do país tem que trabalhar assim também. Toda vez que a gente vê uma coisa muito no improviso, muito vivendo do que se produziu algum tempo atrás, a gente está na antessala de construir um fracasso.

PP: E você acha que o olhar para a cultura e para o turismo – que sempre foram vertentes menos observadas na política – poderia mudar esse cenário?

PH: Acho que nós temos um potencial de turismo que já se desenvolveu bastante. Vocês, muito jovens, não viram o estado antes. O depoimento do Dr. Carlos Lindenberg, fala disso. Ele foi governador do Estado do Espírito Santo, e ele fala que, até aquele momento, o estado não tinha conseguido desenvolver um polo. Acho que isso andou muito.

Você pega um polo como Santa Teresa hoje, pega um polo como Pedra Azul, são coisas novas que se formaram no Espírito Santo e são importantes. Inclusive, criam a imagem do estado. Você tem praias lindíssimas, de norte a sul do Espírito Santo. Você tem um potencial.

Mas a grande ferramenta para a gente desabrochar culturalmente é o Cais das Artes. Ele foi pensado para isso. Paulo Mendes da Rocha – ele é capixaba, e o Brasil não sabe que ele é capixaba – é o arquiteto que desenvolveu aquela obra ao lado do canal de evolução do porto de Vitória. Ele, que nasceu no Parque Moscoso, construiu esse equipamento.

PP: Por que não foi finalizado esse projeto?

PH: Mas eu acho que está a caminho. Obra pública é algo que é assim. Por exemplo, a primeira empresa que nós contratamos para trabalhar, com currículo excelente no Brasil, ela, no Pará, perdeu o capital de giro e quebrou na execução da obra.

Vai chegar a um tempo que o Cais das Artes será uma âncora. Uma âncora na produção cultural local. Vai articular a produção local com a produção nacional e planetária, porque isso é o que a cultura é. E, ao mesmo tempo, vai ancorar amplamente a nossa imagem. Para os brasileiros e para os planetários.

PP: O fato de o Luciano Huck ter participado do livro me intrigou um pouco. Dentro da dinâmica, a gente sabe que ele já falou algumas vezes sobre temáticas políticas, mas dentro da dinâmica que você quer abordar, qual foi a contribuição dele?

PH: Luciano é um grande apresentador de televisão, talvez hoje ocupando o horário mais importante da televisão aberta brasileira. Mas tem um outro lado que poucas pessoas conhecem do Luciano: um lado de cidadania, militância por boas causas, de interesse em conhecer as coisas.

Luciano, de tempos em tempos, forma um grupo de trabalho para discutir um tema importante para o Brasil, essa relação vem de muitos anos. Eu ainda estava no governo quando conheci o Luciano pelas mãos de uma outra pessoa muito interessante, que é o Armínio Fraga, que foi presidente do Banco Central. De lá pra cá, nós temos uma relação de colaboração mútua muito grande e muita convergência de ideias.

PP: E ele enxerga o Espírito Santo como um cenário importante nacionalmente?

PH: Ele, como eu e como muita gente no Brasil, enxergamos que precisamos desenvolver muitas atividades em favor dos brasileiros, né? Se a gente olhasse o mundo, fizesse um sobrevoo rápido, e pensasse em 10 países com grande potencial, o Brasil estaria entre os 10. A pergunta que não quer calar é: por que um país com tanto potencial ainda tem uma população que passa por tantas privações? Nós temos uma desigualdade de renda vergonhosa. Melhoramos na educação, mas nossa nota ainda está muito aquém daquilo que precisamos. Fizemos o SUS na Constituinte, o Sistema Único de Saúde, mas houve problemas de gerenciamento e de financiamento no sistema. Então, assim, tem muita coisa para fazer.

Eu acho que as pessoas pensam que só quem está no governo, quem ocupa cargos, pode liderar algo, mas não. A sociedade civil, no mundo inteiro, onde houve crescimento e desenvolvimento, teve papel fundamental: debatendo, tensionando, ajudando os países a andarem para frente. O Luciano é um líder na sociedade civil, com muita presença e carisma. Você anda com o Luciano na rua e é uma comoção enorme! Dentro dessa linha, o texto dele no meu livro é um texto de muito carinho pela minha trajetória, pela minha história.

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