Nos últimos anos, tornou-se comum evitar temas sensíveis. O receio de causar desconforto ou de ser mal interpretado leva muitos ao silêncio, mesmo quando há algo importante a dizer. Essa escolha, apresentada como prudência, esconde uma dificuldade de lidar com ideias que confrontam certezas já estabelecidas. Quando uma sociedade abandona o debate, ela compromete o pensamento e enfraquece a liberdade que deveria ser sustentada.
A lógica dominante no debate público inverteu os papéis do conflito e da convivência. Discordar passou a soar como ataque, e palavras foram transformadas em armadilhas. O medo da desaprovação social molda os discursos e impõe limites também ao que se pensa. O pensamento crítico, nesse ambiente, deixa de ser ferramenta de análise e vira ameaça à estabilidade artificial criada pela aversão ao incômodo.
A busca pela aceitação se sobrepõe à busca pela verdade. Quando a verdade perde espaço, a sociedade perde fôlego. A diversidade de ideias, que deveria alimentar o crescimento da sociedade, dá lugar à repetição segura de opiniões previsíveis. E um ambiente incapaz de enfrentar divergências não consegue responder a desafios reais.
No livro Antifrágil, Nassim Taleb afirma que certas estruturas evoluem quando submetidas ao estresse. Ideias, assim como organismos vivos e sistemas econômicos, precisam da tensão para amadurecer. A proteção excessiva gera fragilidade, o pensamento, para crescer, exige crítica, erro, desconforto. Sem exposição ao contraditório, perde vigor. Evitar o atrito não fortalece a reflexão, apenas enfraquece a capacidade de reagir.
A Liberdade como Base do Progresso
Friedrich Hayek, ao tratar da liberdade como base do progresso, reforça essa compreensão. O conhecimento, disperso entre os indivíduos, só aflora quando o ambiente permite tentativas imperfeitas, hipóteses ousadas, visões em disputa. A tentativa de controlar o conteúdo do debate, mesmo quando guiada por boas intenções morais, bloqueia esse processo. Onde o dissenso não encontra espaço, o conhecimento deixa de circular e, no lugar da descoberta, surge a conformidade.
Ambos os autores, cada um a seu modo, demonstram que a tentativa de evitar o desconforto não protege o indivíduo, ao contrário, fragiliza a capacidade de pensar, decidir e transformar. O confronto de ideias não representa falha na convivência e sim, sua base. É por meio dele que instituições se ajustam, pessoas amadurecem e sociedades progridem.
O Valor da Argumentação e da Verdade
Preservar a liberdade exige disposição para argumentar com seriedade, sustentar posições impopulares e ouvir o que desafia. A conversa difícil não desestabiliza o convívio, mas permite a existência de um espaço comum entre visões distintas. Onde todos evitam o risco, ninguém avança, e onde o consenso paralisa, o pensamento estagna.
O esvaziamento do debate compromete a liberdade em sua forma mais concreta. Quando o medo de ofender se impõe ao compromisso com a verdade, o pensamento se retrai. A cultura se torna mais frágil, e a linguagem perde sua força de transformação. O que se evita hoje por conveniência, amanhã cobra um preço alto em passividade e dependência intelectual. Não há espaço para liberdade onde a contradição é tratada como ameaça, e sem liberdade, resta apenas a aparência do consenso.