O aumento da aprovação do governo Lula (PT), de 43% para 46%, é impulsionado pela reação à tarifa estadunidense aos produtos brasileiros e pela queda do preço dos alimentos, avaliam analistas ouvidos pelo Brasil de Fato. Segundo pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta quarta-feira (20), a gestão petista alcançou o melhor resultado desde janeiro deste ano.
“Esta melhora foi nos segmentos que são a base de apoio mais nuclear do presidente Lula – e da sua figura individualmente, menos até do que o PT. Então foi uma recuperação dessa base que lhe é mais cara”, considera a cientista política Mayra Goulart, do Instituto de Estudos Políticos e Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP/UERJ).
O levantamento registra que o crescimento de 3 pontos percentuais na aprovação do governo petista entre julho e agosto segue uma tendência: em maio, o índice era de 40%. Já o índice dos que desaprovam o governo estava em 57% em maio, baixou para 53% em julho e está, agora, em 51%.
O economista Renato Eliseu Costa, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), aponta que o levantamento do instituto reforça o que outras pesquisas já haviam verificado com relação à avaliação do governo.
“Às vezes essas pesquisas captam muito o cenário daquele momento em específico, e não necessariamente uma tendência. Aqui, como já temos um conjunto de pesquisas que vem mostrando isso, conseguimos visualizar que isso é uma tendência”, afirma.
A avaliação positiva da gestão de Lula cresceu em todas as regiões do país, com destaque para o Nordeste, onde o salto foi de 7 pontos percentuais. Bahia e Pernambuco lideram. Já com o recorte por faixa de renda, nota-se que a aprovação subiu em especial entre aqueles que ganham até dois salários mínimos, aumentando de 46% para 55%, com margem de erro de 4 pontos percentuais.
Goulart destaca que a aprovação foi alavancada não só pelos mais pobres, mas também pelas mulheres. “São grupos que votam muito ligados nas condições materiais, porque estão diretamente afetados pelo preço das coisas, pela capacidade de comprar alimentos. E essa melhora na economia, a meu ver, é o que explica a melhora na popularidade nesses segmentos que são menos suscetíveis à polarização ideológica”, pontua.
A pesquisadora ressalta a queda na inflação dos alimentos, que em julho caiu 0,27%, conforme dados divulgados no último dia 12 de agosto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa redução foi a maior desde agosto de 2024 (-0,44%). Desde então, o grupamento teve nove meses seguidos de alta, antes de cair em junho e julho.
“É um fator muito importante para esse grupo, para quem a dinâmica do valor dos alimentos é percebida, de maneira mais subjetiva, como importante”, ressalta Mayra Goulart. “Nas camadas médias outras demandas são concorrentes, porque a questão alimentar já está garantida”, compara.
Os dados apontam que em março 88% dos entrevistados disseram que o preço dos alimentos tinha subido no mês anterior. Agora, esta percepção reduziu em 22 pontos percentuais, chegando a 60%.
A melhora na qualidade de vida também é apontada por Renato Costa como fator preponderante para o crescimento da avaliação positiva do governo.
“Destaco, por exemplo, o Brasil sair, mais uma vez, do Mapa da Fome, o índice de emprego – que é o menor índice de desemprego da história. São pontos que talvez não sejam sentidos por uma classe média, mas quando a gente olha, por exemplo, para essa pesquisa, para aqueles que recebem até dois salários mínimos, a gente vai ver que teve um salto maior de aprovação do que em outros setores”, reforça.
Perguntados sobre a “expectativa em relação à economia” nos próximos 12 meses, 40% dos entrevistados responderam que acham que vai melhorar. Outros 40% consideram que vai piorar. O empate registra uma melhora do humor em relação ao tema. Um mês atrás, 35% diziam que a economia iria melhorar.
Reação ao tarifaço de Trump
O aumento da percepção positiva acontece a despeito da entrada em vigor da sanção tarifária imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a mercadorias brasileiras e da interpretação de 64% dos entrevistados de que a medida vai aumentar o preço dos alimentos no país.
Questionados sobre “Qual lado está fazendo o que é mais certo nesse embate”, 48% responderam que “Lula e o PT”. Outros 28% disseram que “Bolsonaro e seus aliados”. Outros 15% avaliaram que nenhum.
A reação aos ataques dos EUA, para Renato Eliseu Costa, também é um ponto que ajudou a impulsionar o índice de aprovação do governo. Na avaliação do economista, os esforços de diálogo do Planalto foram percebidos pela população que, por outro lado, também enxergou os interesses políticos e pessoais na atuação de Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
“A população viu esse elemento do patriotismo, da soberania nacional [na atuação do governo]. Mas, mais do que isso, quando essa pergunta é feita: ‘por que Eduardo Bolsonaro atua?’, 70% da população acredita que ele atua em interesse próprio. Então, mesmo entre aqueles que na mesma pesquisa não se declaram partidários de nenhum lado, veem que a família Bolsonaro prejudicou o Brasil em nome de interesses próprios”, assinala.
A pesquisa Genial/Quaest foi realizada entre os dias 13 e 17 de agosto, com margem de erro específica para cada estrato pesquisado, com variação 2 a 8 pontos percentuais para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%.
O post Queda no preço dos alimentos e reação ao tarifaço de Trump impulsionam aprovação do governo Lula apareceu primeiro em Brasil de Fato.