Petro diz que ataque contra Venezuela seria ‘nova Síria’ promovida pelos EUA

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, mais uma vez saiu em defesa da Venezuela, que vem sofrendo com ameaças estadunidenses de uma possível operação militar. Em declaração no conselho de ministros nesta terça-feira (20), ele afirmou que um ataque contra o vizinho seria uma repetição do que os Estados Unidos fizeram na Síria, mas com uma diferença: atrairiam os colombianos para a guerra. 

“Os EUA estão perdidos se pensam que, invadindo a Venezuela, resolverão seu problema. Eles vão arrastar a Venezuela para a mesma situação da Síria, só que com o problema adicional de arrastar a Colômbia para ela”, declarou Petro.

A atuação dos EUA na Síria começou em 2014, com operações militares para derrotar o Estado Islâmico na região. As operações foram ampliadas com o passar do tempo e, no ano passado, a Casa Branca foi um dos principais apoiadores da ofensiva que derrubou o governo de Bashar al-Assad.

O mandatário colombiano disse que essa invasão abriria espaço para uma atuação ainda mais forte dos grupos criminosos que atuam na fronteira entre os dois países. De acordo com ele, os traficantes aproveitariam para expandir sua rede de atuação para a exploração de recursos naturais. 

“Esses grupos podem se aproveitar para se apoderar das riquezas do subsolo, dos minerais, e isso significa mais economia para a morte, não para a vida. Então eu disse a Trump, por meio de seus emissários, que esse seria o pior erro”, afirmou.

Venezuela e Colômbia têm uma fronteira terrestre de 2.219 quilômetros e uma ligação histórica. De acordo com o Ministério de Relações Exteriores da Colômbia, 2.839.150 venezuelanos viviam no país em março deste ano. Já o número de colombianos na Venezuela não é apresentado pelo governo venezuelano, mas a Associação de Colombianos e Colombianas na Venezuela estima que sejam mais de 4 milhões.

As declarações de Petro vêm na esteira do envio de três navios militares estadunidenses para a costa da Venezuela. A porta-voz do governo de Donald Trump, Karoline Leavitt, afirmou que os Estados Unidos usarão “toda a força” contra o país caribenho. A Casa Branca disse que o objetivo era realizar operações militares na região para prender traficantes latino-americanos. O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, relacionou um desses grupos a Maduro. 

Rubio reforçou, sem apresentar provas, a narrativa da Casa Branca de que Maduro é chefe do Cartel dos Sóis, uma suposta organização criminosa. Em 25 de julho, o Departamento de Estado dos EUA classificou o grupo como um grupo terrorista internacional. O secretário de Estado dos EUA afirmou que o tráfico de drogas é uma ameaça à segurança estadunidense e novamente chamou o governo de Maduro de “organização criminosa”.

O colombiano já havia se colocado a favor da Venezuela em relação às ameaças dos EUA. Na semana passada, Petro disse que uma operação militar contra a Venezuela sem a aprovação de “países irmãos” seria uma agressão à América Latina e ao Caribe.

Os navios estadunidenses devem chegar à costa da Venezuela nesta quarta-feira (20). Junto com eles, cerca de 4 mil soldados atuariam na região para combater o tráfico de drogas. 

Resposta de Caracas

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, respondeu a esse movimento. Em nota, o Ministério das Relações Exteriores disse que a atitude “desesperada” de Washington é reflexo do “fracasso das políticas na região”.

“A Venezuela vê claramente o desespero do governo estadunidense, que recorre a ameaças e difamações contra o nosso país. As acusações de Washington contra a Venezuela por tráfico de drogas revelam sua falta de credibilidade e o fracasso de suas políticas na região. Enquanto Washington ameaça, a Venezuela avança firmemente em paz e soberania, demonstrando que a verdadeira eficácia contra o crime se alcança respeitando a independência dos povos”, diz o texto.

Ainda de acordo com a chancelaria, desde a saída da Agência Antidrogas dos EUA (DEA) da Venezuela, o país conseguiu avançar no combate ao crime organizado e no desmantelamento de redes de tráfico. Ainda de acordo com o governo venezuelano, esse movimento representa uma ameaça para a região.

“Essas ameaças não afetam apenas a Venezuela, mas também ameaçam a paz e a estabilidade de toda a região, incluindo a Zona de Paz declarada pela Celac [Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos], um espaço que promove a soberania e a cooperação entre os povos latino-americanos. Toda declaração agressiva confirma a incapacidade do imperialismo de subjugar um povo livre e soberano”, disse Caracas.

A resposta não se deu só em um comunicado. O governo pediu a mobilização de 4,5 milhões de milicianos do país para defender dos ataques estrangeiros. A milícia bolivariana (brigadas populares) é uma organização formada em 2009 composta por civis e militares aposentados voluntários em seus quadros. Eles recebem treinamento para defesa pessoal e fiscalização do território em seus diferentes contextos (urbano e rural). A milícia passou a compor uma das cinco Forças Armadas da Venezuela, que tem uma estrutura diferente do Brasil.

O ministro do Interior, Diosdado Cabello, também afirmou que a Marinha venezuelana estaria destacada na costa do país. 

Ameaças aumentam o volume

A escalada das ameaças estadunidenses começou ainda durante as eleições municipais venezuelanas de 27 de julho. Na ocasião, o vice-presidente de Defesa e Soberania da Venezuela, Vladimir Padrino López, disse que as Forças Armadas venezuelanas identificaram o voo de uma aeronave de inteligência RC-135 da Força Aérea dos EUA “orbitando aproximadamente 80 milhas ao norte da Venezuela”.

Na semana passada, os EUA anunciaram o aumento para US$ 50 milhões (cerca de R$ 270 milhões) na recompensa por informações que levem à prisão do presidente Nicolás Maduro. A mensagem foi prontamente respondida pelo governo venezuelano. O ministro das Relações Exteriores, Yván Gil, disse que o anúncio é “uma operação de propaganda política ridícula e uma piada”.

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