Chupetas para adultos? Especialistas explicam a relação da nova moda com a saúde mental

chupetas para adultos
Imagem gerada por IA (Chat GPT/Reprodução)

Um novo método para aliviar o estresse tem viralizado nas redes sociais e tem causado estranhamento: as chupetas para adultos. O objeto, normalmente associado à infância, tem se popularizado pelo mundo, principalmente na Coreia do Sul e na China.

Os adeptos afirmam que o uso da chupeta ajuda a aliviar a ansiedade, melhorar o sono, reduzir hábitos como fumar, comer compulsivamente e até ranger os dentes.

Mas será que existem benefícios reais nessa prática? Especialistas explicam como este hábito, aparentemente inofensivo, pode estar relacionado à saúde mental.

Infantilização dos adultos

Segundo a psiquiatra Karen de Vasconcelos, recorrer a objetos ligados à infância não é novidade, sobretudo em momentos de muito estresse ou pressão.

A chupeta, assim como o cobertor ou o travesseiro de estimação, remete a uma fase em que o indivíduo se sentia protegido e acolhido. Em momentos de ansiedade ou estresse, alguns adultos podem resgatar esses símbolos como forma de conforto emocional.

Karen de Vasconcelos, psiquiatra, professora e atua na área de pesquisa do Unesc

Ao contrário da adultização de crianças, tema que tem sido debatido dentro e fora das redes sociais nas últimas semanas, o uso de chupetas pode indicar uma infantilização dos adultos.

De acordo com a especialista, a prática pode ser interpretada como uma regressão psicológica. Ela se torna um mecanismo inconsciente em que a pessoa retorna a comportamentos infantis diante de pressões que não consegue enfrentar de forma madura.

“Não significa necessariamente um transtorno mental. Mas, quando o uso se torna frequente ou passa a interferir nas relações sociais, pode indicar dificuldades de regulação emocional que merecem atenção clínica”, avalia Karen de Vasconcelos.

As respostas para este hábito podem estar mais distantes do que pensamos, entre o nascimento e os 18 meses. Karen explica que durante a fase oral do desenvolvimento psicosexual, descrita por Sigmund Freud, a satisfação é obtida principalmente através da boca, como a amamentação e a sucção.

“Freud argumentava que as experiências nessa fase poderiam influenciar a personalidade e o comportamento do indivíduo na vida adulta, especialmente se não fossem resolvidas adequadamente. O uso da chupeta é uma maneira de lidar com a ansiedade que conecta o indivíduo a um estado mais primitivo de satisfação e segurança.”, destaca.

A médica ressalta que, além da chupeta, existem outras formas comuns de conforto emocional que não nos damos conta no dia a dia. O uso de canudos, o hábito de fumar ou mascar chiclete são exemplos de formas de satisfação oral que aliviam a ansiedade e geram prazer imediato.

Além disso, beber ou comer frequentemente também pode se tornar um mecanismo para lidar com o estresse, imitando o foco oral da infância.

Onde está o problema?

A psicóloga Lívia Flores reforça que o ponto de atenção está no papel que o hábito ocupa na vida do indivíduo.

Quando usado apenas como curiosidade ou tendência, tende a ser passageiro. Mas, se é um recurso frequente para lidar com tensões emocionais, pode indicar vulnerabilidade e a necessidade de buscar estratégias mais saudáveis, como a prática de exercícios, técnicas de relaxamento ou mesmo acompanhamento psicológico.

O adulto que encontra alívio em uma chupeta provavelmente está comunicando uma necessidade emocional não atendida. A questão é oferecer recursos mais consistentes e duradouros para enfrentar essas dificuldades.

Lívia Flores, psicóloga

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