A guerra às drogas e os índices de violência no Rio de Janeiro têm prejudicado alunos de escolas localizadas em regiões que registram de cinco a seis episódios violentos por ano. O estudo O Impacto da Guerra às Drogas na Educação das Crianças das Periferias do Rio de Janeiro mostra que alunos do 5º ano perdem todo o aprendizado em disciplinas como matemática em função da violência no entorno escolar.
Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, nesta quarta-feira (20), o professor do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Ignácio Cano, afirma que a perda de aprendizagem influencia diretamente nas oportunidades de emprego no futuro, colaborando para que os jovens fiquem mais vulneráveis ao recrutamento pelo crime organizado.
“A partir do estudo, o que concluímos é que tiroteios e a guerra às drogas que acontecem nas favelas cariocas trazem muitos prejuízos para a sociedade como um todo. Para os moradores, mas também para as crianças que estudam nesses ambientes, que vão aprender menos, ter menos opções no mercado de trabalho, ganhar menos dinheiro no futuro e, portanto, também vão ficar mais vulneráveis a serem recrutadas pelo crime organizado. É preciso pensar formas alternativas para lidar com a questão das drogas, pois essa guerra é um tiro no pé”, pontua Cano.
A pesquisa envolveu o acompanhamento de dois grupos de escolas: um formado por instituições expostas a tiroteios e com presença de agentes do Estado, e outro por escolas não expostas, mas com as mesmas características socioeconômicas. A análise considerou apenas unidades com composição semelhante de alunos e organização escolar.
“É claro que a guerra às drogas acontece, sobretudo, em territórios periféricos, e esses territórios têm alunos que já partem em desvantagem. Comparando os dois grupos de escolas que, a princípio, só se diferenciavam pelos tiroteios com a presença de policiais, o que a gente encontrou é que a perda de aprendizagem é muito grande. Em termos de português, a perda corresponde a dois terços da aprendizagem esperada em um ano. Em matemática, a perda é total, ou seja, todo o aprendizado esperado em um ano se perde em função dessas operações”, destaca.
Para análise dos episódios de violência, o estudo utilizou informações da plataforma Fogo Cruzado — número de disparos de arma de fogo com participação de agentes de segurança nas proximidades de escolas públicas de ensino fundamental — e registros de operações policiais no entorno escolar reportados por diretores, que preenchem regularmente um aplicativo da Secretaria Municipal de Educação do Rio.
Impactos multilaterais
O professor aponta que, para além do levantamento, os episódios de violência causam prejuízos generalizados. “Outras pesquisas mostram que esses tiroteios nas comunidades causam, por exemplo, hipertensão e depressão. Esse conjunto de estímulos negativos prejudica o aprendizado das crianças, mesmo quando elas conseguem ir à escola e mesmo quando a escola permanece aberta para as aulas.”
Para Cano, alternativas possíveis envolvem políticas públicas de mobilidade e de incentivo à docência em áreas mais violentas. “Teria que haver uma mudança no modelo de segurança pública. Para a educação, também é preciso pensar em políticas públicas. Por exemplo, oferecer opções de transporte escolar para que crianças que moram em áreas conflagradas possam estudar em locais menos violentos. Ou até oferecer incentivos para que os melhores professores trabalhem justamente nessas escolas mais perigosas. Podemos pensar em políticas públicas de dois tipos: na área de segurança pública e na área de educação”, defende.
Para ouvir e assistir
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